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Um governo PS com o apoio do PCP e do BE está de acordo com as disposições constitucionais. Esta é a forma. Mas a política não se cinge à forma, ao cumprimento da letra da lei. Se assim fosse, e por muito que aquilo que António Costa está a fazer não fira o texto constitucional, boa parte do PS não estaria chocado. Nós não estaríamos chocados. Mas estamos. E estamos porque a actuação de António Costa peca em três pontos: em primeiro lugar, o PS não ganhou as eleições.
Fundamentalmente, ao não permitir que quem as venceu governe, Costa não apenas tem mau perder como põe o país dependente da sobrevivência do PS, que receia seguir as pisadas do PASOK na Grécia.
Em segundo lugar, ao colocar-se ao lado da extrema-esquerda, o PS torna-se refém desta. Precisará cada vez mais dela até ser sugado pela prática constante de se anular para se manter no poder.
Por fim, se o objectivo de um governo à esquerda é reverter as políticas dos últimos quatro anos, porque não se uniu a esquerda antes do voto? Se era assim tão linear, porque não foram a jogo de forma clara? A resposta é simples e óbvia: porque tiveram medo. É muito mais fácil perder e depois, só depois de o povo escolher, decidir.
Depois de ter estado com Costa, Catarina Martins afirmou que o governo Passos-Portas tinha terminado naquele momento. Veja-se como o governo não termina no dia das eleições, mas à saída de uma reunião à porta fechada. As regras podem estar a ser cumpridas mas, quando quem ganha não governa, cabe perguntar: é esta a democracia que escolhemos?
Advogado
Escreve à quinta-feira