Em democracia vive-se e governa-se segundo regras que vêm estipuladas na Constituição, um texto aprovado por pessoas eleitas para o efeito por todos os cidadãos de um determinado país. A Constituição encerra um conjunto de normas segundo as quais uma comunidade de cidadãos pode e deve viver harmoniosamente. Haverá decerto quem viva contrariado. Quando se pensa e se sente como um cidadão de esquerda, ser governado por uma coligação de direita pode ser duro. Mas, se a coligação exercer o poder segundo as tais regras, não resta a esse cidadão mais que obedecer. Discordando, criticando, mas obedecendo. Se a coligação excede os seus poderes e extravasa do possível, o cidadão pode recorrer para o Tribunal Constitucional, que lhe dará ou não a razão.
Quando em democracia uma coligação de direita obtém 38% de votos e não consegue a maioria dos deputados com assento no parlamento, percebe-se que a única coisa que pode fazer para governar é reunir-se a outros partidos para conseguir uma maioria confortável. Se o conseguir, será uma vitória; se não o conseguir, será uma derrota. Se a coligação de direita reúne todos os partidos de direita, vai ser difícil uma conciliação à esquerda, sobretudo se durante o último mandato raras vezes teve em consideração o que a oposição lhe dizia. Portanto deve contar com uma oposição no parlamento. Oposição negativa? Sim, porque não? Os partidos à esquerda não querem que a coligação governe mais. Ponto. Mas podem fazer uma outra coisa: reunir-se e propor um governo que tenha uma certa representatividade de esquerda. É óbvio que nem todos os partidos agrupados pensam da mesma maneira, mas podem juntar esforços nalguns aspectos essenciais. Tal como a anterior coligação de direita. Certamente nem todos no seu interior pensavam da mesma maneira. A esquerda consegue assim uma maioria que pode governar. Com todos os requisitos constitucionais para ser legal.
Não se percebe a chinfrineira crítica que tal solução fez explodir na comunicação social e nas redes sociais. E nos cafés. Tanto da direita frustrada como da esquerda esfusiante. Lê-se e ouve-se cada disparate que custa acreditar. Alguns vindos de pessoas com responsabilidades acrescidas. Que se critique a orientação da esquerda, que se apontem perigos, que se duvide da coerência e da consistência do projecto, tudo é possível. Estaremos cá para ver. E o Tribunal Constitucional para julgar. Mas, por favor, deixem de fazer crescer a vulgaridade e a ordinarice a níveis incivilizacionais. Pode discutir--se tudo sem ser a chamar nomes feios às pessoas e às instituições. É dessa maneira que se mostra que não existem outros motivos para a crítica.
Escreve à sexta-feira