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O pacote de austeridade imposto aos gregos é um dos mais violentos desde o primeiro resgate, em 2010. Papandreou e Samaras foram uns verdadeiros durões nas discussões com os credores. Tsipras, o marxista comunista que levou os gregos a votarem contra medidas bem mais leves, transformou-se em poucos dias num cordeirinho obediente dos implacáveis ministros das Finanças do euro, com o intratável Wofgang Schäuble à cabeça.
Em troca de um novo empréstimo que pode ultrapassar os 80 mil milhões de euros, o governo de Atenas está disposto a assinar por baixo um memorando que implica cortes nas pensões, nos salários, despedimentos na função pública, aumentos de impostos e redução substancial do orçamento das poderosas forças armadas.
Contas feitas, são mais de 13 mil milhões de euros de austeridade num programa de três anos.É evidente que tudo isto vale o que vale numa Grécia que em cinco anos de crise não cumpriu com a maior parte dos compromissos assumidos com os credores. Mas a súbita conversão de Tsipras e dos seus camaradas do Syriza à austeridade é meramente uma jogada táctica necessária perante a forte determinação de muitos países da zona euro de cortarem o mal pela raiz.
Como bom marxista-leninista, Tsipras percebeu que depois do passo em frente com a marcação e a vitória estrondosa contra a austeridade no referendo de dia 5 se impunha dar rapidamente dois passos atrás. Demitiu Varoufakis do governo e em dois dias apresentou uma proposta de acordo aos credores que pisa todas as linhas vermelhas das promessas eleitorais e atira para o lixo a vontade manifestada por 61% dos gregos num plebiscito marcado à pressa para a Europa ver que era impossível impor mais austeridade ao país.
Com os bancos fechados há duas semanas, muitas empresas paradas, aumento do desemprego, a economia de rastos e as forças armadas cada vez mais nervosas, o primeiro-minitro grego percebeu que dificilmente resistirá ao caos social em que o seu governo está a lançar a Grécia. E Tsipras e o seu Syriza a última coisa que desejam é abandonar o poder que lhes caiu no colo ao fim de cinco anos de crises e de austeridade.
Os marxistas-leninistas estão, para além das novelas de Bruxelas, a impor de forma implacável o seu programa radical e socialista na Grécia. A liberdade e a democracia, valores essenciais nas sociedades modernas e desenvolvidas, são meros instrumentos de conquista de poder para partidos como o Syriza. Nos seis meses que andaram em jogos e joguinhos com os credores, os homens e mulheres de Alexis Tsipras andaram muito ocupados a assaltar o aparelho de Estado grego.
Os exemplos começam agora a vir a público depois de muitos gregos por esta Europa andarem a tapar o Sol com a peneira para nada manchar a obra-prima marxista na União Europeia e na zona euro. Técnicos independentes do Ministério das Finanças estão a ser perseguidos e alvo de processos disciplinares. De 13 directores da Educação nomeados pelo governo, 12 são do Syriza. E o Ministério da Informação anunciou a abertura de inquéritos e processos a jornalistas de órgãos de comunicação social privados pela cobertura do plesbicito de dia 5 depois de ter reaberto a televisão pública, órgão supremo da propaganda socialista.
O possível acordo com os credores e os três anos de memorando são o tempo e o dinheiro que o Syriza consideram necessários e talvez suficientes para impor um regime autoritário e marxista na Grécia. A Europa, como de costume, vacila numa altura em que devia pôr os pés à parede e despachar a Grécia para os braços do socialismo e da miséria. O resto, geopolítica, migração e abraços ao urso russo, é conversa da treta. Está tudo nos livros.