Quando os trabalhadores de uma fábrica querem pressionar o patrão, por regalias maiores, subsídios especiais ou mesmo aumentos salariais, o que fazem é agendar uma greve que, de facto, pode arruinar o negócio do patrão, que confrontado com a situação ou cede, e pode ir à falência, ou não cede, e vai na mesma à falência.
Ora a questão tem sido até agora apresentada ao contrário, ou seja, a força está do lado do patrão, o que é falso, mas também não está do lado dos trabalhadores, porque se a fábrica fechar ficam sem emprego e, hoje, dificilmente encontram uma situação estável como tinham no passado, e igualmente bem remunerada. Significa isto que estão todos dependentes uns dos outros e em interação absoluta. A isto chama-se “concertação social”, que é muito necessária e bem-vinda na medida em que seja responsável, porque em regra é arbitrada por pessoas com experiência, com “calos” do trabalho, sabendo bem que não se pode puxar muito a corda…
Mas passemos agora para o futebol profissional, onde se está a passar, com alguma frequência, um fenómeno novo a que os empresários do setor terão de prestar atenção e exigirem dos agentes dos jogadores (trabalhadores) garantias adicionais, escritas, com cláusulas com valor indemnizatório milionário.
É que, hoje, os trabalhadores-futebolistas de uma empresa desportiva (SDA), na qualidade de empregados, por vezes não gostam do capataz (treinador) contratado pela entidade patronal para os obrigar a trabalhar e tornar rendível o seu trabalho com um produto final (vitórias) competitivo, que só dessa forma torna a empresa viável, e então concertam-se no balneário, começam a perder jogos e fazem com que o capataz (o treinador) seja despedido.
Acontece que os jogadores-empregados (trabalhadores) podem prejudicar seriamente a empresa, retirando-lhe valor até na bolsa e nos negócios milionários dos audiovisuais, deixando a entidade patronal numa situação difícil porque não há concertação social neste negócio (por enquanto).
Isto acontece, em nossa opinião, porque se quer persistir no erro de chamar desporto ao futebol profissional e de não admitir que se trata apenas de um negócio, de um espetáculo desportivo profissional que não pode (mais) receber subsídios do Estado, não pode! Mas a equação é difícil, porque os clubes desportivos com atividades desportivas amadoras, instituições de utilidade pública, devem ser subsidiados pelo Estado social, sendo a prática do desporto um direito consignado no documento fundamental (Constituição), mas com um controlo rigoroso por parte do Estado, para evitar que os subsídios que dá vão parar aos cofres das SAD.
Julgamos que este Partido Socialista, embora agora esteja a fazer jus à sua classificação clássica nas ideias políticas – de radical -, tem a capacidade de equacionar a questão com justiça e imparcialidade, clarificando uma situação que governos anteriores ignoraram, a nosso ver, primeiro, por ignorância pura, depois, por pura incompetência.
Voltando à questão da revolta do balneário contra os treinadores, a questão deve ser equacionada com o envolvimento dos agentes e com uma contratação de equipas com cláusulas milionárias em caso de insucesso e com descidas milionárias nos ordenados – e até afastamentos temporários da atividade profissional – por, imagine-se, falta de desportivismo ou de espírito desportivo, como se qualquer trabalhador profissional, de futebol, alguma vez soubesse o que isso é!?!
Enfim, deixamos aqui aos ditos jornalistas do futebol profissional as ideias, esperando que eles ajudem os clubes a equacionar o problema, já que o futebol é necessário à sociedade civil, que precisa dele até para compensar as agruras do dia-a-dia de qualquer cidadão-trabalhador.
Sociólogo