Já é chamada a indústria em mais rápido crescimento do mundo e Portugal está na mira dos investidores. Nos últimos meses, o governo recebeu propostas de dois fabricantes mundiais de preparados à base de canábis, uma empresa canadiana e outra israelita. Pretendem criar unidades de cultivo e até uma fábrica de transformação e purificação da planta em Portugal.
Os processos estão a ser geridos pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP ), passando também pelo Infarmed, que forneceu informação ao i.
O negócio da canábis tem feito correr tinta em todo o mundo, com os Estados Unidos a projetarem que o mercado da canábis legal para fins medicinais atinja 21,6 mil milhões de dólares em 2021, três vezes mais do que o valor atual. Na Europa, nos últimos dias foi a Alemanha a dar luz verde à prescrição médica de canábis, permitindo aos clínicos receitar extratos de canabinoides a doentes diagnosticados com esclerose múltipla, dor crónica, perda de apetite grave ou efeitos secundários de quimioterapia como náuseas severas. Já em Itália, o governo vai avançar com a primeira produção de canábis para fins medicinais, no laboratório militar de Florença.
Canábis em Évora Portugal estreou-se no cultivo de canábis para fins medicinais em 2014, quando foi concedida uma licença para cultivo de Cannabis sativa L. a uma empresa sediada no Montijo de nome Terra Verde.
Esta empresa não tem qualquer contacto telefónico disponível, mas em sites de relatórios corporativos é possível confirmar que se trata de uma firma com participação da Gw Pharmaceuticals, líder mundial na produção de produtos à base de canabinoides.
Segundo informação disponibilizada pela agência do medicamento ao i, a Terra Verde tem estado a cultivar canábis no distrito de Évora, tendo tido licença para a exploração de 8,75 hectares na época de cultivo de 2016, com previsão de colheita de 21 toneladas. O produto destina-se na totalidade à exportação para o Reino Unido.
Segundo o i apurou, a empresa Terra Verde apresentou no primeiro ano um prejuízo de 10 261 euros. Em 2015 ganhou velocidade de cruzeiro, com lucros de 17 508 euros. Neste mesmo ano, a empresa registou pela primeira vez exportações, no valor de 66 223 euros.
Nos próximos anos, o negócio da canábis em Portugal promete crescer para os sete dígitos.
Segundo a informação disponibilizada ao i pelo Infarmed, a empresa que atualmente detém autorização de cultivo de canábis previu, nos memorandos de entendimento e cartas de conforto assinadas com os ministérios envolvidos, um investimento global de 80 milhões de euros no país. Embora o Infarmed não identifique a empresa em causa, estas serão as projeções da Terra Verde, a única firma que até ao momento tem o cultivo licenciado.
Já quanto aos projetos futuros, o valor total de investimento indicado ascende a 27 milhões de euros, o que dá um total de 107 milhões de euros entre as empresas que já manifestaram intenção de investir nesta área em Portugal.
Embora o Infarmed não revele o nome das empresas que estarão em processo de licenciamento, mas apenas as nacionalidades, o i sabe que a canadiana interessada em investir no país é a fabricante Tilray. Em novembro, durante a conferência Web Summit, em Lisboa, o responsável desta empresa, Brendan Kennedy, revelou que estava em contacto com as autoridades portuguesas. Não foi possível confirmar qual será a empresa israelita interessada em investir. A par de Estados Unidos e Canadá, Israel é um dos países onde a indústria da canábis legal mais tem crescido. Em 2016 havia oito explorações licenciadas no país e o Ministério das Finanças israelita previa receitas de 250 a 300 milhões de dólares/ano.
Portugal sem medicamentos
O uso medicinal da canábis tem duas vertentes: a prescrição de medicamentos com canabinoides entre os seus ingredientes ou a prescrição de doses de erva que pode ser fumada ou ingerida. Em alternativa, já são comercializados extratos que podem ser, por exemplo, vaporizados.
Em Portugal, a prescrição de erva para fins médicos nestes moldes não é legal, mas a Ordem dos Médicos confirmou ao i que está disponível para lançar o debate.
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Uma segunda linha de utilização têm sido medicamentos que têm, entre os seus ingredientes, canabinoides – a canábis tem 104 canabinoides diferentes, sendo o canabidiol (CBD) o mais bem cotado em termos terapêuticos. Este componente não provoca os efeitos psicoativos associados ao uso recreativo, que estão ligados ao THC – componente que as autoridades têm alertado estar presente em cada vez maiores quantidades nas plantas de canábis, o que torna esta droga mais potente e perigosa.
Henrique Luz Rodrigues, presidente do Infarmed, explicou ao i que, em matéria de medicamentos que incluam canabinoides, o único entrave à sua utilização em Portugal é não haver nenhum à venda – não seria preciso qualquer alteração à lei.
Aliás, neste momento já está autorizada a introdução no mercado de um produto, um pulverizador bocal da Gw Pharmaceuticals (a empresa que usa canábis cultivada em Évora), mas a firma não tem o “Sativex” à venda no país.