A campanha interna no PS voltou a aquecer, com António José Seguro a associar os apoiantes de Costa “aos negócios e interesses”. Numa entrevista à “Visão”, o secretário-geral garante que “o que existe no PS mais associado a essas coisas é apoiante de Costa”. A declaração caiu que nem uma bomba nas hostes do autarca de Lisboa. O próprio António Costa, sem se referir directamente a Seguro, veio ontem dizer que “só quem tem uma visão infantil da política é que pode achar” que este é um “desafio cómodo para oportunistas” .
O mandatário nacional de António Costa, Carlos César, assume a indignação. “É uma entrevista de uma pessoa que acha que adquire milagrosamente autoridade e crédito na proporção apenas da insinuação difamatória e do efeito de ruído que produz. Bem sei que Seguro afirma que não deseja a unidade, mas isso não o devia levar ao repúdio puro e simples dos que não têm a sua opinião ou não têm boa opinião sobre o seu desempenho”, afirma, em declarações ao i, Carlos César.
João Galamba foi ainda mais duro. “Estas declarações têm como único objectivo emporcalhar o espaço público”, disparou um dos principais apoiantes de Costa e deputado socialista, num comentário nas redes sociais. O deputado lamenta que “o secretário-geral do Partido Socialista” esteja a “dedicar-se à prática da insinuação canalha sobre o seu próprio partido”.
É a primeira vez que Seguro associa Costa à “velha política que mistura negócios, política, vida pública, interesses, favores, dependências, jogadas e intrigas”. Mas não é a primeira vez que o assunto surge na campanha interna. Em Maio, António Galamba, do Secretariado Nacional do PS, já tinha escrito, num artigo de opinião no i, que “ao longo de três anos houve sempre determinadas elites e interesses que nunca perdoaram nem aceitaram que o PS tenha um secretário-geral que não é de Lisboa e que não frequenta os corredores dos interesses instalados”.
Os costistas não gostaram de ser conotados com interesses menos claros. Renato Sampaio, ex-líder da distrital do Porto e deputado, defende que o “desespero não pode lançar lama sobre todos”. E devolve as acusações: “Era bom que o secretário-geral tivesse um olho bem atento ao que se passa com alguns dos seus apoiantes, as avenças, as consultorias e as empresas dos seus apoiantes”, escreve o deputado nas redes sociais.
A relação entre a política e os negócios transformou-se num dos principais temas de campanha de Seguro. Em Vila Nova de Gaia, anteontem à noite, o candidato às primárias defendeu “um país que não permita que exista promiscuidade entre a vida política e os negócios por mais legítimos que eles sejam”. Na entrevista à revista “Visão”, que foi ontem publicada, António José Seguro garante que com ele à frente do PS existe “uma separação clara entre política e negócios”. E revela que, se chegar a primeiro-ministro, não irá tolerar que “qualquer membro do governo tenha a mínima suspeita”. “Na dúvida, deve demitir-se. Já anunciei um código de ética dos candidatos do PS a deputados”, diz o secretário-geral dos socialistas e candidato às primárias do PS.
Com Ana Sá Lopes