Os profissionais de baixa escolaridade e idade avançada constituem o grosso dos desempregados de longa duração em Portugal, mas as dificuldades impõem-se também no extremo oposto da escala etária. O Instituto Nacional de Estatística (INE) indicou quarta-feira que a taxa de desemprego no país subiu para 12,4% no primeiro trimestre e justificou esta evolução com grupos específicos de cidadãos: jovens, licenciados e com residência em Lisboa.
Segundo os dados do INE, há 640 mil pessoas desempregadas no país – um aumento de 1% face ao trimestre anterior. Este aumento em termos globais reflete diferentes tendências. Há grupos profissionais e etários onde há menos desempregados, outros em que não há alterações e por último os contribuem para a subida do valor global.
E, para que o saldo final do desemprego tenha aumentado, o INE destaca grupos específicos onde a falta de trabalho foi mais notória nos meses mais recentes: os homens, a população entre 25 e 34 anos, as pessoas que têm o ensino superior e quem está à procura de novo emprego. Em termos regionais, Lisboa é a grande fonte de desemprego, com mais 16,6 mil pessoas sem trabalho – noutras regiões o número de desempregados até diminuiu.
“Temos um país em que as idades mais velhas blindaram os seus direitos, impedindo os jovens de entrar. Claro que o desemprego mais alto tem de ser dos jovens”, diz ao i o economista João César das Neves, acrescentando que as próprias instituições de ensino superior contribuem para o problema. “Grande parte da nossa universidade está alheia ao mercado de trabalho, produzindo licenciados que a economia não precisa. São estes desajustamentos que aparecem nos dados do desemprego”, frisa.
Os números do INE são reveladores da dificuldade que os mais novos enfrentam quando tentam entrar no mercado de trabalho. Existem atualmente 268 mil desempregados com menos de 35 anos – mais de 40% do total de desempregados. Embora o mercado de trabalho tenha melhorado desde o final do programa da troika, a taxa de desemprego específica da população mais jovem continua muito acima da média nacional.
Entre os 25 e os 34 anos, atingiu 14,4% e foi a que mais subiu no primeiro trimestre. Entre os 15 e os 24 anos desceu, mas ainda asim manteve-se em 31% da população ativa naquela faixa etária.
Apesar de tudo, o economista da Universidade do Minho João Cerejeira, especializado em mercado de trabalho, vê sinais de renovação da mão-de-obra. Embora haja deterioração de alguns indicadores face ao trimestre anterior, o docente sublinha a evolução em termos homólogos, em que o emprego aumentou e a situação contratual dos trabalhadores melhorou, com menos contratos a prazo.
Embora haja uma subida homóloga do número de desempregados com ensino superior, o docente nota que esta tendência é acompanhada por uma subida forte no emprego desta população. “Acresce uma subida da população deste grupo, o que quer dizer que a emigração se fez sentir com mais intensidade nos menos qualificados”, explica.
O mais preocupante, admite, é a descida no emprego da faixa dos 25-34 anos, acompanhada de uma descida na população deste grupo etário. «Poderemos inferir que a emigração de trabalhadores jovens com baixa qualificação terá aqui um papel relevante”, explica.
O facto de este fenómeno estar a sentir-se em Lisboa “poderá estar associado ao emprego desta região, nos serviços e profissões administrativas, onde “poderemos observar uma substituição de trabalhadores menos qualificados por trabalhadores mais qualificados”.
Economia parada Os problemas da geração mais nova acentuam-se com a falta de dinamismo que a economia mostrou no primeiro trimestre. Com toda a Europa a crescer de forma anémica há anos, Portugal não consegue gerar oportunidades de negócios e de emprego. “A economia está quase estagnada, com o investimento e a poupança em mínimos históricos e um crescimento anémico. Claro que o desemprego não podia continuar a descer”, considera César das Neves.
João Cerejeira destaca, pela negativa, “o facto de o fluxo emigratório ainda não ter parado”. Isso resulta “numa deterioração do potencial produtivo do país, pondo em causa o crescimento a médio prazo”. Por outro lado, constata que a diminuição dos trabalhadores por conta própria como empregador no primeiro trimestre “coloca em causa a ideia de que o empreendedorismo poderá ser uma boa resposta ao desemprego”.