Nasceu no Yorkshire, Reino Unido, tem 48 anos e um doutoramento do Imperial College, Universidade de Londres. Produtor, realizador e escritor, já foi nomeado para BAFTA e Emmy e tem trabalhado ao longo dos anos em vários projectos da NASA. É convidado recorrente da televisão e da rádio britânicas para falar sobre ciência e astronomia. A semana passada lançou uma campanha no Facebook: quer receber mensagens de todo o mundo para enviar para as Voyagers, as naves que partiram da Terra em 1977 levando consigo um disco dourado com o resumo da história da humanidade para o caso de se cruzarem com outra civilização inteligente. Hoje já estão fora do sistema solar e em 2025 a NASA perderá todo o contacto com elas. É por isso que Christopher Riley não quer perder a oportunidade de lhes enviar uma mensagem final.
Em que momento pensou “e se enviássemos uma mensagem às Voyagers”?
As Voyagers são um dos grandes feitos da humanidade. São monumentos notáveis à nossa espécie e levam consigo pela galáxia provas da nossa existência. Mas não estaremos para sempre em contacto com elas. É por isso que, antes que a energia a bordo acabe, porque não fazer upload de uma mensagem final para o seu banco de memória marcando o fim do seu tempo de contacto connosco?
É um projecto a solo ou tem uma equipa a trabalhar consigo?
Somos uma pequena equipa de voluntários que desenvolvem a aplicação do Facebook.
Nem toda a gente leva a iniciativa a sério. Tem recebido muitas mensagens disparatadas?
Não. Temos recebido cerca de 100 mensagens por dia e a maioria são genuínas e sinceras. As pessoas parecem estar a pensar bem no que querem escrever.
Sente que os terráqueos querem realmente comunicar com alienígenas?
Acho que sempre houve um grande anseio da humanidade por encontrar um sinal de que a Terra não é o único mundo a albergar vida inteligente, de que há lá fora outras civilizações que podemos contactar. Quando damos oportunidade às pessoas de dizer algo a outro mundo não é de estranhar que apareçam tantas sugestões.
Tem uma ideia de quantas contribuições terão no final?
Foram cerca de 400 em quatro dias. Sabe-se lá quantas serão nos próximos anos… Mas gostava mesmo de conseguir contribuições de todas as culturas e comunidades, e o Facebook chega a todo o mundo. Este projecto é para todos os seres humanos contribuírem, já que é uma mensagem que representa a nossa espécie como um todo.
Quando dirá que já é suficiente, vamos enviar para a NASA?
Vamos ter o projecto no ar durante os próximos cinco anos antes de enviarmos as melhores sugestões para a NASA. Isto ainda dará muito tempo à agência para decidir se quer enviá-las para uma das Voyagers antes que a energia a bordo acabe (no início dos anos 2020).
Haverá uma triagem?
Acho que encontraremos uma maneira de os utilizadores de Facebook escolherem as suas mensagens favoritas – e provavelmente só enviaremos algumas dezenas, as mais populares, juntamente com a nossa petição com toda a gente que contribuiu para o projecto.
Na página do Facebook diz ter esperança que a NASA envie a mensagem. Já iniciou contactos?
Trabalhei com a NASA durante muitos anos em vários projectos de documentários e fiz amigos por lá ao longo do tempo – alguns nas missões Voyager. Espero que as respostas a esta campanha e o interesse despertado pela ideia em todo o mundo acabem por persuadir a NASA de que isto é uma coisa boa.
O disco dourado foi feito nos anos 70 e desde então evoluímos muito. Mas 38 anos em tempo intergaláctico são um nanossegundo… Daqui a outros 38, os anos 2010 podem parecer saídos da pré-história…
O disco dourado é mais eterno do que julga. Embora tenha sido feito em 1977 foi uma tentativa de reflectir a cultura humana de milhares de anos. Algumas das músicas são de culturas ancestrais e algumas das línguas representadas são tão antigas como o sumério [a primeira língua escrita conhecida]. Não é apenas um instantâneo dos anos 70. A ideia de apresentar uma mensagem final é marcar o fim da fase científica das Voyager – enquanto ainda podemos contactá-las –, para marcar o facto de passados 40 anos continuarem a funcionar e a recolher dados preciosos. Também é uma oportunidade de fazer um comentário final sobre a rapidez com que a nossa sociedade mudou desde que as naves deixaram a Terra. A nossa população duplicou e o desafio de vivermos juntos de forma pacífica e sustentável são prementes. É claro que esta perspectiva vai mudar de novo dentro de 38 anos, mas isso não significa que não valha a pena fazer um registo de como as coisas estão agora usando os últimos amperes de energia a bordo antes de dizermos adeus.
Numa das suas entrevistas dizia: “porque não fazer este último gesto, simples e fácil, de comunicação intergaláctica?” É mesmo simples e fácil?
O que poderia ser mais fácil que angariar sugestões via Facebook? É a plataforma perfeita para recolher mensagens de uma comunidade global e uma forma de partilhar todas as que forem sugeridas. O acto seguinte, enviar uma delas para as Voyagers, não deve ser um grande desafio. Em comparação com todo o esforço para propor, financiar, construir e manter as Voyagers nos últimos 40 anos e levá-las à fronteira do sistema solar, este último gesto deve ser fácil.
Também disse que é pouco provável que as nossas naves sejam interceptadas por alienígenas. Porquê fazer isto?
Creio que a nossa campanha no Facebook abraça o mesmo espírito com que os discos dourados foram criados. Centrarmo-nos no que gostaríamos de dizer sobre a nossa civilização a outra sociedade tecnológica e inteligente. Sejam encontradas ou não, não deixa de ser um desafio interessante – como a reacção à nossa campanha sugere até agora.
Vamos assumir que uma forma de vida extraterrestre encontra as Voyagers. Que reacções haveria?
O desafio com a nossa proposta de mensagem digital (ao contrário dos discos dourados analógicos) é que vai ser difícil de decifrar. É impossível escrever o que quer que seja numa das nossas línguas que seja facilmente descodificado e compreendido. A primeira reacção seria perceber que estava ali algum tipo de código mas não iriam percebê-lo ou apreciar o seu significado. Talvez conseguissem interpretar os padrões de repetição de caracteres, mas seria muito difícil. Há quem sugira que seremos nós a reencontrar as Voyagers quando evoluirmos e tivermos tecnologia que nos permita viajar mais depressa que elas pela galáxia. Esse momento – quanto os nossos descendentes longínquos virem como nos sentíamos sobre nós próprios no início do século xxi – poderá ser propício a uma reflexão muito especial.
E o inverso? Se fôssemos nós a encontrar uma Voyager de outro mundo?
Ficaria espantado se, na vastidão da galáxia, uma sonda espacial alienígena conseguisse, provavelmente por acidente, encontrar o caminho para o sistema solar, chegando suficientemente perto para ser detectada. Significaria que quem a tivesse enviado teria enviado milhões delas para a galáxia, e isso seria extraordinário. A minha crença pessoal é que civilizações como a nossa serão incrivelmente raras na Via Láctea. Isso dá ao que fizemos enquanto espécie – enviar as Voyagers para fora do sistema solar – tenha um significado ainda mais belo e profundo e a oportunidade de enviar uma mensagem final seja ainda mais maravilhosa.
A RESPOSTA DA NASA
Suzanne Dodd, project manager da Voyager, respondeu a algumas questões do i mas preferiu não especular sobre a possibilidade de as naves virem a ser descobertas por uma espécie alienígena inteligente. Sobre a proposta de Riley, esclarece: “Toda a memória das naves está a ser usada para guardar dados científicos. Não há memória disponível para armazenar uma nova mensagem (e também não há maneira de remover a mensagem antiga, isto é, o disco de ouro).”
CRONOLOGIA DAS VOYAGERS
20 Agosto de 1977
Voyager 2 é lançada do cabo Canaveral, EUA.
5 de Setembro de 1977
Voyager 1 é lançada do cabo Canaveral, EUA.
Setembro de 1977
V1 envia a primeira imagem da Terra e da Lua.
Janeiro 1979
V1 começa a fotografar Júpiter.
5 Março 1979
V1 faz a sua maior aproximação a Júpiter (349 000 km). Faz mais de 19 mil imagens.
9 Julho 1979
Maior aproximação da V2 a Júpiter (570 000 km). Descobriu alguns dos anéis do planeta e três novos satélites (Adrastea, Metis e Tebe) e ainda actividade vulcânica em Io.
12 Novembro de 1980
Maior aproximação da V1 a Saturno (124 000 km). Descobriu três luas: Atlas, Prometeu e Pandora.
25 Agosto 1981
Maior aproximação da V2 a Saturno (101 000 km).
24 Janeiro 1986
Maior aproximação a Úrano (V2 torna-se a primeira nave a passar pelo planeta). Descobriu 11 satélites e um anel ao redor do planeta.
1987
V2 observa a Supernova 1987A.
1988
V2 envia as primeiras imagens a cores de Neptuno.
25 Agosto de 1989
Maior aproximação de V2 a Neptuno (é a primeira nave a observar o planeta). Observa o satélite Tritão e começa a sua viagem para lá do sistema solar.
1990
V1 tira a famosa fotografia da Terra “Pálido Ponto Azul”.
17 Fevereiro 1998
V1 ultrapassa a distância da Pioneer 10 e torna-se no objecto feito pelo homem a estar mais longe da Terra.
15 Dezembro 2004 V1 entra na heliosfera.
2005 V1 está 95 unidades astronómicas (UA) de distância do Sol. Eram necessárias 12 horas para receber os sinais que enviava. Uma UA são 150 000 000 km.
Agosto 2006
V1 está a 100 UA do Sol.
Maio 2010
V1 está a 113,3 UA do Sol na constelação de Ofiúco.
Maio 2010
V2 está a 92 UA do Sol na constelação do Telescópio.
13 Dezembro 2010
Foi preciso esperar vários meses, mas a NASA oficializa: desde Junho que a V1 se encontra na heliosfera, a fronteira do sistema solar.
Hoje (6 Novembro 2015)
V1 está a 133 UA do Sol, V2 a 109 UA.
2017
V1 passa a heliopausa.
2025
V1 e V2 perderão o contacto com a Terra.
16 030
V2 sairá da Nuvem de Oort e entrará no espaço interestelar absoluto, ou seja, onde o campo gravitacional do sol já não tem qualquer influência.
42000
V1 estará a 1,6 anos-luz da AC+793888, estrela da constelação Camelopardalis.
296000 (+-)
V2 estará a 4,3 anos-luz de Sirius, a estrela alfa da constelação do Cão Maior, a estrela mais brilhante no nosso céu nocturno.