Vanessa queria casar com o seu melhor amigo mas felizmente já desistiu


A ideia de fazer um casamento por interesse transformou-se numa obsessão para a minha amiga Vanessa desde que percebeu o êxito da relação entre Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. 


Achou que era boa ideia tentar a coisa com o Zé Manel, o seu melhor amigo. Infelizmente, é raro as coisas correrem bem.

Os dias já estão bonitinhos, podemos beber imperiais ao fim da tarde. Em Londres ninguém precisa de dias bonitinhos para beber imperiais ao fim da tarde e deve ser por isso que Londres, apesar do mau tempo agreste, é um sítio estupidamente feliz. E, by the way, a ideia de que a chuva é uma coisa desagradável está hipervalorizada.

Há uns dias, eu e a Vanessa fomos para uma esplanada fazer uma reflexão profunda sobre o sentido das coisas, incluindo sobre as coisas que não têm sentido nenhum que, tem dias, são a maioria.

– Vá, explica-me então porque é que eu não devo tentar casar com o Zé Manel.

Inspirada na duração extraordinária da relação entre Pedro e Paulo (quem sonhava há três anos que o governo chegaria ao fim do mandato? Cavaco sozinho?) a Vanessa decidiu que só um casamento por interesse é um casamento perfeito. Ou, pelo menos, vem “com garantia” – se partir, conserta-se. Tantos casamentos e namoros depois, a Vanessa gostava de experimentar um coisa com o mínimo de estabilidade. A improvável resistência deste governo, mesmo com o desprezo mútuo que existe entre Pedro e Paulo foi, de certa forma, uma epifania.

– Quando há interesses comuns as coisas simplificam-se. Mas porque é que te opões à ideia de eu estudar a possibilidade de casar com o meu melhor amigo, o Zé Manel?

– Oh, Vanessa…

O melhor amigo é, só por si, uma coisa anticasamento. O melhor amigo é da família. Sexo com família é incesto.

Casamento sem sexo é corrente, claro, mas ligeiramente aborrecido. Não se casa com o melhor amigo, ponto.

– Mas não tenho a certeza de que seja impossível sexo com o Zé Manel… Ele é querido, doce, encantador. Aliás, é meu confidente há alguns anos.

– E ele quer ter sexo contigo?

– És parva, nunca tocámos nesse assunto! Sempre fomos só amigos!

– Então não sei.

Havia aqueles homens que, na ausência de outra proposta mais interessante, conformavam-se com o papel de amigos. E às vezes davam mesmo grandes amigos. Mas depois havia aqueles amigos, os tais com quem não havia literalmente nada a fazer. O Zé Manel era de que tipo?

– Ó pá, nunca pensei nisso antes. O Zé Manel é querido sempre. Manda-me mensagens espectaculares. Está sempre preocupado comigo. Telefona-me pelo menos uma vez por semana.

– Mas é um amigo-família, certo? Em que situações é que te vês a sair com ele? Ou, pronto, a dormir?

– Pois, tenho que ver.

A Vanessa convidou o Zé Manel para jantar. Levou um vestido decotadíssimo que Jane Austen não aprovaria. Depois embebedou-se para ganhar coragem. Tomar a iniciativa tinha deixado de ser uma opção desde que concluiu, infeliz e tardiamente, que a revolução sexual é uma farsa. O problema foi que se embebedou de mais – um erro para quem pretende ter algum domínio da situação. Em certas situações, o álcool devia ser proibido a maiores de 40.

– Zé Manel, anda para a cama comigo.
Isto foi o que ela disse, segundo me contou depois. O  Zé Manel entrou em pânico. Também estava um bocado bêbado.

– Ir para a cama contigo? Estragar esta coisa fantástica que temos?

A Vanessa ficou passada, além de bêbada. Decidiu nunca mais voltar a ver o Zé Manel.


Vanessa queria casar com o seu melhor amigo mas felizmente já desistiu


A ideia de fazer um casamento por interesse transformou-se numa obsessão para a minha amiga Vanessa desde que percebeu o êxito da relação entre Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. 


Achou que era boa ideia tentar a coisa com o Zé Manel, o seu melhor amigo. Infelizmente, é raro as coisas correrem bem.

Os dias já estão bonitinhos, podemos beber imperiais ao fim da tarde. Em Londres ninguém precisa de dias bonitinhos para beber imperiais ao fim da tarde e deve ser por isso que Londres, apesar do mau tempo agreste, é um sítio estupidamente feliz. E, by the way, a ideia de que a chuva é uma coisa desagradável está hipervalorizada.

Há uns dias, eu e a Vanessa fomos para uma esplanada fazer uma reflexão profunda sobre o sentido das coisas, incluindo sobre as coisas que não têm sentido nenhum que, tem dias, são a maioria.

– Vá, explica-me então porque é que eu não devo tentar casar com o Zé Manel.

Inspirada na duração extraordinária da relação entre Pedro e Paulo (quem sonhava há três anos que o governo chegaria ao fim do mandato? Cavaco sozinho?) a Vanessa decidiu que só um casamento por interesse é um casamento perfeito. Ou, pelo menos, vem “com garantia” – se partir, conserta-se. Tantos casamentos e namoros depois, a Vanessa gostava de experimentar um coisa com o mínimo de estabilidade. A improvável resistência deste governo, mesmo com o desprezo mútuo que existe entre Pedro e Paulo foi, de certa forma, uma epifania.

– Quando há interesses comuns as coisas simplificam-se. Mas porque é que te opões à ideia de eu estudar a possibilidade de casar com o meu melhor amigo, o Zé Manel?

– Oh, Vanessa…

O melhor amigo é, só por si, uma coisa anticasamento. O melhor amigo é da família. Sexo com família é incesto.

Casamento sem sexo é corrente, claro, mas ligeiramente aborrecido. Não se casa com o melhor amigo, ponto.

– Mas não tenho a certeza de que seja impossível sexo com o Zé Manel… Ele é querido, doce, encantador. Aliás, é meu confidente há alguns anos.

– E ele quer ter sexo contigo?

– És parva, nunca tocámos nesse assunto! Sempre fomos só amigos!

– Então não sei.

Havia aqueles homens que, na ausência de outra proposta mais interessante, conformavam-se com o papel de amigos. E às vezes davam mesmo grandes amigos. Mas depois havia aqueles amigos, os tais com quem não havia literalmente nada a fazer. O Zé Manel era de que tipo?

– Ó pá, nunca pensei nisso antes. O Zé Manel é querido sempre. Manda-me mensagens espectaculares. Está sempre preocupado comigo. Telefona-me pelo menos uma vez por semana.

– Mas é um amigo-família, certo? Em que situações é que te vês a sair com ele? Ou, pronto, a dormir?

– Pois, tenho que ver.

A Vanessa convidou o Zé Manel para jantar. Levou um vestido decotadíssimo que Jane Austen não aprovaria. Depois embebedou-se para ganhar coragem. Tomar a iniciativa tinha deixado de ser uma opção desde que concluiu, infeliz e tardiamente, que a revolução sexual é uma farsa. O problema foi que se embebedou de mais – um erro para quem pretende ter algum domínio da situação. Em certas situações, o álcool devia ser proibido a maiores de 40.

– Zé Manel, anda para a cama comigo.
Isto foi o que ela disse, segundo me contou depois. O  Zé Manel entrou em pânico. Também estava um bocado bêbado.

– Ir para a cama contigo? Estragar esta coisa fantástica que temos?

A Vanessa ficou passada, além de bêbada. Decidiu nunca mais voltar a ver o Zé Manel.