O nome é impossível de decorar e mais parece uma palavra-passe para entrar na intranet da empresa. Chama-se GJ 1132b, é o mais recente exoplaneta descoberto, está a 39,14 anos-luz de distância – ou seja, na vizinhança do sistema solar – e a equipa que o descobriu julga que é bastante semelhante ao nosso Vénus. Entre estes caçadores de planetas está o astrofísico Nuno Cardoso Santos, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, ele próprio responsável pela descoberta de umas duas centenas de exoplanetas. Hoje estes planetas que orbitam uma estrela que não o Sol são já 1977.
“Perdi-lhes a conta, mas sim, deve andar por aí. A equipa do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço esteve em muitas das descobertas, certamente mais de duas centenas”, diz o astrofísico ao i.
E em que é que esta descoberta é diferente das outras 1977? “Este planeta tem o dom de ser pequeno (como a Terra) e de orbitar uma estrela pequena e próxima de nós. Isso vai permitir que se façam muitos estudos complementares.” Embora o astrofísico não acredite que este planeta seja um candidato à procura de vida – a temperatura é demasiado elevada para que ali exista água líquida –, “será certamente um bom candidato para se estudar a atmosfera (dinâmica, composição, etc.) num planeta deste tipo”.
Quanto às semelhanças com o segundo planeta a contar do Sol, o investigador explica-as da seguinte forma: “Será provavelmente um planeta rochoso, com atmosfera, mas muito quente, mais quente que a nossa Terra.” Para ter uma ideia das temperaturas, imagine o seguinte: o GJ 1132b recebe 19 vezes mais radiação da sua estrela que a Terra do Sol. Há um outro pormenor importante: a sua estrela é uma anã vermelha, com 20% do tamanho do Sol, o que fará com que as temperaturas oscilem apenas entre 135oC e 305oC. O “apenas” aqui sublinha-se porque estas temperaturas são muito inferiores às de qualquer outro exoplaneta rochoso conhecido até agora.
Foi graças ao método de trânsito que a equipa internacional conseguiu encontrar o GJ 1132b. Em seguida, o da velocidade radial confirmou a descoberta e acrescentou-lhe dados, como quando duas fontes confirmam a mesma história. Podemos dizer que este métodos se complementam?
“E muito. Esta complementaridade é fundamental. É justamente ela que será possível com instrumentos de nova geração em que estamos a participar. Por exemplo, com o ESPRESSO (que faz velocidades radiais) vamos medir com grande precisão massas de planetas, e com missões como a CHEOPS ou o PLATO2.0 vamos medir o raio, o tamanho. Combinando as duas coisas podemos conhecer a densidade do planeta e perceber a sua composição (entre muitas outras coisas).”
Para já, sabe-se que o planeta tem 1,6 vezes a massa e 1,2 vezes o diâmetro da Terra e orbita a sua estrela em apenas 1,6 dias, a uma distância de 2,25 milhões de quilómetros (Mercúrio orbita o Sol a cerca de 55 milhões de quilómetros). A descoberta foi hoje anunciada na “Nature”.