Um pão mais saudável para os portugueses

Um pão mais saudável para os portugueses


Os portugueses consomem mais de 30 toneladas de sal a mais por dia


No Dia Mundial da Alimentação, o Serviço Nacional de Saúde virou as atenções para um alimento essencial: o pão. Depois de na semana passada ser anunciada uma nova taxa sobre o sal em alguns produtos no próximo Orçamento do Estado, esta segunda-feira o Governo assinou um protocolo com representantes do setor da panificação e pastelaria para garantir a redução do teor máximo de sal no pão.

O compromisso entre o Governo e a Associação Nacional de Industriais da Panificação, Pastelaria e Similares de Lisboa, Associação dos Industriais de Panificação, Pastelaria e Similares do Norte e Associação de Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares pretende reduzir o sal no pão para um grama em cada 100 gramas de produto até 2021 e, também, as gorduras trans (artificiais) – que se querem abaixo de dois gramas por cada 100 gramas de produto, até ao final de 2019.        

O excesso de sal é um dos principais inimigos a combater pela Estratégia Interministerial Para a Alimentação Saudável 2017-2020. Isto porque, como defendeu Pedro Graça, diretor do Programa Nacional Para a Promoção da Alimentação Saudável, esta segunda-feira na cerimónia, o consumo excessivo de “sal é um dos principais problemas de saúde pública em Portugal” e “um fator de risco alimentar, provavelmente aquele que mais contribui para que os portugueses percam anos de vida saudáveis”.

Segundo dados avançados por Pedro Graça, 76,9% da população portuguesa consome mais que cinco gramas de sal por dia. Por isso, como notou Francisco George, diretor da Direção Geral de Saúde que abriu a cerimónia, é preciso reduzir, “no mínimo, três gramas de sal na alimentação diária".

A estratégia

A implementação da estratégia passa por modificar a oferta alimentar nos espaços públicos, uma medida que, como Pedro Graça notou, já está a ser posta em prática – “as máquinas de venda automática do Ministério da Saúde já têm produtos com menos sal e açúcar e essa é uma luta que agora deve ser alargada a outros setores da sociedade”.

Mas a estratégia passa também por “monitorizar a oferta”, pela “adequação dos perfis nutricionais” e ainda pela proposta de metas para “atingir a reformulação dos produtos alimentares”. Paralelamente, é necessário promover a “literacia alimentar”, para que os consumidores consigam, por exemplo, interpretar os rótulos. Quer-se, também, limitar a publicidade sobre alimentos com elevado teor de sal dirigida a menores de idade e promover iniciativas sobre o impacto do sal na saúde.

Na mesma ocasião, Francisco George – que representou o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, por este ter sido convocado para uma reunião de emergência na Protecção Civil, devido aos incêndios que têm vindo a assolar o país – assinou um protocolo com as autarquias de Lisboa e Santo Tirso, para implementar a estratégia a nível local.

A cerimónia ficou marcada também por um debate com moderação do apresentador José Carlos Malato e que contou com as participações de representantes da Ordem dos Nutricionistas, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, da DECO e do Chef Nuno Queiroz Ribeiro. Foi, também, lançada a campanha de comunicação “Juntos Contra o Sal”, à qual se associaram caras conhecidas como Sara Matos ou Rita Ferro Rodrigues.

O impacto do sal na saúde

Três em cada 10 portugueses morrem de doença cardiovascular, uma taxa que Pedro Graça acredita que “poderia descer substancialmente” com a redução do consumo de sal.

Tanto George como Graça alertaram para a relação entre o consumo excessivo de sal e problemas de saúde como a tensão arterial, a insuficiência cardíaca, acidentes vasculares cerebrais e enfartes do miocárdio.

Segundo dados apresentados pelo diretor da Direção Geral da Saúde, em 2015 houve uma percentagem de 29,7% de óbitos resultantes de doenças cardiovasculares. E mais: por ano, os portugueses gastam 177 milhões de euros em anti-hipertensores. Resta esperar que a redução do sal no pão – um dos alimentos mais consumidos pelos portugueses – contribua para a diminuição desses números.

Recorde-se que, relativamente ao imposto anunciado na semana passada – que taxa bolachas, cereais ou batatas com mais de 10 gramas de sal por um quilo de produto ou um grama por 10 gramas de produtos -, as receitas vão ser usadas para financiar programas de prevenção do Serviço Nacional de Saúde (SNS).