Era sempre com um “Viva a República!” que nos cumprimentávamos, uma espécie de senha de cumplicidade, a chave sorridente que abria todos os caminhos para onde as conversas nos levassem.
Eu, o eterno aprendiz admirador, sempre fascinado pelas lições e pelo testemunho do homem livre que foi antes de tudo.
Ele, o estadista visionário, o homem de cultura, o eterno conspirador revolucionário, de grandes, renovadas e antecipadoras causas, que sempre partilhei com o maior entusiasmo, até 2013, na Aula Magna. Este sábado, quando recebi a triste notícia, a primeira coisa que senti foi uma saudade imensa, um vazio de tristeza, como que uma pancada seca. Por mais que essa partida fosse esperada e próxima, acabamos por nunca estar verdadeiramente preparados.
E este tão sofrido luto de uma família que sempre senti tão próxima, por se tratar de Mário Soares e pelas evidentes razões da História contemporânea, transcende necessariamente a realidade do recato familiar. Porque o seu desaparecimento físico impõe luto nacional, pela homenagem e pela vénia de todos os nossos concidadãos.
A História encontrou-se muitas vezes com Mário Soares. Ele conhecia-a e intuía-a como poucos. Temerário, convicto, soube escrevê-la por diversas vezes, decisivamente. Ele próprio, tantas vezes só, antecipando-se com a razão que lhe assistia. Uma figura ímpar, em Portugal e na Europa a que pertencemos. É por ele que Portugal está de luto. Pela sua memória, pela alma matricial da nossa ii República. Por valores que nunca cairão. Obrigado, Mário Soares.