Desde sempre que o vulcão do monte Vesúvio adornou a paisagem de Nápoles e inspirou respeito nos seus habitantes. A erupção que destruiu Pompeia (a 20 quilómetros de Nápoles) é uma das mais conhecidas da História. Ontem, mesmo sem chegar perto da província italiana, o outrora adormecido FC Porto acordou. Tal como se fosse o dormente Vesúvio, Nápoles tremeu. Os dragões ganharam por 1-0, com golo de Jackson Martínez, e levam para a cidade italiana uma importante vantagem na eliminatória. E Luís Castro quebrou duas malapatas de uma vez só. O Porto não vencia um jogo na Liga Europa desde a final de 2010/11 contra o Sp. Braga e, esta temporada, ainda não tinha alcançado um triunfo no Dragão em partidas europeias. Boa estreia para o treinador portista na UEFA, ele que na véspera prometera uma equipa ambiciosa e a jogar para vencer. Missão cumprida.
Apesar de tudo, os dragões continuam com dificuldade em manter uma base assídua. Este foi o 39º jogo do Porto na temporada, no qual apresentou o 34º onze diferente. Fonseca mexia constantemente no meio campo e no centro da defesa – já Luís Castro só não repetiu o onze com o Arouca pois Alex Sandro tinha falhado o jogo da Liga por lesão. Ontem o novo técnico apostou naquele que, já se percebeu, será o esqueleto daqui para a frente, salvo alguma lesão ou estratégia ajustável a um adversário específico – Fernando, Defour e Carlos Eduardo são o trio do meio campo de Castro. O belga voltou a ganhar o seu espaço na equipa e parece dar razão ao treinador, já que está a jogar muito mais que Herrera. Josué, em sentido inverso, desapareceu das opções (desta vez nem sequer foi convocado).
Respeitinho A presença do presidente do Nápoles, De Laurentiis, no voo da equipa para o Porto não foi um acaso. Se no início da temporada a Liga Europa não era um objectivo minimamente atractivo – entretanto os napolitanos foram eliminados da Champions e já não têm qualquer hipótese de conquistar o scudetto –, agora está nas prioridades do clube. Por isso Rafa Benítez não poupou jogadores.
Higuaín, Hamsik e Callejón eram titulares. Mas o respeito pelo adversário levou o Nápoles a apresentar um meio campo de contenção, já que Henrique (defesa central) jogou em vez do médio Inler. O treinador espanhol alertara para a qualidade do Porto e pelo que se viu no relvado a estratégia napolitana era não sofrer golos na primeira parte e arriscar mais na etapa complementar para fazer um golo que dificultasse a vida aos dragões na eliminatória.
A jogar em casa, o Porto atirou-se ao adversário sem qualquer receio. Jackson só não marcou aos 12 minutos porque Reina fez uma defesa quase impossível. Aos 20’ os dragões conseguiram fazer mexer as redes da baliza napolitana, num cabeceamento de Carlos Eduardo. Um erro de julgamento levou o árbitro a anular o golo por fora-de-jogo do 20 portista. O balde de água fria arrefeceu (passe o pleonasmo) o entusiasmo da equipa portuguesa e aos poucos o Nápoles conseguiu levar o Porto para mais longe da sua grande área. Os italianos não conseguiam incomodar Helton mas iam tentando colocar rapidamente a bola em Higuaín à espera de um golpe de génio do avançado argentino.
Plano de ataque Os dragões voltaram a entrar a todo o gás no jogo. Ainda não tinham passado dois minutos na segunda parte quando Reina foi detectado pelos radares aéreos em mais uma defesa fantástica a remate de Fernando. Depois Quaresma voltou a estar perto do golo. Higuaín relembrou o Porto que estava em campo e Helton teve muita sorte ao desviar um remate do sul-americano. Antes que o Nápoles crescesse mais, Jackson, à meia-volta, fez o primeiro no Dragão.
Nos quinze minutos seguintes Castro colocou Quintero… e Ghilas (mantendo Jackson na frente). Aquele que era um plano D (de desespero) de Paulo Fonseca, quando a equipa precisava urgentemente de marcar, passou a solução a utilizar muito antes dos 85 minutos. Mesmo a ganhar, e com o Nápoles pela frente, Castro foi audaz. Talvez a pensar no 1-0 da época passada ao Málaga (Champions), que apesar da clara superioridade portista no Dragão, acabou por ser insuficiente para passar a eliminatória. Quintero, por sorte, ainda atirou ao poste. Já nos descontos Zapata falhou uma boa oportunidade na cara de Helton.
A vitória do Porto é justíssima. Não sofrer golos em casa é meio caminho andado mas, com a vantagem mínima, os 90 minutos em Nápoles não vão ser fáceis. Os campeões nacionais somam duas vitórias em dois jogos com Luís Castro. A substituição de treinador teve o efeito desejado no moral do plantel e os últimos resultados darão outro ânimo à equipa antes da importante deslocação a Alvalade, já no domingo.