Tempos novos


Ao que agora se assiste é algo que apavora a direita, mas que a devia tranquilizar, se fosse democrática e parlamentarista.


© Tiago Petinga/Lusa

Em política, em Portugal, o que era verdade há uns meses deixou de o ser. Mas os sinais de que algo estava a mudar já se insinuavam há muito. Quem dizia que por cá não havia projectos de protesto à esquerda e à direita, como acontecia noutros países, esquecia-se de analisar o que realmente se passava no país.

O PSD que temos há muito que ultrapassara o CDS pela direita e se afirmava como força aglutinadora também da extrema-direita. Uma extrema–direita ronceira, sem as trombetas da Le Pen. Coisas que se sabem fazer pela calada. Do lado contrário, o PCP e o Bloco congregavam todos os protestos à esquerda do PS.

O PCP, como um dos únicos partidos marxistas-leninistas que ainda resistem, com alguma força, na Europa; o BE como elemento que ia engolindo os descontentes do PS, à medida que as teorias da era pós- -Blair iam descaracterizando por completo o socialismo democrático e a social-democracia. Por isso, havia zonas de protesto à direita e à esquerda – começava era a não haver centrão. 

A derrota do PS nas eleições de 2015 não foi causada por este afastamento do centro, mas por não se aproximar da esquerda e deixar esses votantes engrossar as fileiras do BE e do PCP. Foi por deixar de ser um partido de protesto e apresentar a imagem de menino bem-comportado e respeitador oferecida por Seguro e Maria de Belém, entre outros rostos.

Foi por António Costa não ter mostrado devidamente a rutura com o passado. Por todos se aproximarem demasiado da política da coligação PSD-CDS, onde este último fazia figura de representante da política social da Igreja, e o primeiro de devoto radical de um neoliberalismo sem face humana. 

Posto isto, ao que se está agora a assistir é a algo que apavora a direita, mas que a devia, de certa forma, tranquilizar. Se esta direita fosse democrática e parlamentarista. O BE e o PCP, aqueles rapazes e raparigas simpáticos que protestavam mas não contavam para nada, eram um zero à esquerda mas serviam para enquadrar “civilizadamente” os protestos das massas nas ruas, agora querem ser alguém no quadro governativo.

Quanto ao PS, compagnon de route da coligação em tanto despautério, parece readquirir a sua independência e reaver os valores da social--democracia. Há quem diga que vai perder, e perder-se, nesta nova “aventura”. Tudo nos diz que se estava a perder, isso sim, no caminho que vinha tomando. Clarificar as águas é sempre bom. Tudo ao molho e fé em Deus parece que só dá resultado, quando dá, no futebol. 

Novos ventos varrem o mundo. Esta política de austeridade decretada pela alta finança mundial está a descarrilar, em virtude dos excessos cometidos. Na Europa há vários indícios de mudança. No resto do mundo também. Veja-se o caso do Canadá. 

Escreve à sexta-feira

Tempos novos


Ao que agora se assiste é algo que apavora a direita, mas que a devia tranquilizar, se fosse democrática e parlamentarista.


© Tiago Petinga/Lusa

Em política, em Portugal, o que era verdade há uns meses deixou de o ser. Mas os sinais de que algo estava a mudar já se insinuavam há muito. Quem dizia que por cá não havia projectos de protesto à esquerda e à direita, como acontecia noutros países, esquecia-se de analisar o que realmente se passava no país.

O PSD que temos há muito que ultrapassara o CDS pela direita e se afirmava como força aglutinadora também da extrema-direita. Uma extrema–direita ronceira, sem as trombetas da Le Pen. Coisas que se sabem fazer pela calada. Do lado contrário, o PCP e o Bloco congregavam todos os protestos à esquerda do PS.

O PCP, como um dos únicos partidos marxistas-leninistas que ainda resistem, com alguma força, na Europa; o BE como elemento que ia engolindo os descontentes do PS, à medida que as teorias da era pós- -Blair iam descaracterizando por completo o socialismo democrático e a social-democracia. Por isso, havia zonas de protesto à direita e à esquerda – começava era a não haver centrão. 

A derrota do PS nas eleições de 2015 não foi causada por este afastamento do centro, mas por não se aproximar da esquerda e deixar esses votantes engrossar as fileiras do BE e do PCP. Foi por deixar de ser um partido de protesto e apresentar a imagem de menino bem-comportado e respeitador oferecida por Seguro e Maria de Belém, entre outros rostos.

Foi por António Costa não ter mostrado devidamente a rutura com o passado. Por todos se aproximarem demasiado da política da coligação PSD-CDS, onde este último fazia figura de representante da política social da Igreja, e o primeiro de devoto radical de um neoliberalismo sem face humana. 

Posto isto, ao que se está agora a assistir é a algo que apavora a direita, mas que a devia, de certa forma, tranquilizar. Se esta direita fosse democrática e parlamentarista. O BE e o PCP, aqueles rapazes e raparigas simpáticos que protestavam mas não contavam para nada, eram um zero à esquerda mas serviam para enquadrar “civilizadamente” os protestos das massas nas ruas, agora querem ser alguém no quadro governativo.

Quanto ao PS, compagnon de route da coligação em tanto despautério, parece readquirir a sua independência e reaver os valores da social--democracia. Há quem diga que vai perder, e perder-se, nesta nova “aventura”. Tudo nos diz que se estava a perder, isso sim, no caminho que vinha tomando. Clarificar as águas é sempre bom. Tudo ao molho e fé em Deus parece que só dá resultado, quando dá, no futebol. 

Novos ventos varrem o mundo. Esta política de austeridade decretada pela alta finança mundial está a descarrilar, em virtude dos excessos cometidos. Na Europa há vários indícios de mudança. No resto do mundo também. Veja-se o caso do Canadá. 

Escreve à sexta-feira