Pombos. Alimentar dá multa até 106 euros em Lisboa

Pombos. Alimentar dá multa até 106 euros em Lisboa


O principal risco para a saúde pública é o perigo de transmissão de doenças. Também o património é afetado porque as fezes destes animais acabam por ser muito corrosivas para os monumentos das cidades


Sabia que alimentar os pontos pode dar multa? Pelo menos, em alguns municípios. É o caso de Lisboa, Porto, Cascais e Sintra, onde são aplicadas coimas aos infratores. Na capital, o valor destas sanções é de um vigésimo a um quinto do salário mínimo nacional. Ou seja, pode ir dos 26,5 aos 106 euros.

A explicação é simples: o fornecimento de alimentos que não os da dieta tradicional, e em grande quantidade, leva à reprodução descontrolada dos pombos e favorece a convivência entre espécimes saudáveis e doentes. “A situação contribui também para a multiplicação dos dejetos destes animais, os quais estão na origem da maior parte dos problemas a eles associados”, alerta a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO).

O principal risco para a saúde pública é o perigo de transmissão de doenças, como a criptococose e a histoplasmose, através das fezes secas destas aves. Nos dois casos, o risco de contágio é maior nas camadas mais vulneráveis da população: crianças, idosos e pessoas com sistemas imunitários enfraquecidos, como os doentes de cancro ou VIH/sida.A histoplasmose é provocada por um fungo que se desenvolve nas fezes dos pombos. Pode também ser encontrado em fezes de morcegos ou no solo e é transportado pelo vento. A inalação deste fungo pode acontecer durante a limpeza dos dejetos, causando a exposição prolongada infeção.

Os sintomas da histoplasmose surgem cerca de 10 dias após a infeção e podem incluir fadiga, febre e dores no peito, mas a maioria dos casos é assintomática. Assim, a maior parte das situações de infeção com histoplasmose assemelham–se a uma infeção respiratória moderada. Esta doença não é transmissível através do contacto humano.

Já a criptococose é outra doença fúngica presente nas fezes dos pombos e desenvolve-se no solo. “Uma pessoa saudável raramente desenvolve esta doença, mesmo com níveis de exposição elevados”, garante a associação. Mas deixa um alerta: as pessoas com um sistema imunitário comprometido são as que correm maior risco de infeção. O contacto com fezes secas, ectoparasitas e penas pode ainda causar problemas alérgicos e respiratórios, entre outros.

Animais e património também são atingidos Mas os riscos desta “praga” não afetam apenas os humanos. Também poderão trazer problemas para a saúde de outros animais. E esses riscos começam nos portos, onde é efetuada a descarga de cereais e leguminosas a usar depois na alimentação animal. Como os porões ficam abertos vários dias para descarga, os pombos abastecem-se frequentemente, entrando assim em contacto com os cereais. Há casos em que chegam a morrer nos porões e os cadáveres acabam por ficar misturados com os produtos e incorporados nas rações animais.

Também o património é atingido, uma vez que, como as fezes destes animais são muito ácidas, acabam por ser muito corrosivas para os monumentos onde tendem a instalar-se as aves. Esta situação já levou muitas câmaras a tomarem medidas de controlo (ver texto ao lado). Um desses casos é a Câmara de Lisboa. Daí a autarquia estar a desenvolver várias ações para controlar a população de pombos da cidade. Além dos riscos para a saúde pública através da transmissão de agentes patogénicos existentes nas aves, a câmara aponta ainda os problemas de urbanismo e estética que a reprodução descontrolada pode originar. A par da degradação de estátuas e edifícios, as fezes do animal têm efeito corrosivo sobre bronzes e cantarias. Outro risco potencial é o de inundações, provocadas pelo entupimento de sarjetas e algerozes com restos de ninhos, dejetos e animais mortos.

Mas não é o único. Também o município de Vila Franca de Xira avançou em junho com um programa experimental que visa controlar a população de pombos nas áreas urbanas e, dessa maneira, minimizar os problemas e prejuízos causados por estes animais.

A iniciativa vai ao encontro das “inúmeras queixas” que o município vila-franquense diz ter recebido da parte de moradores e comerciantes. Contempla um conjunto de ações destinadas a controlar e minimizar a propagação dos pombos, aves que causam prejuízos no ambiente e património das cidades e que representam também riscos para a saúde pública, segundo Maria de Fátima Antunes (PS), vereadora com o pelouro do serviço médico- -veterinário municipal.