Este ano houve três polémicas que não comentei: o caso Carrilho/Bárbara Guimarães, o assédio sexual de Hollywood e o da Raríssimas. Como advogado custa-me julgar alguém sem mais, sem provas e, como pessoa, custa-me fazê-lo com ódio. O que é que isto tem a ver com o meu professor de Educação Física? Tudo. É que julgar custa. É doloroso. E aplicar uma pena, dói mais ainda. Ninguém fica satisfeito por enviar alguém para a prisão, mesmo que se trate do pior dos criminosos. Ora, este ano de 2017 foi um ano de acusações fáceis e julgamentos liminares na praça pública.
Hoje não me pronuncio sobre os três casos que referi em cima, mas sobre as reacções que provocaram nas pessoas. Ouvi gente a acusar Carrilho, a dizer o que lhe apeteceu sobre Bárbara Guimarães, como se conhecesse os meandros de uma história, no mínimo, complexa. A generalização dos casos de assédio sexual, equiparando todos os tipos de comportamentos, desde os mais atrozes aos mais inocentes, além de pôr em risco o uso normal da sedução, cria a suspeição entre todos. Atenção (é importante dizê-lo para que não se inflamem as virgens ofendidas) que não desvalorizo a gravidade do assédio sexual; chamo apenas a atenção para o perigo da generalização pura e simples, baseada em boatos, depoimentos, uns verídicos outros talvez falsos, prática habitual numa conversa de café, mas que se pode tornar numa caça às bruxas dos tempos modernos.
Veja-se o prazer que tantos tiveram com a entrevista do ex-secretário de estado da saúde à TVI sobre a Rarríssimas. Uma vez mais exijo que o leitor perceba que não relativizo as suas responsabilidades, mas saliento a diferença entre considerar alguém culpado e o prazer, a satisfação, que daí advém. Considerar alguém culpado é algo que deve ser feito no nosso íntimo. Não diz respeito a mais ninguém. É a tal história da primeira pedra que não se atira.
Foi esta percepção que o meu professor de Educação Física fez, corrigindo-se de imediato. É esta a distinção que nos distingue da barbárie. E se em 2017 espreitámos o seu perigo, espero que 2018 seja o ano em que fugimos dela. Bom Natal.
Advogado
Escreve à quinta-feira