De novo Bataclan

De novo Bataclan


Um ano depois da fatídica noite de 13 de novembro, o Bataclan voltou a ser sala. Com nova disposição, para “afastar os fantasmas”


Nem tudo poderá ser tragédia neste fim do mundo decretado já demasiadas vezes nas redes sociais perante a notícia de que Donald Trump entrará na Casa Branca com um aperto de mão de Obama, olhos já postos numa França cada vez mais próxima de Marine Le Pen, ou Le Pen dela. Nem tudo será tragédia, escrevíamos, mesmo com o assinalar do primeiro aniversário dos atentados de Paris, sexta-feira 13 de novembro do ano passado, porque o copo que estava vazio conseguiu encher-se pelo menos por uma noite: aquela em que o Bataclan renascido do banho de sangue que foi aquela noite voltou a abrir portas, num concerto com Sting a evocar a memória de David Bowie e Prince, heróis entre as baixas de um ano interminável.

“Temos duas coisas importantes a fazer esta noite”, disse Sting. “Lembrar e honrar aqueles que perderam as suas vidas nos ataques de há um ano e celebrar a vida e a música desta sala histórica.” Minuto de silêncio pelas 89 pessoas mortas há um ano naquela sala quando assistiam a um concerto de Eagles of Death Metal, interrompido por um dos vários atentados perpetrados nessa noite em Paris, reivindicados pelo autoproclamado Estado Islâmico, e uma canção do seu mais recente disco, “Fifty Thousand”, dedicada a Bowie e a Prince, os dois grandes ícones da pop que morreram este ano, mais Glenn Frey, Lemmy, e o nome de Leonard Cohen encarregou-se a assistência de gritar. “E Cohen”, acedeu Sting.

Sobre as vítimas dos atentados de Paris de há um ano, disse ainda Sting que “não devemos esquecê-los”. Introdução para “Fragile”, êxito de 1988, com a mensagem de que “nada vem da violência e nada pode vir”, depois da qual viria a sua “Inshallah” – “palavra de esperança” em árabe, deu-se ao cuidado de explicar, a esperança que tem faltado aos milhares de refugiados que arriscam as suas vidas tentando alcançar a Europa.

Noite-catarse perturbada pela polémica ausência dos Eagles of Death Metal – que alegaram ter sido impedidos de entrar na sala na noite de reabertura pelos proprietários devido às declarações do vocalista, Jesse Hughes, que dias após o atentado sugeriu que os seguranças do Bataclan podem ter compactuado com o ataque – que terminou com Sting a partilhar no Instagram a mesma mensagem com que abriu este que foi o primeiro concerto no novo Bataclan, que sofreu algumas alterações na sua disposição “para afastar os fantasmas”, segundo explica o francês “Le Monde”. “Não podemos esquecê-los.”