É chato, mas é verdade: este congresso confirmou aquilo que muitos sempre viram em António Costa – é um político excecional, do mais brilhante que existe em Portugal. É verdade que o brilhantismo, assim como o otimismo, tem dias e às vezes sai de cena – nem o otimismo nem o brilhantismo marcaram a campanha eleitoral socialista, nem a gestão de vários casos durante estes meses de governo.
Não foi assim o Congresso. É evidente que estas coisas são programadas ao milímetro – e Ana Catarina Mendes, a secretária-geral adjunta, foi a grande responsável do sucesso – mas o discurso de ontem de António Costa foi provavelmente o discurso mais bem feito desde que é primeiro-ministro. Nem sempre a estratégia do secretário-geral do PS parecia clara – ontem, a revolução anunciada nas áreas metropolitanas e na descentralização foi um momento clarificador.
Mas o discurso sobre a Europa, que representou um corte com a generalizada conversa mole e balofa dos socialistas europeus, marca um ponto de viragem no Partido Socialista. E foi especialmente importante por ter sido feita depois do discurso em que Assis alertou para um alegado “vírus ideológico anti-europeísta” que estariam a contaminar o PS por andar de mãos dadas com o Bloco e PCP.
O que Costa, com Portugal ameaçado pelas sanções europeias, explicou ontem ao país é que, como disse Manuel Alegre, esta Europa “é uma fraude” se continuar a funcionar desta maneira e que os socialistas, ao terem-se colado como fizeram nestes últimos anos ao Partido Popular Europeu – quase constituindo uma espécie de “partido único europeu” – o que estão a fazer é a contribuir para a emergência dos populismos.
Costa está cheio de razão e pôs fim ao discurso do “português de chapéu na mão” em Bruxelas. É uma rutura, sim. Na realidade, uma verdadeira “reforma”.