Se o Portugal-Hungria foi o jogo em, que tudo se passou, com seis golos que podiam ter sido dez, o Portugal-Croácia foi o seu oposto. Um jogo flácido, na sua grande parte maçador, disputado por duas equipas com cautelas em excesso e mais preocupadas com o adversário do que consigo próprias.
Fernando Santos fez várias alterações na equipa. Começou pela defesa, da qual saíram, em relação ao último jogo, Ricardo Carvalho, Vieirinha e Eliseu, entrando José Fonte, Cédric e Raphael Guerreiro. No meio campo jogou pelo seguro, encostando Adrien a William Carvalho e tirando Quaresma e Moutinho. João Mário foi titular.
Na frente, a dupla Nani/Cristiano Ronaldo, que valera até ontem os quatro golos portugueses na prova.
A Croácia, pelo seu lado, recuperou Modric e Mandzukic, surgindo com um «miolo» muito criativo, cabendo nele, além do médio construtor do Real Madrid, Rakitic, Perisic e Brozovic. Desde início apostou numa pressão muito alta, procurando encolher o meio-campo português. Fisicamente fortes, tecnicamente com imensa qualidade tomaram conta dos acontecimentos prematuros. Só quase por volta dos 10 minutos Portugal começou a ter bola e respondeu, ainda que timidamente.
Era evidente, pela forma como nem uns nem outros caíam na tentação de passes de risco, o enorme respeito que pairava sobre o Estádio Bollaert-Delelis, de Lens. A bola era trocada com a maior certeza possível, mas o jogo dos homens dos quadradinhos era mais fluído e trabalhado do que os dos portugueses. Duas concepções distintas para o mesmo jogo.
A partir de certa altura, os papéis inverteram-se. A bola passou a estar mais tempo nos pés dos jogadores lusitanos. Remates à baliza é que nem vê-os. E Portugal que é o grande aglutinador de remates deste Campeonato da Europa teve o mérito de ser o primeiro a chegar à baliza adversária – precisamente aos… 25 minutos, por José Fonte, de cabeça, na conclusão de um canto.
Só responderia Perisic, lançado sobre a direita do seu ataque, uns minutos depois, com um remate venenoso. E que mais? Pouco, muito pouco, quase nada. Assentes no conservadorismo dos seus esquemas, controlando ferozmente os talentos mais evidentes do opositor, Portugal e Croácia condenaram-nos a uma primeira parte fantasmagórica, tal a falta de presença física de uma e de outra equipa.
Só uma tomada de atitude, táctica ou individual, poderia tirar o encontro dessas tamanquinhas irritantes que deixavam antever prolongamento e «penalties» e tudo e tudo. Mas, logo outro pergunta se colocava: quem? Que jogador teria o seu repente? Qual dos seleccionadores se resolveria a alterar as pedras do tabuleiro?
Foi Fernando Santos. Fez entrar Renato Sanches, a tal injecção de dinâmica, para o lugar de André Gomes. Curiosamente a Croácia respondeu com maior agressividade ofensiva. Por momentos, esteve perto de alvejar a baliza de Rui Patrício. A pressão inicial no meio campo português repetia-se. Devotado ao abandono, Ronaldo via o jogo a uma distância considerável.
Parecia óbvio que quem conseguisse fazer um golo iria adquirir uma vantagem provavelmente definitiva.
Portugal era agora mais assumidamente uma equipa de contra ataque. E finalmente há espaços. Mesmo que as oportunidades não surjam, transmite-se uma espécie de esperança de golo.
Debalde. É tempo de prolongamento.
E de cada vez menos Portugal: o seu jogo é confuso e imperfeito.
A Croácia ataque mas fica-se pelos calafrios…
Com menos tempo de descanso do que o seu adversário, teme-se a queda portuguesa no precipício dos minutos derradeiros. Mas também há medo do outro lado da barricada. Os mágicos croatas estão desaparecidos.
Eis-nos na inevitabilidade dos «penalties».
Esperem! Esperem! Ainda não!
Renato Sanches sai disparado do meio terreno português e cavalga para o golo decisivo. O remate é de Ronaldo, na direita, e a recarga de Quaresma à defesa de Subasic.
Um momento de felicidade que explode como um cometa na noite escura.
Portugal está nos quartos-de-final! Jogará na quinta-feira, em Marselha, frente à Polónia.
Adeus tristeza!
Afonso de Melo em Lens