Europeias. 12 pequenos partidos disputam eleitorado com os grandes


Nestas eleições europeias, 12 pequenos partidos vão apresentar-se ao eleitorado. Ao todo, se o Constitucional validar todas as listas, serão 16 candidaturas, o que faz com que sejam as eleições mais disputadas de sempre. Em 2009 e 2004 apresentaram-se 13 partidos e em 1999 apenas 11 candidaturas (PSD e CDS concorreram juntos). Com excepção do…


Nestas eleições europeias, 12 pequenos partidos vão apresentar-se ao eleitorado. Ao todo, se o Constitucional validar todas as listas, serão 16 candidaturas, o que faz com que sejam as eleições mais disputadas de sempre. Em 2009 e 2004 apresentaram-se 13 partidos e em 1999 apenas 11 candidaturas (PSD e CDS concorreram juntos). Com excepção do PRD, em 1987, só os cinco partidos com maior dimensão conseguiram eleger deputados para o Parlamento Europeu, mas os oito mais pequenos que concorreram conseguiram juntos 5,4% dos votos.

Dois novos partidos concorrem pela primeira vez e resultam de dissidências no Bloco de Esquerda. O Livre de Rui Tavares, que foi eleito há cinco anos pelos bloquistas, mas, pelo caminho, desvinculou-se do partido em guerra com Francisco Louçã. E o Movimento Alternativa Socialista (MAS), de Gil Garcia, que se apresenta nestas eleições a pedir a “prisão para quem roubou e endividou o país”.

Entre os 12 pequenos partidos (ver caixa na página ao lado) há algumas caras conhecidas. É o caso do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto (MPT), do madeirense José Manuel Coelho (PTP) e do ex-eurodeputado do PS Paulo Casaca (PDA). Outros apostam em causas concretas para se apresentarem ao eleitorado, como o PPV (Portugal Pró-Vida), que vai bater-se contra o aborto e a favor de um novo referendo ou o PAN (Partido dos Animais), que luta pela defesa dos interesses da natureza.

A vida dos pequenos partidos está longe de ser fácil em eleições europeias e o politólogo José Adelino Maltez prevê que estas eleições “acabem por beneficiar os instalados”. “Continua a ser um clube de reservado direito de admissão. Infelizmente a democracia tem um espaço oligárquico que acaba por beneficiar os instalados”, acrescenta o investigador, ressalvando, porém, que o aumento do número de pequenos partidos poderá baixar a abstenção, que atingiu os 63,2% nas últimas eleições. Adelino Maltez classifica estas eleições como “um intervalo para as legislativas”, perante a falta de condições para se realizar um debate europeu.

SORTEIO O Tribunal Constitucional (TC) tem até dia 7 de Maio para apreciar a regularidade das candidaturas. Ontem, o TC fez o sorteio para definir o lugar em que cada candidatura aparece no boletim de voto. O PS vai aparecer em primeiro lugar e a coligação Aliança Portugal (PSD/CDS) surgirá em penúltimo. Em último lugar do boletim, o sorteio definiu que vai aparecer o PPM.

As promessas dos pequenos partidos 

PND avança com empresário “à força” que fala chinês 

Pedro Eduardo Welsh é “um homem de causas”. Depois de aprender chinês, andou pelo mundo e dedicou-se à defesa dos direitos humanos.

Quando regressou a casa,na Madeira, e depois de se dedicar a um “combate muito forte ao jardinismo”, as responsabilidades familiares falaram mais alto e o defensor de causas tornou-se “empresário à força”.
 
Este ano, depois de o PartidoNova Democracia (PND) ter tentado uma coligação alargada de pequenos partidos com pendor eurocéptico e de ter sondado várias figuras públicas para dar rosto à candidatura – o único conhecido acabou por ser Nicolau Breyner –, Welsh acabou cabeça-de-lista do partido, já numa corrida isolada. Ele que, há poucos anos, ainda como independente no PND, “não sabia muito do Tratado de Lisboa nem das questões europeias”.
 
Foi um convite de Manuel Monteiro para intervir num encontro de eurocépticos que lançou o agora candidato às europeias na busca de mais informação sobre a Europa e o aprofundamento do projecto político e económico. “A UniãoEuropeia já tem um conceito muito diferente do original e perdemos uma parte importante da nossa soberania”, considera agora Welsh, ao mesmo tempo que critica o facto de ser “tudo feito sem o consentimento dos povos” europeus.
 
O empresário defende, por isso, um duplo referendo: à moeda única e à própria União Europeia. Não porque defenda a saída de Portugal do grupo de 28 países que compõem a União – que não defende –, mas porque é preciso devolver a voz aos portugueses. “O euro não funciona e não vai funcionar, isto vai rebentar”, alerta o cabeça-de-lista.
 
PAN. Opartido que quer a felicidade e circo sem animais
 
O Partido dos Animais aparece nesta campanha eleitoral com uma proposta original: “a adopção de indicadores alternativos ao PIB, como a Felicidade Interna Bruta”. A ideia foi lançada por Orlando Figueiredo, cabeça-de-lista, e junta-se a outas como acabar com todos os espectáculos que “envolvam o uso e a exploração de animais”. OPAN não é, por exemplo, contra o circo desde que não tenha animais. 
 
O partido que defende os animais e a natureza quase que elegeu um deputado nas últimas eleições legislativas, em 2011, e garante que vai aparecer na campanha eleitoral como “uma carta fora do baralho para dizer que o jogo está à partida viciado”. Na apresentação das listas para as europeias, o líder do partido, Paulo Borges, garantiu que se o PAN conseguir eleger um representante para o Parlamento Europeu “Portugal e a Europa contarão com um deputado que fará verdadeiramente a diferença e será uma voz e um braço de transição urgente da velha Europa para o Mundo novo”. 
 
Pró-vida quer  “dar uma alma de valores à Europa”
Há engenheiros, professores universitários, gestores, donas de casa, pilotos, estudantes, empresários, activistas e uma série de outras áreas profissionais entre os candidatos do Portugal Pró-Vida (PPV), um partido de que apenas 3% dos portugueses alguma vez ouviram falar e que concorre pela primeira vez às europeias.
 
Católicos, budistas e ateus à procura de um lugar em Bruxelas, o local onde não deve ter espaço “tudo aquilo que não é natural”, diz Carlos Fernandes, número 11 da lista. Por exemplo? O casamento homossexual e, mais recentemente, a co-adopção de crianças por casais do mesmo sexo. Tudo questões que “a esquerda aprovou” e que não passarão de “variáveis modernas do experimentalismo social”. O partido “não é contra os homossexuais”, esclarece o candidato. Está, sim, contra a ideia de que a sociedade se “organize valorizando apenas essa realidade”.
 
Desse ponto de vista, o Parlamento Europeu é, para Carlos Fernandes, “o lugar ideal para se combater este tipo de políticas nefastas para a construção de um mundo melhor”. Políticas que o candidato do PPV considera resultarem na “tentativa de impor a ideia de que não nascemos com um sexo, que é tudo uma questão de escolha”. 
 
PTP candidata  “o mestre de Avis  do século XXI”
José Manuel Coelho não pede mais que um lugar em Bruxelas.
 
O objectivo do Partido Trabalhista Português (PTP), pelo qual Coelho já conseguiu a eleição para deputado no Parlamento Regional da Madeira, é conseguir esse lugar na Europa, numa vitória que permitiria ao “mestre de Avis do século XXI” fazer a defesa da “soberania nacional” junto dos restantes estados da União. 
 
A referência histórica ao mestre de Avis conta-se de um lance. José Manuel Coelho conta que, com a morte de D. Fernando, no final do século XIV, o reino português ficou sem descendência e com a soberania ameaçada. A filha, D. Beatriz, era casada com o rei de Castela e com isso, a independência da nação ficou em perigo. “O mestre de Avis reuniu os populares” numa sublevação contra a ameaça de Castela que acaba por levar o Infante D. Henrique ao trono. “Se não fosse o infante não havia cá Coelho a falar na Madeira”, lembra o cabeça-de-lista do PTP.
 
Os “partidos do sistema” – PS, PSD e CDS – são os adversários do candidato do PTP, os mesmos que “mandaram a Constituição às urtigas e que permitiram à UniãoEuropeia fazer “a política do roubo” ao “dar o chouriço a Portugal e levar o porco” – trouxeram os fundos que permitiram a construção de auto-estradas e, na troca, “impingiram as PPP”.
 
Na candidatura deste ano às europeias (por regra, as que menos portugueses leva às urnas), José Manuel Coelho apela ao voto das “pessoas desanimadas com a política”, para que “não façam frete aos partidos do sistema”. Porque Coelho é, garante o próprio, “um candidato diferente”.