Geringonça. PCP avalia pesada derrota. Socialistas afastam instabilidade

Geringonça. PCP avalia pesada derrota. Socialistas afastam instabilidade


PS garante que governo tem ainda “mais força”. Comité Central do PCP avalia hoje pior resultado de sempre. 


Os comunistas vão hoje reunir-se para analisar os resultados das eleições autárquicas. A derrota monumental do PCP, que perdeu nove câmaras para o PS e uma para um grupo de cidadãos, será o tema principal da reunião do Comité Central, que não deixará de refletir sobre os efeitos da geringonça neste resultado, mas também sobre as consequências que esta derrota poderá ter na aliança com o PS.

A pergunta que todos fazem, após a vitória histórica do PS, que foi o partido que mais beneficiou com os bons resultados económicos conseguidos nos últimos tempos, é se esta situação irá afetar a estabilidade da geringonça. Os socialistas desdramatizam e garantem que  esta solução política não sairá beliscada. “Tem ainda mais força para que possa prosseguir o rumo que iniciamos há dois anos”, disse Ana Catarina Mendes. O_presidente do partido, Carlos César, afirmou, à saída da reunião com o Presidente da República, em Belém, que estes resultados “não afetam o bom relacionamento entre os partidos que apoiam o governo”.

Jerónimo de Sousa, na noite eleitoral, assumiu que este resultado “não reduz a determinação da CDU (…) em prosseguir a sua intervenção para contribuir para novos passos que respondam aos interesses e aspirações dos trabalhadores e do povo”. Mas não deixou de afirmar que  “é necessário não iludir que este resultado constitui um fator negativo para dar força a esse caminho”.

O i tentou questionar o PCP sobre se a derrota eleitoral pode afetar a solução de governo. O gabinete de imprensa do PCP respondeu apenas que preferia não fazer “mais comentários à declaração ontem feita pelo secretário-geral do PCP”.

 

“Atritos” na geringonça 

O ex-militante comunista Carlos Brito está convencido de que a derrota pode ser explicada com “razões de natureza local” e defende que seria trágico para o PCP abandonar o governo. “O pior que o PCP podia agora fazer era arrepender-se da abertura que fez depois das eleições de 2015 e voltar ao anterior enconchamento. Isso seria péssimo e teria consequências imediatas”, diz o ex-dirigente o PCP.

Vital Moreira, que também foi uma figura destacada no PCP e foi mais tarde deputado pelo PS, prevê “atritos” na geringonça, mas considera que “não é nada provável que os parceiros de maioria parlamentar caiam na tentação de sair intempestivamente do barco governativo, abrindo uma crise política, porque sabem que seriam fortemente penalizados em eleições antecipadas por eles provocadas”.

O constitucionalista não tem, porém, dúvidas de que a vitória do PS “só pode deixar os parceiros da extrema-esquerda parlamentar à beira de um ataque de nervos, por verificarem que só os socialistas ganham eleitoralmente com o êxito da solução governativa conjunta”.

O ex-governante Seixas da Costa não está tão otimista e, numa análise que publicou sobre os resultados eleitorais nas redes sociais, alerta que “o PCP terá constatado nesta ocasião os efeitos nefastos da geringonça sobre a estabilidade do seu eleitorado. Perder Almada é um terramoto que deve ter sido sentido na Soeiro Pereira Gomes em registo de tragédia”.

Para Seixas da Costa, “as negociações do orçamento vão já ser um inferno” e o PCP não irá “até ao fim da legislatura”. O embaixador considera que “o Bloco também terá percebido que a geringonça lhe traz um certo desgaste: parte do seu eleitorado, habituado a olhar para o PS como uma direita da esquerda, terá sido entretanto seduzida por António Costa e por este ‘novo PS’”.

A Comissão Política do Bloco também vai reunir-se nesta terça-feira à noite para avaliar os resultados. Catarina Martins realçou ontem, à saída da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, que “o BE tem uma presença modesta nas autarquias”, mas cresceu nestas eleições”. A coordenadora bloquista não escondeu a satisfação por Fernando Medina ter perdido a maioria absoluta e abriu a porta a um acordo com o PS para “um governo mais exigente da cidade”. Os bloquistas conseguiram, ao contrário do que aconteceu há quatro anos, eleger um vereador para a autarquia da capital.