O problema de Bertolucci

O problema de Bertolucci


Realizador de admitiu que a icónica cena de violação de “Último Tango em Paris” não foi consentida. E Hollywood não o poupou.


Será uma das mais célebres cenas da história do cinema aquela violação protagonizada por Marlon Brando e Maria Schneider em “Último Tango em Paris”, filme com que Bernardo Bertolucci conseguiu chocar naquele ano de 1972 e de novo agora, com o reaparecimento de uma entrevista em que o realizador admite que a atriz que interpretava Jeannie não fazia ideia do que a esperava.

Nessa entrevista, dada em 2013 ao “Telegraph”, Bertolucci confirma que Schneider, que morreu em 2011, não tinha sido avisada de que haveria uma cena da violação, e que, além disso, o recurso a um pedaço de manteiga como lubrificante foi improvisado na rodagem.

“Estávamos a tomar o pequeno-almoço, com o Marlon, no chão do apartamento onde estávamos a filmar. Havia uma baguete, havia manteiga e nós olhámos um para o outro e, sem dizermos nada, percebemos o que queríamos”, recorda o realizador, que depois acrescenta: “Fui horrível para a Maria porque não lhe disse.”

“Não me sinto culpado”, disse ainda Bertolucci. “Mas quando ela morreu pensei, meu deus, lamento não lhe ter pedido desculpa pelo que o Marlon e eu lhe fizemos naquela cena, por termos decidido não lhe dizer. O sentimento de humilhação foi muito real, mas acho que o que a realmente a ofendeu foi sentir que não lhe foi permitido preparar-se para a cena como atriz. O que eu queria era ter a reação dela como pessoa, não como atriz.”

A entrevista tinha já caído em esquecimento, mas voltou a surgir e a gerar uma onda de indignação em Hollywood, com atrizes e atores a insurgirem-se contra Bertolucci nas redes sociais.

“Para todas as pessoas que adoram este filme, aquilo que estão a ver é uma pessoa de 19 anos a ser violada por um homem de 48”, escreveu no Twitter a atriz Jessica Chastain. “O realizador planeou o ataque. Sinto-me enojada.”