A versão lusitana do gaulês que anda de lambreta em Paris


Costa é socialista radical uns dias e um perigoso neoliberal quando convém. Segue os passos de Hollande, o farol fundido da esquerda.


François hollande é um gaulês muito especial. Chegou ao poder em 2012 a gritar contra a austeridade, com ameaças de pôr a sra. Merkel de joelhos. Os socialistas europeus, com os portugueses no rebanho, choraram de alegria. Agora sim, a Europa social e de esquerda ia ter um líder à altura, um farol ao leme da Europa capaz de derrotar os perigosos radicais de direita, os que punham a austeridade à frente de tudo e de todos. Foi sol de pouca dura.

Com uma economia estagnada, um défice acima dos 3% e uma dívida pública bem acima dos 60% permitidos na zona euro, o gaulês socialista foi rapidamente posto na ordem e pôs-se de joelhos perante a chanceler alemã. Perdeu eleições locais e regionais e rapidamente mudou de primeiro-ministro. Manuel Valls tem vergonha do socialismo, aprovou à força uma lei para o trabalho e para a economia que pôs os socialistas à beira de um ataque de nervos e lá segue decidido na sua batalha contra os velhos constrangimentos da economia e da sociedade francesas.

Mas se passou de bestial a besta na família socialista, Hollande recuperou a sua fama na esquerda quando, na célebre cimeira de 17 horas, salvou Tsipras e a Grécia de serem expulsos da zona euro. Sol de pouca dura, mais uma vez. Dias depois de ter saído de Bruxelas como um herói da esquerda, Hollande deitou tudo a perder com a sua famosa proposta do clube dos seis. De uma penada, o presidente francês só quer seis países com a moeda única, com um governo, um parlamento e um orçamento. Os outros 13 vão para a rua, com um euro de segunda ou as suas velhas moedas.

O herói de Bruxelas para a esquerda amante do Syriza passou de novo a ser o vilão dos socialistas, desesperados por um farol que lhes dê uma luzinha ao fundo do imenso túnel em que estão metidos há muitos anos. Por cá, também há um Hollande à portuguesa. Chama-se António Costa, secretário-geral do PS, que anda por aí desesperado com a possibilidade de a sobretaxa do IRS baixar em 2016 e reza a todos os santinhos para que o desemprego não baixe mais até às eleições.

Campeão na luta contra a austeridade, avançou com um programa eleitoral à boa maneira socialista, em que promete mais dinheiro nos bolsos dos portugueses e mais investimento público para animar a economia e fazer crescer o emprego. Mas António Costa tem dias. Depende das plateias. Se tem reformados à frente, promete-lhes a terra e o céu.

Se tem desempregados, promete-lhes trabalho sem termo e salários dignos. Se tem chineses na plateia, elogia o governo e diz-lhes que o país, em 2015, não se compara ao Portugal de 2011, o ano da bancarrota. E se tem economistas ou empresários a escutar as suas sábias palavras, como aconteceu há dias, o caldo socialista entorna-se rapidamente e a conversa passa a ser digna de um perigoso neoliberal.

Para o secretário-geral do PS, um governo socialista não repetirá o modelo económico-financeiro aplicado até 2007, sustentando que é preciso fazer diferente e atacar os bloqueios que se colocam à competitividade do país. E para quem tivesse dúvidas sobre o pensamento de António Costa, o líder socialista esclareceu que a economia portuguesa não tinha qualquer futuro mesmo sem a crise internacional de 2008.

O modelo económico seguido em Portugal anos a fio por PS e PSD estava e está falido. Palavras sábias do Hollande português que deixam uma natural dúvida aos portugueses que vão votar no dia 4 de Outubro. Se puserem a cruzinha no PS, estão a escolher um governo contra a austeridade ou a optar por um executivo que aposta na disciplina das contas públicas, no controlo da dívida pública e nas mudanças estruturais da economia? Não se sabe. Mas numa coisa Costa é diferente de Hollande. Não anda de lambreta nas ruas de Lisboa. 

A versão lusitana do gaulês que anda de lambreta em Paris


Costa é socialista radical uns dias e um perigoso neoliberal quando convém. Segue os passos de Hollande, o farol fundido da esquerda.


François hollande é um gaulês muito especial. Chegou ao poder em 2012 a gritar contra a austeridade, com ameaças de pôr a sra. Merkel de joelhos. Os socialistas europeus, com os portugueses no rebanho, choraram de alegria. Agora sim, a Europa social e de esquerda ia ter um líder à altura, um farol ao leme da Europa capaz de derrotar os perigosos radicais de direita, os que punham a austeridade à frente de tudo e de todos. Foi sol de pouca dura.

Com uma economia estagnada, um défice acima dos 3% e uma dívida pública bem acima dos 60% permitidos na zona euro, o gaulês socialista foi rapidamente posto na ordem e pôs-se de joelhos perante a chanceler alemã. Perdeu eleições locais e regionais e rapidamente mudou de primeiro-ministro. Manuel Valls tem vergonha do socialismo, aprovou à força uma lei para o trabalho e para a economia que pôs os socialistas à beira de um ataque de nervos e lá segue decidido na sua batalha contra os velhos constrangimentos da economia e da sociedade francesas.

Mas se passou de bestial a besta na família socialista, Hollande recuperou a sua fama na esquerda quando, na célebre cimeira de 17 horas, salvou Tsipras e a Grécia de serem expulsos da zona euro. Sol de pouca dura, mais uma vez. Dias depois de ter saído de Bruxelas como um herói da esquerda, Hollande deitou tudo a perder com a sua famosa proposta do clube dos seis. De uma penada, o presidente francês só quer seis países com a moeda única, com um governo, um parlamento e um orçamento. Os outros 13 vão para a rua, com um euro de segunda ou as suas velhas moedas.

O herói de Bruxelas para a esquerda amante do Syriza passou de novo a ser o vilão dos socialistas, desesperados por um farol que lhes dê uma luzinha ao fundo do imenso túnel em que estão metidos há muitos anos. Por cá, também há um Hollande à portuguesa. Chama-se António Costa, secretário-geral do PS, que anda por aí desesperado com a possibilidade de a sobretaxa do IRS baixar em 2016 e reza a todos os santinhos para que o desemprego não baixe mais até às eleições.

Campeão na luta contra a austeridade, avançou com um programa eleitoral à boa maneira socialista, em que promete mais dinheiro nos bolsos dos portugueses e mais investimento público para animar a economia e fazer crescer o emprego. Mas António Costa tem dias. Depende das plateias. Se tem reformados à frente, promete-lhes a terra e o céu.

Se tem desempregados, promete-lhes trabalho sem termo e salários dignos. Se tem chineses na plateia, elogia o governo e diz-lhes que o país, em 2015, não se compara ao Portugal de 2011, o ano da bancarrota. E se tem economistas ou empresários a escutar as suas sábias palavras, como aconteceu há dias, o caldo socialista entorna-se rapidamente e a conversa passa a ser digna de um perigoso neoliberal.

Para o secretário-geral do PS, um governo socialista não repetirá o modelo económico-financeiro aplicado até 2007, sustentando que é preciso fazer diferente e atacar os bloqueios que se colocam à competitividade do país. E para quem tivesse dúvidas sobre o pensamento de António Costa, o líder socialista esclareceu que a economia portuguesa não tinha qualquer futuro mesmo sem a crise internacional de 2008.

O modelo económico seguido em Portugal anos a fio por PS e PSD estava e está falido. Palavras sábias do Hollande português que deixam uma natural dúvida aos portugueses que vão votar no dia 4 de Outubro. Se puserem a cruzinha no PS, estão a escolher um governo contra a austeridade ou a optar por um executivo que aposta na disciplina das contas públicas, no controlo da dívida pública e nas mudanças estruturais da economia? Não se sabe. Mas numa coisa Costa é diferente de Hollande. Não anda de lambreta nas ruas de Lisboa.