Fhit Unit. Uma hora, 600 calorias,  dois quilos de areia nos pés

Fhit Unit. Uma hora, 600 calorias, dois quilos de areia nos pés


Treinar na praia tem três vantagens: muitas calorias gastas, poder ver o pôr-do-sol perto das dunas e acabar o dia com um bronze extra. Para quem está farto de passadeiras de ginásio e não se importa de acabar a sessão com pelo menos um quilo de areia dentro de cada sapatilha, os treinos da Fhit…


Numa semana em que as temperaturas batem recordes, nada melhor que enfrentar a A5 para uma tarde de praia na linha. Foi o que pensámos nós e meia Lisboa, tendo em conta o tempo passado em alcatrão, antes de ser possível pisar areia.

Mas ao contrário da multidão, na mochila do i não há toalha de praia, protetor ou uma sandes mista para matar a fome que o mar dá. No saco levamos uma garrafa de água, um relógio para medir a frequência cardíaca e uma toalha de treino para limpar o suor. No corpo, trocamos o bikini por calções e t-shirt e nos pés os chinelos dão lugar a sapatilhas prontas para todo o terreno. Isto porque, apesar do paredão que corre a linha da praia, o treino de hoje é feito em pleno areal. “Tirando um pequeno esforço feito pelo tendão de Aquiles, treinar neste tipo de piso só traz benefícios”, explica João Morgado. Como responsável dos treinos da Fhit Unit, sabe como motivar aqueles que ainda pensam duas vezes entre trocar a toalha de banho pela de treino. “Não se esqueçam que treinar na areia gasta muitas mais calorias do que um treino em terreno plano”. Palavras mágicas para quem precisava de um incentivo extra para acabar um dia de trabalho a fazer flexões e abdominais em Carcavelos.

O cenário está montado e, apesar de nos terem poupado aos famosos sacos de areia, há material de meter respeito. O grupo de 25 pessoas é dividido por estações onde estão montados TRX, escadas de agilidade, cordas pesadas e mecos a servir de meta para as corridas mais rápidas. Mas antes de pôr mãos à obra, neste caso com areia e tudo, ninguém salta o aquecimento. “Cinco voltas a correr”, grita Catarina, uma das treinadoras de serviço. Aos primeiros passos, percebemos claramente que todos os quilómetros feitos em estrada pouco valem num terreno de altos e baixos e no qual os pés se afundam a cada passo.

Em dez minutos de aquecimento o relógio já conta quase cem calorias perdidas, número que surge como chamamento ao início do circuito. Seja a fazer flexões no TRX, a agachar apenas com o peso do corpo, a fazer mexer as cordas ou a correr por entre os espaços livres da escada pousada na areia, o treino nunca passa o minuto e vinte, com vinte segundos de pausa entre cada estação.

As rondas continuam, com variações de exercícios a cada volta e Rita Terruta a não deixar nenhum pormenor de lado. “Estica mais os braços”, “vai mais abaixo no agachamento”, “corre mais rápido”. Habituada a liderar os treinos de fim de tarde, ignora aqueles que a mal dizem com o olhar – e algumas palavras. “Quando os resultados começarem a aparecer, falamos”, promete a treinadora, num tom que mistura a ameaça com o incentivo.
Feitas as quatro rondas ao ritmo de um relógio que não deixa os tempos saírem do ritmo, chega a hora do desafio final. Outra vez em equipas, está na hora de correr em frente, de lado e de costas, numa prova que apesar de não se esperarem vencedores, não faltam aplausos e gritos de incentivo.

Treinar ao ar livre Miguel e João são pai e filho e dividem responsabilidades na Fhit Unit, uma empresa que se cansou de treinos individuais dados entre quatro paredes. “Para mim nunca fez sentido que o outdoor em Portugal não fosse aproveitado para fazer exercício”, admite João. Do pai herdou o gosto pelo desporto, a que acrescentou uma mente a fervilhar de ideias. “Desde pequenino que nunca conseguiu estar muito tempo parado”, conta Miguel. Daí que depois de uma licenciatura em educação física, as aulas dadas em escolas ou os treinos como personal trainer individual lhe parecessem horizontes demasiado limitados. “Gosto do contacto com as pessoas, gosto de treinar ao ar livre e adoro praia”, salienta, “foi só juntar tudo e criar isto aqui”, a apontar para um grupo que, mesmo depois de se ter dado fim ao treino, não arreda pé da areia. O “isto aqui” de João traduz-se em treinos dados na praia de Carcavelos ao fim da tarde durante a semana e de manhã cedo aos sábados e domingos.

Apesar da “casa” cheia de hoje, João não esquece o primeiro treino, dado apenas a oito amigos. Agora são mais de duzentas pessoas divididas em quatro treinos semanais. “Temos cada vez mais interessados. É engraçado ver que as cadeiras da praia mudam de direção quando começamos o treino”. Do mar, as direções começaram a apontar para o grupo e, ainda hoje, cada treino conta com pelo menos 50% de estreantes. “Para isso ajuda o facto de não haver fidelização, cada um paga o treino que quer fazer e ponto”.

Atualmente, nem os treinos de staff escapam ao olhar – e ao esforço físico – dos curiosos. As fotos publicadas nas redes sociais pelos treinadores despertaram a atenção de quem estava habituado aos treinos na areia e agora, todas as segundas, quartas e sextas às sete da manhã, há quem se junte aos oito treinadores do grupo no exterior do Palácio da Justiça par acompanhar o plano dos profissionais. “Nós também temos que estar em forma”, lembra João, “por isso não nos custa ter gente a treinar connosco.

Com o sol já posto entre as nuvens, já são poucos os resistentes ao vento próprio da beira-mar. Mas antes de se fazerem à A5, há quem não resista a um mergulho para limpar areias e suores. Da próxima já sabemos que na mala deste treino, o bikini é tão importante como as sapatilhas.