© Tiago Petinga/Lusa
Nas últimas semanas muito se tem escrito sobre o passado e o presente. Não existirá nisso nada de anormal, atendendo a que estamos, desde 1976, perante uma situação política nova. Nova ou pelo menos não previsível para a maioria das pessoas.
Não é assim de estranhar que tenham surgido muitas opiniões sobre a legitimidade de quem deve ou não governar e que, de igual modo, inúmeras sejam as posições quanto ao entendimento que devemos fazer do sistema de governo concebido pela Constituição. Há no entanto outros temas sobre os quais a direita deveria reflectir, perante um governo suportado pelo PS, pelo PCP e pelo BE. Porquê?
Essencialmente por três razões. Em primeiro lugar, porque esse governo, mesmo que apenas se mantenha em funções durante um ano, vai lançar um imenso desafio ao sistema partidário criado após o 25 de Abril; em segundo lugar, porque a reposição do PS no lugar que tinha abandonado quando meteu o socialismo na gaveta pode obrigar o PSD a decidir por fim o que é ideologicamente; em terceiro lugar, porque a união de toda a esquerda e a manutenção do PSD como potencial força alternativa, e já não de alternância, confrontará inevitavelmente o CDS quanto ao seu papel na vida política nacional.
Estamos então perante um problema? Estamos se quisermos manter um sistema partidário filho de um regime que nasceu à esquerda e que não só diabolizou como perseguiu e proibiu a direita; estamos se quisermos manter o equívoco de um sistema que sempre chamou consensos aos simples arranjos de poder entre quem alternava no poder; estamos se o PSD quiser continuar a afirmar--se social-democrata às segundas e terças, liberal às quartas e quintas, de centro às sextas e sábados e de direita aos domingos; estamos se apesar do imenso alarido que hoje temos nada de substancial mudar.
Bem sei que a mudança implica rupturas, desde logo com aqueles que gostam do sistema pela simples razão de que é esse sistema que lhes alimenta o ego e conforta o lugar adquirido, mas a mudança pode afinal corrigir o que nasceu torto impelindo a afirmação de uma direita de valores, livre e descomplexada.
O que deveríamos então também discutir é o futuro, ainda que para isso seja importante perguntar ao PSD e ao CDS se para tal estão preparados.
Professor da Universidade Lusíada
Escreve quinzenalmente à quarta-feira