Paris foi e será sempre um dos centros do mundo. Por lá tem passado grande parte da história e, se ultimamente deixou empalidecer um pouco a sua imagem de sol da civilização e da cultura ocidentais, não é menos verdade que continua a ser um importante símbolo de uma ideia de civilização e de cultura, livre, tolerante, aberta, democrática, erguida sobre a tríade “liberdade, igualdade, fraternidade”, popularizada pela Revolução Francesa. Por isso a cidade é tão apetecida para quem luta contra estes desígnios. É um símbolo a abater, que, se se concretizasse, teria efeitos de sismo planetário. “Paris já está a arder?”, perguntava-se durante a ocupação nazi. Ingrid Bergman sussurrava a Bogart que “teriam sempre Paris”, antes de se despedirem em “Casablanca”.
Paris é uma referência difícil de igualar. Recordo passeios pelos boulevards, um jantar na Rive Gauche, atravessar de Inverno os jardins das Tulherias, com flocos de neve a cair, descer os Champs-Élysèes, em busca de Belmondo e Jean Seberg, entrar na Opéra, tomar um café numa das suas múltiplas esplanadas, esperando ver Brando ou Schneider a caminho de “O Último Tango em Paris”, frequentar a Cinemateca, ver as últimas estreias em salas majestosas ou em pequenos cinemas de “Art et Essai”, procurar a margem do Sena onde Gene Kelly foi “Um Americano em Paris”, assistir a exposições fabulosas onde nos imaginávamos “Sob os Telhados de Paris” ou se descortinavam “Os Mistérios de Paris”, perseguir a Hepburn, “Cinderela em Paris”, em “Quando Paris Delira”, saborear croissants como não outros, viajar pelas “Noites de Paris”, ultrapassar a “Meia-Noite em Paris” e sentir o frio gélido da madrugada, quando as esplanadas procuram quebrar o ambiente com aquecedores… Os museus, os teatros, as experiências pessoais inesquecíveis, a estreia de um filme meu a inaugurar uma sala da cidade, o Latina, um jantar integrado numa comitiva presidencial, na mesa de Danielle Mitterrand, as viagens pelas produtoras francesas quando dirigia o Estúdio Apolo 70 e ia pesquisar filmes para a sala, os encontros ocasionais com Truffaut, com Resnais, com Jean-Pierre Léaud, e alguns mais. Impossível “Esquecer Paris”. Mas é obrigatório recordar “A Última Vez Que Vi Paris”. “Paris que j’aime”, “Paris nous appartient”.
“Paris É Uma Festa”. Por lá passaram gerações e gerações de criadores inesquecíveis na literatura, na música, no teatro, nas artes plásticas, na filosofia, na poesia, na arquitectura, no cinema… De lá brotaram as mais inspiradas e radicais tendências artísticas e estéticas de todos os tempos. Lá nasceu a “liberdade, igualdade, fraternidade”, e lá permanecerá. Lá e no espírito de cada um que por lá passou e não esquece. Que “Paris é Uma Festa” e “Paris já Está a Arder”. Ninguém, porém, matará Paris. “Sempre nos restará Paris.”
Escreve à sexta-feira