Longe de Maputo, a Helpo está onde estão os problemas que, “Vacani Vacani” vão-se resolvendo


Estou de regresso a Nampula e quase a partir para Portugal. Faltam apenas dois dias para estar de volta a Lisboa e à vida normal, sem crónicas deste teor, sem o cheiro de África sem as cores de Moçambique, sem a emoção de estar aqui.  Mas não me posso queixar pois já levo recordações para…


Estou de regresso a Nampula e quase a partir para Portugal. Faltam apenas dois dias para estar de volta a Lisboa e à vida normal, sem crónicas deste teor, sem o cheiro de África sem as cores de Moçambique, sem a emoção de estar aqui.  Mas não me posso queixar pois já levo recordações para toda a vida e ainda falta um dia para aproveitar e outro para voar até Portugal. Sim, já tratei das prendas e dos recuerdos.

Ontem passei o dia em Maputo, cidade que comparada com o ”mato” por onde andei nos primeiros 9 dias, parece Nova Iorque ao lado da mais pequena aldeia portuguesa, sem qualquer desprimor para as nossas aldeias. Depois de almoço com dois amigos que agora se mudaram para cá, no Campo de Fiori (uma espécie de Restelo em Lisboa), fui guiado pela filha de um amigo, e com a missão de lhe entregar uma prenda enviada pela sua segunda mãe, pelas ruas de Maputo. Atravessando rua a rua, feira a feira, desde a zona dos Ministérios até passar pelo Luso (sem parar), à Estação dos Caminhos de Ferro de Moçambique, obra monumental que merece uma visita, à estátua de Samora Machel, ao Centro Cultural Franco-Moçambicano, aos cafés da moda, aos prédios dos portugueses que cá ficaram e até o Hospital Central…fiquei a conhecer uma cidade completamente diferente do país que conheci nos últimos dias. Mas eu hei de cá voltar.

A tarde anunciava a habitual concentração de festas nos passeios das ruas, em que várias mamãs montam geleiras com cerveja e grelhadores para assar carne, alinhadas nos passeios, de 5 e 5 metros, dão o colorido característico à “festa africana” como me dizia a Mariana: África é isto, somos assim. Um cheiro intenso a grelhada mista, os sons das aparelhagens dos carros que já por ali paravam, numa mistura confusa de ritmos africanos “masterizados” com “rátéres” de carros  “tunning” e umas pitadas de Zouk típico da região. Dizem-me que aqui, ao fim de semana, a partir das 17h é sempre assim. Afinal este era o fim de semana do Festival Zouk onde tive o prazer de estar, ainda que por míseras duas horas. Uma espécie de festival de música africana que encheu de ritmo os corpos já de si bem ritmados que habitam ou visitam Maputo e arredores. Como dizia a Mariana, quem tem dinheiro paga o bilhete, quem não tem diverte-se na mesma nestas ruas ao redor do recinto.

Mas não pensem que andei apenas a fazer turismo nestes três dias em Maputo. Além do que já vos contei tive também a oportunidade de reunir com o nosso cônsul por cá, bem como com o nosso novo Embaixador. Se dúvidas existissem, confirmei que Portugal vai estar muito bem representado neste país tão importante para os nossos interesses. Não escreverei aqui sobre política ou cooperação do Estado Português com Moçambique, mas não posso deixar de dizer que fico com a sensação que vai começar uma nova era nas relações entre Portugal e Moçambique em que tenho a certeza que os moçambicanos se sentirão mais respeitados e os portugueses mais úteis.

Estes dias em Maputo foram importantes para conhecer a comunidade portuguesa por cá; os seus problemas e desafios, que são imensos, as desilusões de quem vem cheio de sonhos e expectativas, mas também as oportunidades que, quem respeita o território onde chega, saberá aproveitar.

Quando, de Portugal, olhamos ao longe para Moçambique, parece-nos tudo perto. Mas Maputo, é longe de Nampula e de Cabo Delgado, e por isso a Helpo sente-se por vezes muito distante da capital. É em Maputo que está o dinheiro, mas é onde nós estamos que estão os verdadeiros problemas deste país, e por isso mesmo cada presença em Maputo é aproveitada pela Helpo para contactar eventuais patrocinadores que nos possam ajudar a complementar o apoio dos nossos padrinhos, os principais responsáveis pela oportunidade que a Helpo dá a estas crianças. Assim foi, uma correria de contactos entre a comunidade portuguesa por aqui, mas também janelas de oportunidade se foram abrindo junto de indianos, libaneses e até espanhóis que querem trabalhar por cá mas que também querem ajudar quem mais precisa. As sementes ficaram semeadas e espero que em breve possamos recolher os frutos.

Regressando a Nampula, não podia perder oportunidade de ir visitar Nairuco, os famosos montes moçambicanos, verdadeiros acidentes geológicos de cinza forte que enfeitam de forma desordenada mas imponente o castanho e o verde da natureza deste país. Rasgados pelas marcas das chuvas que escorrem por eles abaixo são como rinocerontes gigantes que parecem adormecidos na paisagem de Moçambique. Há aqui um restaurante de comida portuguesa onde os “tugas” acorrem ao domingo para matar saudades do bacalhau, do leitão ou da feijoada, mas também uma represa onde cartazes anunciam o perigo de haver crocodilos. Na dúvida, optei por não mergulhar.

Amanhã, antes de partir para Lisboa, ainda vamos até Teacane para visitar a comunidade onde a Helpo construiu um edifício com três salas de aula para os cerca de 600 alunos. É a última etapa antes do regresso a casa e as saudades já começam a apertar.

* Membro da direcção da Helpo e deputado da Assembleia da República