Henning Mankell. Entre Maputo e a Suécia, as últimas moradas  de “Kurt Wallander”

Henning Mankell. Entre Maputo e a Suécia, as últimas moradas de “Kurt Wallander”


Desapareceu o escritor sueco que dividia a vida entre a Europa e África. Ficam os mais de 40 milhões de livros vendidos no mundo.


“Um dia de enorme tristeza”, lamentava o escritor Luis Sepúlveda quando lhe chegou a notícia da morte de Henning Mankell, aos 67 anos. 

Mankell nasceu em Estocolmo em 1948 e, quando tinha dois anos, mudou-se para Sveg, onde o pai trabalhava como juiz. Aos 16 anos abandonou a escola para trabalhar como marinheiro durante dois anos, antes de se estabelecer em Paris. Depois de um ano e meio na capital francesa, regressou à Suécia e conseguiu um emprego como assistente de palco de um teatro de Estocolmo.

O escritor Luis Sepúlveda realçou a sua admiração por “um homem capaz de se bater por causas justas”

Foi em 1973 que se lançou na escrita com o romance “Bergsprängaren” (“The Rock Blast”). No mesmo ano visitou África pela primeira vez e desde essa altura dividia o seu tempo entre Moçambique, onde fundou o Teatro Avenida em 1986, e Ystad, no sul da Suécia.

Em 1991, Henning Mankell lançou o seu primeiro policial da série Wallander, com o título “Assassinos Sem Rosto”. Desde essa altura editou mais nove romances da mesma série – todos publicados em Portugal na colecção “O Fio da Navalha”, da editora Presença – e ainda iniciou uma trilogia com a filha de Wallander, Linda, que também se tornou polícia. Porém, o único livro publicado dessa série foi “Before The Frost”. Depois da estreia de “Wallander” na televisão sueca, Kenneth Branagh interpretou o papel principal na versão para a BBC.

Além dos policiais, Mankell escreveu mais de 20 novelas, cerca de 40 peças de teatro e uma dúzia de livros para crianças. É um dos dramaturgos mais encenados na Suécia.

Mankell foi casado com a realizadora Eva Bergman, filha do famoso cineasta sueco Ingmar Bergman

Para o escritor Luis Sepúlveda, “desapareceu um dos grandes, verdadeiramente grandes escritores contemporâneos”. O chileno escreveu mesmo que Henning Mankell “revolucionou a literatura com a sua maneira impecável de narrar a realidade a partir da ficção”. 

O escritor latino conheceu o sueco em Moçambique nos anos 80 e afirmou que “nunca deixou nem deixará de admirar um homem capaz de se bater por causas dignas e um escritor que compartilhou com a mais pura generosidade os segredos da sua arte narrativa”.

Luis Sepúlveda refere ainda que Henning foi “modesto, solidário e nada dado a vaidades literárias”, e conclui que ele “é e será um dos grandes mestres da literatura”.

O escritor sueco foi sempre um activista político, considerado de esquerda, desde os anos 60, altura em que se insurgiu contra o colonialismo português e o apartheid na África do Sul. Chegou a ser detido em 2010 quando se juntou a uma frota de navios suecos que tentavam levar ajuda aos palestinianos na Faixa de Gaza.

O escritor, que vendeu mais de 40 milhões de livros em todo o mundo, considerado um dos mestres do policial negro, foi casado com a realizadora Eva Bergman, filha do famoso cineasta sueco Ingmar Bergman. Morreu, vítima de cancro (chegou a publicar um diário do seu diagnóstico e tratamento), na madrugada de segunda-feira, em Gotemburgo, na Suécia.