Arábia Saudita oferece até 15 mil euros a médicos portugueses

Arábia Saudita oferece até 15 mil euros a médicos portugueses


King Saud Medical City, em Riade, oferece até 15 mil euros/mês isentos de impostos. Empresa de recrutamento tem 60 médicos interessados e vai fazer entrevistas em Outubro. Recrutamento estrangeiro não para: este ano já partiram mais de 900 médicos e enfermeiros.


O administrador e o diretor clínico do maior hospital público árabe, o King Saud Medical City em Riade, vêm pela primeira vez em outubro a Portugal para contratar 19 médicos. Depois de recrutamentos de um grupo de hospitais privados árabes em 2015 e já este ano, com salários até 12 mil euros sem impostos, o governo saudita sobe a parada e oferece vencimentos entre 9000 e 15 mil euros também não tributados, Além de outras regalias como alojamento, transportes, seguro de saúde familiar, até 45 dias de férias e passagens aéreas pagas para toda a família.

André Leite, diretor-geral da FFF Healthcare, agência contratada pelo hospital árabe para coordenar o recrutamento em Lisboa agendado para dia 22 do próximo mês, adianta que até ao momento receberam 60 manifestações de interesse por parte de médicos e estima que em ações semelhantes realizadas anteriormente já foram 40 clínicos trabalhar para o Médio Oriente. A lista de especialidades que pretendem contratar inclui ortopedia, pediatria ou neurologia e o responsável adianta que os salários mais elevados destinam-se a especialistas mais diferenciados em anestesia, neurocirurgia ou cuidados intensivos, a área de intervenção do hospital na capital saudita.

Experiência em hospitais universitários, fluência em inglês e capacidade de trabalho em equipa serão alguns dos fatores valorizados, adianta o responsável. Além das condições remuneratórias e de alojamento, André Leite assinala que existe um acordo entre Portugal e Arábia de não tributação, o que significa que os rendimentos que os profissionais recebem naquele país não são taxados em Portugal. No anúncio existe também a garantia de aumentos salariais anuais.

Portugal na rota do recrutamento estrangeiro

Se as propostas do Médio Oriente são mais espaçados, na internet multiplicam-se as ofertas internacionais de emprego para médicos e, em particular, para enfermeiros. Também em outubro vão, por exemplo, decorrer entrevistas para os hospitais públicos de Gloucestershire, no Reino Unido. A oferta inclui salários até 27 mil euros/ano e um mês de alojamento gratuito. Já para Essex estão a decorrer entrevistas por Skype para enfermeiros com especialidades médicas e cirúrgicas. O salário vai até 35 mil euros/anuais, com bónus como «possibilidade de horário family friendly, apoio à parentalidade, infantário e vouchers».

Se a oferta se mantém em alta, dados das ordens dos Médicos e Enfermeiros revelam que este ano, no primeiro semestre, terão deixado o país 900 profissionais – 730 enfermeiros e 175 médicos, menos do que no ano passado em que, no final do ano tinham pedido a documentação necessária para ir para o estrangeiro 3192 profissionais. Com condições a anos-luz do que se pratica em Portugal, ambos os bastonários têm alertado que há medidas a tomar perante o fenómeno da emigração de profissionais de saúde, que é considerado pela própria Organização Mundial de Saúde um desafio à organização dos sistemas de saúde: se por um lado os profissionais saem à procura de melhores condições, há sempre o risco de fazerem falta nos seus países de origem.

José Manuel Silva acredita que a desmotivação no Serviço Nacional de Saúde é um dos motivos para o recrutamento internacional ter sucesso no país. Como competir com um salário de 15 mil euros sem impostos quando um médico especialista ganha de base 2800 euros brutos? «Não seria necessário equiparar salários com o que é oferecido lá fora, mas resolver a redução do pagamento das horas extra e acabar com o facto de médicos, mas também enfermeiros serem as únicas profissões obrigadas a trabalhar um número ilimitado de horas nos serviços», diz o bastonário. Ainda esta semana defendeu que a reposição do pagamento das horas extra – desde 2012 sujeita a um corte de 50% na função pública – resolveria 90% dos problemas de recursos médicos do SNS. 

Do lado da Ordem dos Enfermeiros, que desde 2010 estima a saída para o estrangeiro de 13 500 enfermeiros, a tónica tem sido colocada na insuficiente contratação, o que leva o Estado a “dar de bandeja” a outros países os profissionais que forma, acusou já este ano a bastonária, Ana Rita Cavaco. Este mês a Ordem propôs à tutela a contratação de 3000 enfermeiros/ano, durante uma década para suprir as necessidades no SNS, defendendo que, com o atual vencimento médio de 1780 euros/mês, a medida teria um impacto residual: representaria anualmente 0,67% da fatia do Orçamento do Estado para o setor em 2016.