Os socialistas nem querem ouvir falar na possibilidade de Portugal avançar com um referendo sobre a União Europeia. “É uma péssima ideia”, diz ao i a eurodeputada do PS Ana Gomes, num comentário à proposta do Bloco de Esquerda para que Portugal faça uma consulta popular no caso de ser alvo de sanções.
Ana Gomes diz que “é uma péssima ideia porque, neste momento, os referendos são instrumentos em que os populistas embarcam”. A eurodeputada defende que Portugal não pode “utilizar mecanismos ou expedientes que, efetivamente, fazem o jogo das forças populistas, xenófobas, que querem destruir o projeto de paz que é a União Europeia”.
Para Ana Gomes, as sanções “são uma estupidez”, mas “uma força política responsável não pode reagir de uma forma retaliatória. É pela crítica política e pelo argumento político que nós devemos fazer tudo para impedir a Comissão Europeia de as aplicar”.
A proposta foi feita, no encerramento da convenção do BE, por Catarina Martins e fez saltar a tampa aos críticos da estratégia de António Costa. O eurodeputado Francisco Assis disse ao “Expresso” que “é um carnaval de pura demagogia” e “um número de circo”. O ex-deputado socialista Ricardo Gonçalves – que juntamente com Assis criticou a aliança à esquerda no congresso do PS – classificou a proposta como “uma bravata que ainda afasta mais investimento, crescimento e emprego de Portugal”.
O pior que podia acontecer A hipótese de um referendo foi colocada pelo BE numa altura sensível para a União Europeia, com a saída do Reino Unido. O coordenador do PS na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros, Paulo Pisco, defende em declarações ao i que a consulta feita no Reino Unido mostra que “os referendos têm um efeito profundamente desagregador do projeto europeu”. O deputado socialista diz que “não é nada favorável ao referendo” e alerta que “o pior que podia acontecer, neste momento, à Europa e aos países europeus era agora todos os Estados-membros da União Europeia enveredarem por referendos sobre a União Europeia. Não se sabe qual é o tipo de consulta que pretende o BE, mas a Europa não pode embarcar num processo referendário”.
O governo voltou ontem a deixar claro que é contra qualquer consulta sobre a União Europeia. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em declarações à agência Lusa, defendeu que “a situação europeia já é suficientemente complexa para dispensar que nós lhe acrescentemos complexidades desnecessárias”. O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, que assistiu ao encerramento da convenção do BE, esclareceu logo no domingo que este não é o momento adequado para discutir uma consulta popular sobre a União Europeia. “Não nos parece que seja tempo para referendos, é tempo para nós defendermos uma Europa capaz de responder aos problemas sentidos pelos povos europeus e esse é um objetivo também nosso.”
“A vontade do povo” Catarina Martins defendeu a realização de uma consulta popular se Bruxelas aplicar sanções a Portugal. “Nesse caso, Portugal só pode responder recusando as sanções, recusando o arbítrio e anunciando que está disposto a pôr na ordem do dia um referendo para tomar posição contra as sanções”, avisou a líder do BE no final da convenção do partido, no domingo.
O deputado do BE Jorge Costa explicou, nas redes sociais, que “o autoritarismo frenético de uma União Europeia em desintegração terá forçosamente de se haver com a democracia e a vontade do povo. Ninguém conte com o voto de silêncio do Bloco de Esquerda sobre as sanções de Bruxelas. Ou com uma crítica que seja mera banda sonora da sua aceitação”.