Está mais velho. Já não é possível falar de Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, como o “jovem turco” ou qualquer expressão que dê a entender que é novo. Este congresso é capaz de ter sido o primeiro da sua idade adulta no PS – afinal, já tem 39 anos. O discurso que fez mostrou que tem todas as condições para ser aquilo que nunca negou querer ser: candidato a secretário-geral do PS num futuro qualquer. Está feliz porque, tendo desde sempre defendido que o PS se devia aproximar do PCP e do BE, vê agora cumprido o sonho político. E Costa deu-lhe um dos lugares-chave da geringonça: é o secretário de Estado que negoceia continuamente com “os parceiros”.
Disse no congresso que o PS está a fazer história com o Bloco de Esquerda e o PCP. É uma história para continuar?
Espero bem que seja. Se isto correr bem, o PS felizmente nunca mais dependerá da direita para governar. E isso é bom para a democracia portuguesa e para o Partido Socialista.
Portanto, numas próximas legislativas é normal, caso o PS não tenha maioria absoluta, que se replique a geringonça?
A solução está a correr bem. Se continuar a correr bem, não vejo como não possa ser uma solução mais vezes repetida.
Sempre defendeu que o PS se devia virar para a esquerda desde os tempos da JS. Está a cumprir um sonho político?
Mais do que viragens do PS à esquerda, é verdade que eu desde sempre, desde que me lembro, que defendo que o Partido Socialista devia conseguir trabalhar com o PCP e o Bloco de Esquerda. Ou seja, que os partidos à esquerda deviam conseguir trabalhar e construir soluções de governo juntos. Estar hoje na posição em que estou e participar nesta solução de governo apoiada por todos estes partidos é uma grande satisfação.
Ao contrário de António Costa, não apoiou Francisco Assis contra António José Seguro.
Não. Apoiei António José Seguro.
Porquê?
Tenho muito boa relação com Francisco Assis, é alguém que respeito muito, cuja inteligência e pensamento valorizo. Mas, de facto, politicamente não tenho a mesma proximidade que apesar de tudo teria com António José Seguro. E naquele momento, naquela escolha, achei que politicamente fazia mais sentido apoiar António José Seguro.
De certa forma, talvez António José Seguro fosse mais à esquerda do que Assis.
Ou Assis mais à direita que António José Seguro.
Mas muitos daqueles que estão hoje com António Costa estiveram ao lado do homem que estava mais à direita do que António José Seguro.
É verdade.
Como se explica esta alteração estratégica de muita gente que apoiou Assis para secretário- -geral e hoje apoia esta solução do “governo das esquerdas”?
Não quero comentar as decisões dos outros camaradas. Foi um momento que já lá vai. Entretanto, António Costa foi eleito secretário-geral . Era o candidato que eu queria que tivesse avançado logo nessa altura. O partido está a viver um momento diferente. Esse período já foi ultrapassado.
Francisco Assis diz que o PS está a apanhar o “vírus ideológico” do PCP e Bloco de Esquerda do anti-europeísmo… Isso pode tornar o PS tão eurocrítico ao ponto de querer romper com a Europa?
Essa crítica é injusta. O Partido Socialista é um partido europeísta e estará sempre comprometido com a integração europeia. Se hoje está mais crítico é porque também a União Europeia nunca esteve na posição difícil em que se encontra hoje. E exige-se a todos os socialistas e sociais–democratas europeus a capacidade de olhar com visão crítica para a União Europeia. Só uma União Europeia capaz de responder aos principais problemas que os povos europeus enfrentam é que é capaz de sobreviver no futuro. Ser europeísta hoje é ser exigente e crítico também.
Começou o seu discurso a dizer: “Parece que há quem não perceba para que serve este governo”. E quem é que não está a perceber? Vários socialistas? Se calhar há no PS uma franja silenciosa de críticos.
Não, no PS são muito poucos. Não tenho dúvida nenhuma disso. No congresso houve uma esmagadora maioria, para não dizer quase unanimidade, do partido com a solução de governo que hoje existe em Portugal e com as decisões que o PS tomou. Acho que toda a gente percebeu o nível de satisfação com que os militantes estavam. E a celebração também que foi este congresso! No Partido Socialista são poucos os que discordam.
O PS está a ser criticado por ter embarcado nesta solução, não tanto por ter virado à esquerda, mas por ter sido a forma que lhe permitiu chegar ao poder…
É mais uma crítica injusta e só a faz quem nunca olhou para o programa eleitoral do Partido Socialista. A esmagadora maioria das medidas que nós já tomámos – e foram muitas, quem diz que este governo não tem governado tem estado pouco atento ao que temos feito – estavam no programa eleitoral. Agora, o PS não tem maioria absoluta. Tem acordos com três partidos. É normal que haja diálogo e construção de consensos permanente. Mas a maioria das medidas que foram tomadas já constavam do programa eleitoral. Houve alterações de tempo, de ritmo… mas aquilo que é estrutural já estava no programa eleitoral do PS. Não estamos condicionados por ninguém, não estamos a cumprir a agenda de outros. Mas é óbvio que este é um governo do PS apoiado pelo PS, pelo PCP, pelo Bloco de Esquerda e pelo partido ecologista “Os Verdes”.
Nunca se tinha visto num Congresso do PS o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda serem tão aplaudidos. Foi um dos que pediu aplausos para o PCP e BE. Porquê?
Porque é justo. Acho que estamos a fazer um trabalho muito importante no país. O governo é do PS, mas o que estamos a fazer faz-se com o PCP, o Bloco e o PEV. Eles também são responsáveis pelo trabalho importante que estamos a fazer. Por isso, era mais do que justo que o congresso aplaudisse sem qualquer hesitação e com convicção os nossos parceiros.
E isso aconteceu.
Foi mais um momento de grande satisfação para mim. O congresso já tinha aplaudido no discurso de abertura de António Costa, aplaudiram ontem e hoje também.
Três dias de congresso, três ovações ao PCP e ao Bloco?
É verdade.
Ocupa o mesmo cargo que António Costa ocupou nos anos 90, mas agora com a gestão diária da geringonça. É mais fácil lidar com o PCP ou com o Bloco de Esquerda?
Não faço essas distinções, como é óbvio. São dois partidos exigentes, que estão a trabalhar de forma séria. O trabalho é exigente, cansativo também, mas realizador. Gosto muito do que faço e da relação que tenho com o grupo parlamentar do PS e com os grupos parlamentares dos nossos parceiros.
Vê-se um dia, num futuro qualquer mais ou menos longínquo, a ocupar o lugar que Costa ocupa hoje?
Não quero pensar nisso, porque me está a dar muito gozo o trabalho que estou a fazer hoje. E nós devemos aproveitar bem o momento que estamos a viver no presente.
Se a geringonça não conseguir baixar a taxa de desemprego falha, certo?
O desemprego é uma das nossas maiores preocupações, como é óbvio. Da sua redução depende obviamente a taxa de crescimento da nossa economia. Nós temos uma estratégia a dois tempos: uma estratégia de resposta no curto prazo e depois uma estratégia de desenvolvimento no médio-longo prazo que foi hoje apresentada pelo secretário-geral do Partido Socialista. A resposta de curto prazo passava por devolver os rendimentos, aumentar o rendimento disponível das famílias e teve consequências positivas. Tivemos um abrandamento da economia mundial que teve consequências nas nossas exportações, mas o consumo privado e a procura interna ajudaram a puxar pelo crescimento económico. Dá razão à estratégia que nós escolhemos num contexto de abrandamento económico internacional. Por isso, estamos confiantes que a estratégia económica deste governo vai produzir resultados na criação de emprego. E é para isso que estamos a trabalhar. Não tenho dúvidas que as coisas vão correr bem e vamos ter sucesso.
Sérgio Sousa Pinto diz que este não é o PS de Mário Soares. Acha que este é o PS de Mário Soares?
Não tenho dúvidas nenhumas que este é o Partido Socialista de Mário Soares. É o Partido Socialista que está a defender, a preservar e a proteger o Estado social. Tem uma estratégia de desenvolvimento da economia no quadro daquilo que é a matriz programático-ideológico do Partido Socialista. Não tenho a menor dúvida de que este é o partido de Mário Soares, como de todos os fundadores do Partido Socialista e de todos os militantes que se inscreveram neste partido para construir uma sociedade com maiores níveis de igualdade e liberdade.