A bênção do Presidente no aniversário da geringonça


A comemoração do primeiro aniversário do governo PS apoiado por Bloco de Esquerda e PCP foi antecipada. Marcelo escolheu o dia 23 de novembro e uma conferência do “Jornal de Negócios” para fazer a festa, atirar os foguetes e praticamente apanhar as canas.


A comemoração do primeiro aniversário do governo PS apoiado por Bloco de Esquerda e PCP foi antecipada. Marcelo escolheu o dia 23 de novembro e uma conferência do “Jornal de Negócios” para fazer a festa, atirar os foguetes e praticamente apanhar as canas. Não podia haver melhor bolo de aniversário para António Costa, Bloco e PCP – para quem está familiarizado com festas de crianças, foi como se o Presidente da República colocasse uma daquelas velas que disparam para todos os lados em honra do aniversariante. 

Primeiro ponto: Marcelo, pela primeira vez, inclui o PCP e o Bloco de Esquerda no chamado “arco da governação”, coisa que a direita de onde Marcelo vem se esforça por insistir que é impossível, ainda hoje. A declaração definitiva do Presidente sobre a “estabilidade política” e “paz social” da solução governativa foi o melhor que Costa e parceiros poderiam ouvir de um Presidente que tem sido cooperante quanto baste, mas não ao ponto da cegueira, como se pode ver pelos sucessivos vetos e intervenções públicas.

Quando Marcelo decide estender até ao final da legislatura a duração do governo, refazendo a sua teoria inicial de que o ciclo político terminava (ou seria avaliado) nas autárquicas, dá uma prova de confiança bastante acima, aliás, do que é aceitável um Presidente da República comprometer-se. 
Segundo ponto: Marcelo nunca gostou de Passos Coelho e o “desgosto” sempre foi mútuo. Ao pôr um ponto final nos seus apelos aos consensos do “centrão”, Marcelo dá também um tiro no porta-aviões da oposição.

P.S. O amor de Marcelo por Costa e aliados segue o que aconteceu em 1996 entre Soares e Cavaco (as coisas correram bem, até porque a teoria de Soares foi captar a metade do país que não tinha votado nele) e em 2006 entre Cavaco e Sócrates (Cavaco preferia Sócrates à alternativa que o PSD apresentou às eleições, Pedro Santana Lopes). Vale a pena lembrar que a história nos mostrou que este tipo de amores não dura muito.