Lixo abre guerra política: Costa acusa governo de montar cartel


A câmara de Lisboa recorreu aos serviços da Tratolixo, empresa concorrente à Valorsul, que está em greve desde segunda-feira. O presidente António Costa justificou a decisão com o facto de não estarem a ser cumpridos os serviços mínimos, acusando ainda o Ministério do Ambiente de “organizar um cartel” para impedir a autarquia de “encontrar alternativas”.…


A câmara de Lisboa recorreu aos serviços da Tratolixo, empresa concorrente à Valorsul, que está em greve desde segunda-feira. O presidente António Costa justificou a decisão com o facto de não estarem a ser cumpridos os serviços mínimos, acusando ainda o Ministério do Ambiente de “organizar um cartel” para impedir a autarquia de “encontrar alternativas”. Horas depois, foi a vez de a câmara de Vila Franca de Xira anunciar o mesmo, mas a empresa de Sintra não confirmou à Lusa o pedido.

A Tratolixo – que gere os resíduos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra – confirmou apenas que receberá, até hoje, mais de duas mil toneladas de resíduos urbanos de Lisboa, a pedido da Associação de Municípios de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra e para responder a “uma situação de excepcional necessidade”. Ainda assim, António Costa admitiu à tarde, numa conferência de imprensa, que o lixo poderia ficar por recolher durante esta madrugada. Desde o início da greve dos funcionários da Valorsul, que hoje termina, a câmara só conseguiu fazer recolhas na noite de segunda para terça-feira, tendo esgotado a capacidade de armazenamento – porque os camiões voltaram para trás anteontem à chegada das instalações da Valorsul – que garantiu cumprir os serviços mínimos.

O presidente da Valorsul fez ainda questão de salientar ao i que “14 dos 19 municípios” servidos pela empresa “têm vindo a realizar as descargas dos seus resíduos com normalidade.” E que, o único incidente aconteceu ontem na estação de São João da Talha (Loures) com um camião de Lisboa a não conseguir depositar os resíduos: “Constatado essa situação, foram tomadas providências para que tal não voltasse a verificar-se e foram de imediato abertos os portões da central tendo sido estabelecidas as condições para descarga de resíduos”, explicou João Pedro Rodrigues, adiantando que a opção da autarquia de Lisboa em recorrer a outra empresa “configurará uma violação da exclusividade do tratamento dos resíduos urbanos consagrada no contrato de concessão e nos contratos de entrega e recepção com os municípios integrados na Valorsul”.

António Costa, porém, continua sem certezas de que seja possível depositar os resíduos recolhidos, havendo uma “grande probabilidade” de não conseguir realizar todos os circuitos durante a noite.

A greve dos trabalhadores da Valorsul transformou-se numa guerra política, com o presidente da câmara de Lisboa a culpar o governo e acusar o Ministério do Ambiente de montar um “cartel” para impedir a câmara de arranjar alternativas à Valorsul. “Na terça-feira, o Ministério do Ambiente tentou organizar um cartel que nos impedisse de encontrar alternativas para a deposição dos resíduos, quer em aterros privados, quer noutros sistemas de tratamento de lixo”, acusou. O autarca revelou que a câmara contactou empresas, tendo recebido sempre a mesma resposta. “Que os serviços do Ministério do Ambiente lhes tinham comunicado a não autorização para receberem lixo de Lisboa”.

O Ministério do Ambiente reagiu, dizendo que os comentários de António Costa são “incompreensíveis e infundados” e apelando a que greve não seja instrumentalizada “para fins ideológicos”. Ontem à tarde, o ministro do Ambiente esteve reunido com o presidente da Valorsul. Moreira da Silva terá solicitado à empresa um “ponto de situação sobre o cumprimento dos serviços mínimos”.

Com Kátia Catulo