Aqui está uma associação de palavras cujo sentido é falacioso, já que a juventude, hoje, quase não pratica qualquer atividade física, embora seja conveniente dizer, aqui e agora, que atividade física não é o mesmo que educação física.
Seria bom sistematizar e chamar educação física a toda a atividade física praticada na escola, já que ela obedece a regras e princípios, tendo até em conta leis da física e outras, com o objetivo do desenvolvimento psicofísico do jovem, para lhe conferir a maior autonomia possível em todos os campos que um ser humano pode abarcar.
Não se trata só de desenvolvimento dos sistemas psicofísicos, mas também do desenvolvimento humano, sendo estes dois conjuntos os responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento do homem nas suas três dimensões: física, psíquica e humana, já que todas juntas levam à formação do ser humano a que chamamos, quando o trabalho é bem feito, humanização.
Não faz mais sentido, hoje, à luz da experiência e da evidência, insistir numa junção de palavras quando uma delas abrange todas as outras facetas que se colocam aos jovens: juventude. Obviamente que todas as outras questões estão lá dentro, mas é desnecessário nomeá-las. Por outro lado, podemos considerar que para algumas pessoas que se interessam por esta problemática, desporto é a tal atividade física que os alunos da escola praticam fora do currículo, embora possa ser efetuada na escola, do que discordamos 100%, já que se está a transformar a escola em clube, adulterando desta forma e até prejudicando todo o trabalho pedagógico nela efetuado, levado a cabo por uma vasta equipa com preocupações exclusivamente pedagógicas, coisa que nem sempre existe num clube desportivo, cuja preocupação quase exclusiva é a performance, ou seja, o resultado, a vitória.
Seria, pois, interessante que a nova Secretaria de Estado da Juventude entrasse o ano eliminando da sua designação a palavra “desporto” pelas razões já aduzidas.
Deverá ser tarefa de uma Secretaria de Estado da Juventude tratar, como é óbvio, de problemas dos jovens, mas aqui deparamo-nos com uma dificuldade: são só os jovens que estão no ensino escolar (primário, secundário e terciário – faculdade) ou serão todos os jovens do país, já que, hoje, a juventude vai até aos 30 anos? Dir-me-ão que no desporto federado há indivíduos de todas as idades e que o Ministério da Educação, de certa forma, os tutela. Sim, e os outros que não praticam desporto, como poderão ser positivamente ajudados ou enquadrados pela Secretaria de Estado da Juventude?
Pensamos que é tempo de este novo governo aproveitar este estado de graça ou de benefício da dúvida e avançar com propostas inovadoras, e corajosas, no sentido de romper com o imobilismo que se tem verificado no setor, já há muitos anos, com raras exceções, e que levem os jovens a poder ter algum apoio, que se impõe neste momento difícil por que passa o país e não só. Isso seria bom inclusivamente para a solidariedade que deve existir também entre os jovens, opondo-se à indiferença atual, que leva a maior parte dos jovens a não se identificarem com o atual poder político, que designam por “eles”, significando e traduzindo um distanciamento irreversível, por parte dos jovens, em relação ao poder político institucionalizado.
É que, hoje, é o poder político democrático que tem de ir ao encontro da juventude, e não o contrário, já que (em democracia) devem ser as instituições a estar ao serviço dos cidadãos, e não o contrário, como foi até há pouco tempo, com raras exceções, quando tuteladas por pessoas com qualidades humanas excecionais. Mas esses foram uma minoria.
Vejamos o que irá acontecer.
Sociólogo