O investigador da Universidade de Coimbra Bruno Paixão considerou hoje que a censura no Estado Novo e o sensacionalismo atual falseiam a perceção da corrupção política.
Bruno Paixão contestou ainda a ideia de que os políticos atuais são mais corruptos do que durante a ditadura.
“As pessoas têm uma perceção da realidade, mas isso não significa que esta esteja correta”, disse à agência Lusa Bruno Paixão, apontando para um estudo realizado pelo próprio em 2013, com uma amostra de cinco mil pessoas, em que 70% dos inquiridos afirmavam que formatavam a “informação e o conhecimento do que se passa no mundo” a partir da comunicação social.
Essa perceção da realidade através dos meios de comunicação toma uma proporção “maior no que diz respeito ao período do Estado Novo”, em que a informação “se restringia a jornais e à rádio, em que era censurada e por isso significa que não saíam cá para fora os casos de corrupção e de escândalo”.
“Ou seja, a corrupção ocorria, mas permanecia incógnita. Em regimes autoritários, a imprensa está condicionada pelas objeções do poder dominante”, defendeu.
Para além da censura durante o Estado Novo, o “imediatismo atual e a competição no mercado da informação” levam a que haja uma “’tabloidização’ da informação e que se use e abuse do info-entretenimento”.
“O escândalo e a corrupção têm os ingredientes necessários para um jornalista arrancar uma boa história que depois estica ao máximo e a personaliza bastante”, frisou o investigador.
A própria democracia “está mais vulnerável à corrupção e a escândalos políticos”, sublinhou Bruno Paixão, explanando que, “normalmente, o escândalo sai da esfera privada para a esfera pública, semeado por adversários políticos”, que procuram expor os pontos fracos de pessoas de outros partidos e grupos de interesse.
Nas tensões e conflitos “entre opositores internos e externos”, o escândalo “pode ser uma arma poderosa”, observou.
Todas estas características favorecem “a proliferação dos casos que ocorrem na democracia, mas não significa, nem pode significar, que haja hoje mais corrupção política do que em tempos de ditadura”, concluiu Bruno Paixão.
Bruno Paixão é membro do projeto de investigação “Corrupção Política nos Media”, apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e dinamizado pelo Centro de Investigação Media e Jornalismo.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela agência Lusa