Georges Moustaki. Morreu autor do “Fado Tropical” Portugal


Era considerado um dos grandes da música popular francesa das últimas décadas, um baladeiro romântico. Morreu ontem de manhã em Nice, vítima de doença prolongada aos 79 anos de idade. Visitou várias vezes Portugal, onde actuou pela última vez aos 73 anos, em 2008, no Porto e em Lisboa, quando apresentou o álbum “Vagabundo”. Adaptou…


Era considerado um dos grandes da música popular francesa das últimas décadas, um baladeiro romântico. Morreu ontem de manhã em Nice, vítima de doença prolongada aos 79 anos de idade.

Visitou várias vezes Portugal, onde actuou pela última vez aos 73 anos, em 2008, no Porto e em Lisboa, quando apresentou o álbum “Vagabundo”.

Adaptou o “Fado Tropical” de Chico Buarque da Holanda, com o nome Portugal, em homenagem à revolução do 25 de Abril de 1974.

O cantor viu na revolução portuguesa a esperança da concretização de um “socialismo de rosto humano”, um dos seus sonhos políticos frustrados.

“Aos que já não acreditam ver cumprir o seu ideal, diz-lhes que um cravo vermelho floriu em Portugal”, diz um dos versos da letra dessa canção de apoio à revolução portuguesa.

Autor e cantor de intervenção, Giuseppe Moustacchi nasceu em Alexandria, Egipto, a 3 de Maio de 1934, filho de pais gregos, tornando-se francês por adopção para onde emigrou em 1951. Profundamente ligado à cultura mediterrânica, foi sempre um “estrangeiro” que abominava as fronteiras.

De início vivia da venda de livros de poesia, porta-a-porta, até conhecer o seu ídolo Georges Brassens, que lhe transmitiu a vocação pela canção e de quem adoptou o primeiro nome em homenagem.

Brassens abriu-lhe as portas do mundo do espectáculo em 1952 na sala de concertos Trois Baudets, na qual actuava na altura outros dos seus ídolos, Henri Salvatore.

Moustaki trabalhou com todos os grandes nomes do panorama musical da época, desde Edith Piaf, de quem foi amante em 1958 e para a qual escreveu a letra da canção Milord, a Yves Montand, Juliette Gréco, Dalida ou Serge Reggiani.

Escreveu mais de três centenas de canções para os artistas mais famosos da cena cultural parisiense.

le méteque, milord, Ma Solitude foram as canções que catapultaram definitivamente Georges Moustaki como grande intérprete e o elevaram ao estrelato em França e a nível mundial com diversas versões cantadas por Pia Colombo, Serge Reggiani ou Edit Piaf.

Também conhecido pela defesa de causas políticas de esquerda, apoiou publicamente nas últimas eleições presidenciais francesas em 2012 o candidato do partido de extrema esquerda Novo Partido Anticapitalista.

“A minha sensibilidade aproxima-me dos libertários, dos grevistas. Não de uma ideologia nem de um movimento. Não tenho nem a vocação nem a missão de impor as minhas ideias. Tenho pulsões, utopias”, explicou certa ocasião à imprensa.

Viajante incansável, foi um eterno apaixonado pelo Brasil, cujos ritmos introduziu na canção francesa.

O cantor reconheceu numa das suas últimas entrevistas, em 2011 ao diário francês La Croix, ter tido “uma vida apaixonante. Gostaria que fosse assim até ao final”.

Nessas declarações tornou pública a doença respiratória de que padecia gravemente. “Custa-me exprimir-me, os meus músculos derreteram-se”.

Cantou “Bahia” em francês e em português. No refrão escreveu que “foi na Baía que começou o Brasil e sua primeira capital. É aqui que a África ainda vive no exílio e fala a língua de Portugal”.

“Viagem” foi o seu último trabalho, publicado, e em cuja letra dessa derradeira canção de despedida escreveu: “Vou desaparecer de corpo e alma. Guiado de comum acordo por todas as minhas insatisfações. Apelo a Deus e ao Diabo que me farão encontrar a morte”.

O grande sedutor revelou certa vez ao France Dimanche, quando já tinha 77 anos, algumas das suas decepções amorosas, entre os quais se incluíam Carla Bruni e Brigitte Bardot..

Sobre a ex-primeira dama, disse: “Uma jovem, muito bonita, interpela-me com o mais perturbador dos sorrisos, e diz-me: “Georges Moustaki, gosto muito das suas canções”, contou.

Dois anos depois deste primeiro encontro, Moustaki volta a encontrar-se com Carla Bruni e aproveita para a elogiar pelas suas canções. Carla respondeu-lhe: Passo todas as minhas noites consigo”. Infelizmente para o grande sedutor, a antiga top model e cantora falava apenas de uma emissão radiofónica que então produzia.

No final dos anos 50, Moustaki sucumbia à beleza estonteante de Bardot como quase todo o mundo. Tentou escrever-lhe letras de canções, mas a exuberante loira não se deixou convencer e optou por Roger Vadin para desempenhar a tarefa.

Na quinta-feira, o cantor romântico não resistiu ao que chegou a designar como “matador silencioso”.

“Fumei muito. Fiz tudo para que não progredisse, mas é uma doença perniciosa. É um matador silencioso que não faz barulho. Só nos apercebemos dos seus efeitos. Já não fumo há vinte anos. Não há justiça”, confidenciou.