A minha liberdade foi tornar-me livre nas interpretações

A minha liberdade foi tornar-me livre nas interpretações


Há um momento decisivo na vida de Carminho quando aos 21 anos decidiu viajar pelo mundo para fazer voluntariado. 


O fado vinha do berço. Em idade formativa, aprendeu a dialética do fado e dos músicos mas, apesar de ser uma das fadistas da última década com mais sólida formação e ética inatacável, o fado nunca foi uma camisa de forças. Com os HMB, Pablo Alborán, Tiago Bettencourt ou Tribalistas, soube encontrar elos de consequência com outras linguagens musicais, sem nunca perder a alma que lhe vai na voz. 

Quando a família de Tom Jobim a convidou para reinterpretar o cânone da bossa nova, colocou a si mesma a pergunta: o que acrescentar mais? Aceitou o desafio e superou a prova em álbum, com o suporte de músicos com ligações musicais e familiares ao mestre. No término de uma digressão europeia, Carminho canta Tom Jobim é-o pela primeira em palcos nacionais: dia 30 na Altice Arena e a 2 de dezembro no Multiusos de Guimarães. O fado e outras musas são o pretexto para uma conversa sobre laços de sangue entre vida, poesia e música. 

Se o fado é a verdade de cada um, como é que se canta uma verdade a partir das canções escritas por outra pessoa?

Boa pergunta. Os poetas são isso mesmo. São seres que vêm ao mundo para traduzir o mundo de uma forma mais perfeita. Por isso é que nos encantamos com a poesia, porque ela fala de nós. Às vezes, acreditamos que podíamos ter sido nós a escrevê-la. É mentira porque os poetas são génios da simplicidade. Sintetizam pensamentos, sentimentos ou emoções em poucas palavras para as tornar reais. Independentemente de acreditar que cantar as próprias palavras pode trazer verdade, o intérprete conseguirá interpretá-las como se fossem suas se se identificar com esse poeta. 

Entrar no hemisfério do poeta?

Torná-lo seu. Esquecer que existe esse poeta e imaginar que aquelas são as minhas palavras. Para acreditar que alguma coisa de muito real aconteceu comigo para ter de dizer aquilo. 

Reconheceu-se nas palavras do Tom Jobim?

Claro. Encontrei-me em muitos momentos. Uns mais específicos, outros mais abstratos. Tudo isso ajuda a construir um universo de interpretação. Não tem de ser literal, nem muito realístico. O sentimento tem que ser real mas as situações práticas – no jardim ou na praia – têm uma liberdade poética. Por isso é que aquela história de repente passa a ser minha. 

Em Jobim, essas histórias têm fado?

Têm porque o fado é interpretar com verdade. Não é só isso, mas também tem isso. O fado precisa muito da verdade e da interpretação. A música popular brasileira também vive muito da nostalgia e dos sentimentos para se traduzir em canções. Mais do que a fonética do refrão, palavras mais simples ou orelhudas.O fado não tem essas cedências. É quase um canal direto do coração para as palavras – do lado do intérprete e do ouvinte. Isso também se encontra no Tom Jobim, assim como em outros compositores como Chico Buarque e Vinicius de Moraes que escrevem sobre aquilo que sentem. (pausa) Não sei, se calhar apagávamos isto tudo porque eu só ando a tentar. Não é fácil uma pessoa definir-se por inteiro. 

Quando se passa pelas palavras, depois vem a bonança?

Sem dúvida. Construir a interpretação é duro, em alguns casos. Há canções que já são tuas quando o poeta consegue descrever a tua vida, a mulher, os filhos, a mãe e os amigos. É tão real que dá imensas pistas de interpretação. A procura das melodias e dos poemas é que é trabalhosa e delicada. Também há a densidade das harmonias e melodias do Tom Jobin que, apesar de serem canções aparentemente simples, são complexas. E há o meu sotaque português em que não é habitual ouvir essas canções. É muito natural ouvir outra pessoa a cantá-las mas, de repente, era eu. Já exige mais de mim do que ser uma ouvinte mas a partir do momento em que descobri o caminho para contar aquela história da forma mais natural e verdadeira, o medo desapareceu. Aquela canção já é minha e vou cantá-la a outra pessoa. Há uma libertação final e uma grande alegria, mesmo na dor, por ter descoberto a chave para aquele sentimento.

O convite da família de Tom Jobim era irrecusável?

Primeiro, pensei que pudesse ser só o entusiasmo. Um «uau, porque não?». Até ter conhecido o Paulo Jobim [filho de Tom Jobim], tinha a hipótese de recusar. Não recusá-los a eles mas recusar uma ideia que não tinha a certeza se valia a pena. [Este repertório] Já tinha sido tantas vezes interpretado por cantores e intérpretes inacreditáveis de forma tão maravilhosa – até o próprio Sinatra chegou a fazê-lo. O que é que podia dar ao mundo? Essa dúvida surgiu e é legítima. Apesar de a proposta ser tentadora. Depois, conheci o Paulo Jobim e ele disse-me: «Agora vais escolher as canções para o disco. Tens aqui 400». O que me deu segurança foi esta banda que inclui o Paulinho, o Jaques Morelenbaum, o Paulo Braga e o Daniel Jobim. Eles fizeram parte da Banda Nova formada em 1984 – o ano do meu nascimento – que acompanhou o Jobim até ao ano da morte. O Daniel nasceu no mesmo ano que eu mas esteve sempre lá. Há inúmeras fotos dele com o avô e durante os ensaios. Sente-se que cresceu a ouvi-lo e que sabe mais que os outros todos juntos porque é inato. Vem de criança. A banda era o meu grande trunfo para conseguir ser eu própria. Até que ponto podia dar de mim numa linguagem que não é a minha? Precisava de a respeitar. Também é isso que exijo com o fado. E esses passos que se dão com o fado também têm de ser delicados e respeitosos. Essa margem de operação teve de ser medida de acordo com o coeficiente de generosidade da parte deles. Quando vou para estúdio, já levava vários encontros com o Paulinho de trabalho transatlântico. O Chico Buarque também me ajudou nas escolhas. Em 400, tive que arranjar critérios mediante identificação com os poemas e a língua que me encaminhasse para uma verdade interpretativa. Às tantas, o Caetano Veloso disse-me: «andaste a fugir do português do Brasil». Não, andei ao encontro do português de Portugal. Não fugi, andei à procura. Os brasileiros têm dificuldade em entender a diferença entre o você e tu. Acham lindo quando cantamos com o «você». Nós portugueses sabemos que aquilo não é muito natural, sobretudo quando estamos a falar de um grande amor. É estranho, impessoal. Não trato um amor por você, trato por tu, porque é mais direto. Colocaram-se esses desafios ‘bilinguísticos’ que acho maravilhosos. Trazem controvérsia. Foi bonita e generosa a preocupação do Caetano com a língua porque ele é um defensor da língua e da liberdade. A minha liberdade foi tornar-me livre nas interpretações. Descobrir que todos lutamos por qualquer coisa profunda dentro de nós e a defendemos. Tive que ser fiel à minha génese e eles deram-me essa liberdade para escolher as 14 canções porque só eu podia cantá-las. O Paulinho dizia-me: «O meu pai era um corajoso. Era um aventureiro. Os puristas é que agora dizem que ele só pode ser cantado de uma forma». Eu morria de medo cada vez que saía da cabine. «Exagerei? Fui muito espontânea? Mudei muita coisa?». E eles diziam-me para ficar tranquila. Havia essa segurança de que não iria desvirtuar, não por falta de respeito mas por falta de conhecimento, porque, por mais que conheça as canções e me entregue, é difícil conhecer a origem de cada melodia. É um imaginário muito complexo mas estavam lá eles para me guiar e para me darem força quando sugeria algo diferente. Com essa generosidade, eles deixaram-me ser eu própria. O disco é nosso e obviamente do Tom Jobim. É para ele.

Uma dedicatória?
Uma dedicatória (sorri).

A bossa nova é mais leve que o fado?

Não posso responder porque os brasileiros são muito profundos. Talvez eles se revistam de uma alegria e de um otimismo que nós não temos. É uma questão formal. Quase que diria os brasileiros cantam a tristeza em tom maior e os portugueses a alegria em tom menor. E é literal porque há canções que parecem muito animadas e o texto é tristíssimo e doloroso. [Cita a letra de «Triste» de Tom Jobim antes de cantar o primeiro verso] «Triste é viver na solidão/na dor cruel de uma paixão». Parece uma canção alegre de alguém a passear no parque ou de um pássaro pousado na janela mas não. Eles são muito nostálgicos e profundos na descrição de tristeza. Antes da bossa nova, há um período muito dedicado à dor amorosa e visceral que vinha com o Cartola, o Nelson Cavaquinho e o Noel Rosa que são compositores muito parecidos com os poetas populares do fado. 

Uma fadista poder cantar a bossa nova quer dizer que o fado perdeu de vez as barreiras que ainda poderiam resistir?

Não, porque eu não estou a cantar fado. Venho é do fado. Ali, estou a cantar música brasileira. A questão aqui é que eu venho do fado. É impossível não trazer comigo a minha linguagem maternal. O fado ensinou-me a ler, não só poesia, mas o mundo. A ouvir a música que o mundo tem. A ler as pessoas, as histórias, as personagens. Só percebo isso agora mas é uma educação. É natural que ao interpretar Tom Jobim venha comigo a minha história, mesmo que inconscientemente. Como se trata de música, é natural que essa seja a forma de cantar, e que se estende a outros áreas porque gosto muito de música e tive o privilégio de viajar. Não só geograficamente, como culturalmente. É isso que me alimenta. Isto não é o fado a misturar-se com a bossa. É um intérprete a cantar o compositor. 

Para a carreira da Carminho, este momento é um parêntesis ou mais do que isso?

Começou por ser um parêntesis mas de repente tornou-se a minha própria história. Aquilo que aprendi não se conta. Há um antes e um depois. Trouxe-me coisas que não tinha, realidades que não conhecia, caminhos que não tinha explorado. Fez-me lembrar a volta ao mundo que fiz com 21 anos. Quando saí, levava limites delineados. Achava que não era capaz de tomar conta de uma criança deficiente, fazer a higiene pessoal de um velhinho ou ficar num hostel com mais 30 «macacos». São limites que nos impomos com medo do desconhecido quando não sabemos nada. Nós não sabemos nada. Os nossos limites estão muito aquém das situações. São elas que nos definem. É no momento que percebemos do que somos capazes. Faço um paralelismo com este disco porque achava que não seria capaz de correr certos riscos e, de repente, os limites quebraram-se.

O fado não se define por limites?

Não.

Nem o tradicional?

Têm limites mas são tão ténues que se tornam difíceis de descrever. Só passando muito tempo e muitas horas. É como quando vou a uma casa de fados e estão lá as pessoas de quem gosto (e sabem muito de fado). Quando acontece alguma coisa especial, olhamos uns para os outros. Rimos e sorrimos. Há uma dialética que não se explica por palavras e que quem não conhece, não entende. Uma solidão. Se calhar, encanta-se com outros pormenores que não achamos especial – do virtuosismo do canto.

A partir de agora, há uma Carminho fadista e uma Carminho cantora?

Talvez para o público. Para mim, não é uma novidade porque o fado é uma forma de canto, com imensas regras, mas não é um estilo assim tão definitivo. Tudo se interliga. Quanto mais viajamos e andamos pelo mundo, melhor compreendemos as ligações. E então mais descobrimos sobre nós. Aquilo que mais descobri nessa viagem de um ano foi sobre mim. E vivo todos os dias comigo (ri-se).

Durante anos, os músicos portugueses não conseguiram entrar no mercado brasileiro. Há uma mudança ou os casos da Carminho e do António Zambujo são isolados?

Não sei. Até agora, foi isto que aconteceu. Só posso falar por mim. E pelo António, porque tenho estado perto dele. 
As interpretações de Chico Buarque por António Zambujo e do Tom Jobim pela Carminho saíram com um mês de intervalo. 

Foi uma coincidência. O segredo também é a alma do negócio e de repente, olhamos um para o outro e rimo-nos. «Então pá, o que é isto?». Estamos muito contentes com o trabalho um do outro. Felizmente, não foram os dois de Tom Jobim ou de Chico – mas era possível! É só somar, nada é um problema. O que tem acontecido são encontros pessoais além da própria música. No meu caso, tem havido um início de relação. O conhecer a pessoa. Agora uma amizade perdurar na linha do tempo, já depende de uma empatia emocional e artística. Isso aconteceu com algumas pessoas que talvez tenham inspirado outras a estar atentas ao meu trabalho. De repente, há uma construção. Quando convido o Milton Nascimento, o Chico Buarque e a Nana Caymmi, há um disco noBrasil. De sequência, concertos o que é natural. Não sei porquê, esses concertos dão origem a mais concertos onde conheci músicos e artistas. A seguir, o Milton convida-me para cantar com ele ao vivo no Brasil. E o Chico também. Esses encontros geraram encontros pessoais, em casa uns dos outros. Nasce uma amizade. Vou ver um concerto da Marisa Monte, no fim abraço-a porque a acho maravilhosa e ela diz-me: «já ouvi o seu trabalho». E eu pergunto-lhe: «quando é que nos podemos conhecer melhor?» «Na quarta-feira», respondeu-me ela. «A sério!?». Vou a casa dela e de repente estamos a desfolhar o repertório que ela tem engavetado por decidir e work in progress – um artista não mostra a outro o que está a fazer. Só se tiver muita confiança e for muito grande, como ela. Depois há o ‘Chuva no Mar’ [do álbum Canto de 2014] que ela me ofereceu. Convida-me para concertos com ela, eu mostro-lhe o que ando a fazer, nascem parcerias e um dia, ela liga-me a perguntar: «Carminho, aquelas canções que gravámos com o Arnaldo e o Carlinhos Brown vão entrar no disco dos Tribalistas. Deixa? Eu deixo, claro!». Aquilo era uma pergunta retórica mas que me deixou felicíssima. É uma bola de neve maravilhosa que ainda me deixa surpreendida e embasbacada. E então eu penso: Ah, é assim que se constrói uma relação na profissão – com verdade, sem medo de perder e ficar feliz pelo trabalho dos outros. É fazermos concertos juntos. Ainda há dois dias, dei um concerto com o Zambas [António Zambujo] a cantarmos canções um do outro. E já demos concertos grandes juntos no Brasil, partilhando essa descoberta um pelo outro. O que é que virá aí? Não sei. Para já, um disco ao vivo. E foi no mesmo telefonema [dos Tribalistas]. Já andava para a convidar, recebo uma chamada e era a Marisa Monte. E eu com uma coisa para lhe dizer. Ela a dizer-me que tinha um convite para me fazer e eu com um convite para lhe fazer! Este disco ao vivo foi difícil de conjugar e só faz sentido com estes músicos. Eles têm as agendas deles no outro lado do mundo, eu tenho a minha vida no fado; como é que podíamos fazer isto juntos? E então pensámos em fazer único, irrepetível e especial. Escolhemos dez salas na Europa e dar tudo de nós. Quem não viu, quem não foi, paciência. Talvez numa próxima oportunidade, se houver outro concerto especial. 

Ainda sente um entusiasmo adolescente quando conhece alguém tão importante ou já se tornou natural?

No meu caso é relativo, porque nem sempre sinto que devo conhecer as pessoas. Por várias razões, porque admiro mas não quer dizer que sinta empatia pessoal. O que teve piada nesta história foi tudo ter acontecido naturalmente. O Milton estava na Aula Magna, convidou-me e desencadeou isto tudo. Depois fui convidada para uma festa e estava lá o Chico Buarque. O entusiasmo maior é encontrar empatia recíproca que depois se possa refletir em partilha artística. O haver um dar e um receber porque eu também levo a minha identidade, apesar de aos 12 anos ter dito que era fadista e agora não dizer (ri-se). Foi o fado que me inspirou e salvou socialmente. Aprendi a trazê-lo comigo com imensa força e brio. O estar perante génios da música popular brasileira e do mundo não me impede de levar o fado. E eles também são seres humanos que têm coisas para dizer, ouvir e partilhar. Como qualquer um de nós. Essas partilhas e esses encontros são magníficos, levam à amizade. Tenho muitas dessas partilhas no Brasil e quando eles vêm cá, tento retribuir-lhes com a minha casa. Os brasileiros não têm reservas: puxam e lembram-se de histórias. O Caetano começa a contar de quando estava no Coliseu e a Amália cantou o ‘Estranha Forma de Vida’. São partilhas emocionais. 

Bom vinho é uma forma de conquistar esses artistas?

(gargalhada) Cativa sim. Os brasileiros adoram vinho português. E bacalhau, que às vezes sou eu a cozinhar. 

A Carminho ainda tem disponibilidade para ser a Carmo Rebelo de Andrade?

As duas pessoas são a mesma mas não foi sempre assim. Uma teve que se habituar à outra e vice-versa. Preciso de me sentir livre, descontraída e ir a qualquer lugar. E vou, até porque não é assim tão estranho. Às vezes, há pessoas que me abordam para dizer coisas que pensam sobre mim e é um privilégio. Chega a ser um estudo de mercado de borla (ri-se). Muito mais do que isso, sinto que tenho quem me oiça e qualquer artista devia agradecer. Ser artista não significa ter público; quer é dizer que há uma necessidade de se expressar e ter um veículo. Seja ele plástico, performativo ou outro. Ter quem oiça e ter quem receba é uma honra. Não sou eu que comovo, as pessoas é que se comovem com a história que vivem. Por isso, é que nos comovemos com artistas que já não está cá e com as mesmas interpretações. Isso não depende do artista, depende é da nossa história. O que procuro no tempo livre é estar com a minha família e os meus sobrinhos. Não perder as grandes vitórias e os grandes dramas dos meus amigos. É aí que mais custa. É aí que sinto que o meu trabalho me distancia da «vida normal» mas todos têm os seus dissabores. Não me queixo, é só um outro lado da moeda e sou muito realizada por fazer o que faço.

Em palcos tão grandes é possível reproduzir a proximidade olhos nos olhos de uma casa de fados?

Esse é o maior desafio. Procuro imensas vezes explicar às pessoas que essa troca depende muito do público da entrega. O desafio é tentar aproximar as pessoas. Com os silêncios, com o som, com os instrumentos e as histórias. Tentar trazer as pessoas para cima do palco, não literalmente, mas do ponto de vista energético. E há a espontaneidade do momento porque não dei nenhum concerto igual. 
E não é nenhuma tentativa de ser diferente, 
é mesmo porque há sempre espontaneidade 
e improvisação. Não é uma coisa nem muito automatizada, nem mecânica.

E 2018?

Espero que traga um disco novo. Pelo menos, estou a trabalhar para isso. Já há muita procura de repertório. Estou a escrever e a compor. A tentar perceber quem sou agora para descrever onde estou. Tentar descrever na música e nos poemas aquilo que sou. Um disco que represente esta fase.