“If you are under 40 and starting to read this, I politely suggest that you turn the page.” Foi assim que o colunista australiano Bernard Salt iniciou o seu artigo no “Australian”, em outubro. Nascido em 1956, Salt escreveu sobre os cafés hipster difíceis de frequentar por quem esteja na meia-idade: os assentos são demasiado baixos para quem depois precisa de se levantar, o barulho dificulta a conversa e por aí em diante.
Mas o que mais chocou este baby boomer foi o preço. Cerca de 22 dólares australianos (15 euros) por uma fatia de pão com queijo feta grelhado e pera-abacate esmagada. Com 60 anos, Salt diz pagar isso na boa. Mas a pergunta sai-lhe na escrita e causou polémica na Austrália: porque é os putos não poupam este dinheiro e compram uma casa? Quinze euros várias vezes por semana dá quanto?
As palavras de Salt causaram indignação, mas batem no ponto. E este artigo interessou-me porque, apesar de duas décadas mais novo que Salt, também não percebo. Quando estava nos 20, poupava. Não lanchava em sítios caros nem tomava o pequeno-almoço na rua. Poupava. Pensava no meu futuro, que na altura não tinha fim e valia a pena pensar nele. Divertia-me sem torrar dinheiro.
E o que vejo quando olho para os novos cafés de Lisboa, pejados de gente a gastar dinheiro que eu tenho mas que prescindo de deixar ali, ponho-me a pensar que talvez a questão seja mesmo essa. Os millennials, a geração do milénio, não gosta do futuro que vê e come abacates para esquecer. Aqueles sítios estão cheios de gente que desistiu.