Jorge Coelho. “O professor Marcelo é um agente de instabilidade”

Jorge Coelho. “O professor Marcelo é um agente de instabilidade”


Jorge Coelho está ao lado de Maria de Belém e ataca Marcelo. Diz que o ex-comentador tem um percurso instável e o país precisa de um Presidente da República “sereno” e com “maturidade”


Jorge Coelho é um dos pesos pesados do PS que apoiam a candidatura de Maria de Belém e acredita que a ex-ministra da Saúde de António Guterres é a que está em melhores condições para vencer as eleições se houver segunda volta. O antigo homem forte do PS faz duros ataques a Marcelo Rebelo de Sousa e defende que se o ex-comentador chegar a Belém vai ser um fator de instabilidade.

Qual é o perfil do Presidente da República que Portugal precisa tendo em conta a situação que o país atravessa?

O país precisa de um Presidente sereno, com experiência e maturidade. Precisamos de um Presidente que ajude o país neste novo tempo que estamos a viver e que queremos que corra bem. Portugal precisa de um Presidente firme, maduro e sereno.

A eleição de Maria de Belém seria mais favorável à estabilidade, tendo em conta que temos um governo do PS com o apoio da esquerda?

Maria de Belém é uma pessoa com larga experiência e com causas de vida, o que é muito importante. Há 40 anos que dedica a sua vida a causas que têm a ver com a vida das pessoas. É uma pessoa com enorme experiência nacional e internacional. Sempre fez pontes para criar condições para que haja a estabilidade de que o país precisa para se desenvolver. É quem melhor se adapta às necessidades que o país tem neste momento.

Marcelo também já disse muitas vezes que vai garantir a estabilidade. Não acredita?

É normal que o professor Marcelo Rebelo de Sousa diga isso, mas os portugueses devem olhar, não para aquilo que os candidatos dizem, mas para aquilo que fizeram durante as suas vidas e o professor Marcelo não é propriamente conhecido pela opinião pública como alguém que seja um agente de estabilidade, antes pelo contrário é um agente de instabilidade. É alguém que é conhecido pelas pessoas como um criador de factos políticos, como um comentador político.

Mas é o mais popular de todos os candidatos…

É evidentemente uma pessoa simpática, uma pessoa que os portugueses gostam, mas nós estamos a eleger um Presidente da República e eleger um Presidente não é a mesma coisa que eleger o rei dos comentadores. Se fosse isso que estivesse em causa era natural que pudesse ser indicado para tal, eu próprio o indicaria. Mas não é isso que está em causa e o cargo de Presidente da República exige outras características e outra experiência. Marcelo tem muitas características positivas, mas não o estou a ver como um fomentador de estabilidade.

Será um fator de instabilidade se for eleito para Belém?

Não vejo que ele seja a pessoa mais indicada dado aquilo que foi a sua prática durante todos estes anos. Marcelo não é conhecido pelo exercício de nenhuma função pública. Nunca foi eleito pelos portugueses para nenhum cargo de grande responsabilidade política e aqueles a que se candidatou perdeu. Por alguma razão foi.

Marcelo refere muitas vezes que, quando foi líder do PSD, foi um fator de estabilidade e contribuiu para que o governo de António Guterres durasse quatro anos.

O que me recordo é que ele se demitiu [da liderança do PSD]. Não me recordo de mais nada de relevante daquilo que foi o êxito da sua ação. Demitiu-se e nunca se candidatou a primeiro-ministro. Candidatou-se à câmara de Lisboa e Jorge Sampaio derrotou-o nessas eleições. Nunca houve um teste na sua vida política que permita dizer que ele seja um agente da estabilidade e um agente da cordialidade entre órgãos de soberania, porque nunca esteve em nenhum órgão de soberania. É uma inovação. E quando esteve no governo a única coisa que me lembro foi o conflito que teve com o primeiro-ministro Pinto Balsemão, que o levou a sair de funções.

Os candidatos de esquerda têm conseguido fazer frente ao único candidato da direita?

Acho que não. Há uma certa resignação relativamente ao peso que o professor Marcelo Rebelo de Sousa tem nas sondagens. Com exceção de dois. Maria de Belém tem com coragem confrontado Marcelo Rebelo de Sousa com as suas incoerências, que são enormes, e a Dra. Marisa Matias tem tido também a coragem de o fazer.

Mas o candidato de direita continua à frente?

É óbvio que está à frente, mas acho que esta semana de debates e de campanha pode criar condições para haver uma segunda volta e na segunda volta o professor Marcelo perde as eleições. A pessoa que está em melhores condições para ganhar é Maria de Belém.

O que o leva a pensar que Maria de Belém ganha à segunda volta?

Lembro-me de outras eleições e o que ele não conseguir na primeira volta já não consegue na segunda. Não tenho dúvida disso. Aconteceu com as eleições entre Freitas do Amaral e Mário Soares. Freitas do Amaral teve os mesmos votos à segunda volta que teve na primeira e perdeu as eleições.

Há mais do que uma candidatura da área do PS. Que opinião tem sobre Sampaio da Nóvoa?

Só falo da minha candidata e do seu adversário principal que é o professor Marcelo Rebelo de Sousa. E o que digo é que não é a pessoa mais indicada, indecentemente das qualidades humanas. Ele põe todos bem-dispostos e divertidos mas sinceramente isto não é uma eleição para mister simpatia.

O que tem achado da campanha de Marcelo Rebelo de Sousa?

Está mais contido, mas de vez enquanto foge-lhe a boca para a realidade. Já me ri várias vezes sozinho de coisas que o vejo fazer. Estou a lembrar-me da marmita que leva para as ações. Só ele é que se lembraria de tal coisa. O professor Marcelo comentador arrasaria a campanha do professor Marcelo candidato.

O próximo Presidente tem de ser muito diferente de Cavaco Silva que é acusado pela esquerda de ter sido parcial?

Defendo isso, mas acho graça o professor Marcelo também defender isso. Ele é o maior anticavaquista que agora há na campanha, mas foi apoiante dele durante todo este percurso. Não se esqueça que ele é conselheiro de Estado e nunca se demitiu. Apoiou Cavaco Silva e só agora é que se lembrou de ser anticavaquista. Também não quer Passos Coelho e Paulo Portas na campanha, mas ele apoiou-os, andou a percorrer o país inteiro nas campanhas eleitorais. Os portugueses devem olhar para isto, porque pode acontecer o mesmo a quem ele está a dizer agora que vai ajudar a encontrar pontes, ajudar a que o governo governe, mas se calhar daqui a uns meses já não é nada disto.

O facto de haver vários candidatos da área do PS pode prejudicar a eleição de uma candidatura da área da esquerda?

Se houvesse um candidato que se tivesse afirmado pela sua força, por ser um candidato com capacidade para ser ganhador na primeira volta teria sido diferente. Se Guterres tivesse sido candidato os outros não teriam avançado. Mas a vida é o que é. Ele entendeu não se candidatar e perante esta situação a pluralidade é positiva. O que é importante é que haja um que passe à segunda volta.

Espera que o PS se empenhe nesta eleição na segunda volta?

O PS está empenhado a apoiar as diversas candidaturas. Não tenho visto nenhuma falta de empenhamento. Vejo pessoas do PS a apoiar várias candidaturas de uma forma normal.

Espera que o secretário-geral do PS António Costa possa entrar na campanha na segunda volta?

Isso está clarificado. Se houver um candidato da área do Partido Socialista que passe à segunda volta é normal que o PS o apoie.