Helpo. Quase 4 mil portugueses são padrinhos à distância


ONG portuguesa constrói sonhos em Moçambique e São Tomé. Em parceria com a Helpo, o i revela os resultados de um apadrinhamento


Nos armazéns da Helpo amontoam-se caixotes etiquetados, contentores gigantes e cartas. Há livros misturados com kits de primeiros socorros, alimentos, sementes, móveis, brinquedos e materiais de construção. Todos os objectos fizeram milhares de quilómetros e em breve deverão começar uma nova jornada até aos lugares mais remotos de São Tomé e Príncipe e Moçambique.

A Helpo, organização não governamental (ONG) criada em 2008, é especialista em milagres matemáticos. Só nos últimos cinco anos construiu seis escolas primárias, duas creches, vários centros de actividades infantis, poços, bibliotecas e centros de saúde nestes dois países. Além de erguer paredes de pedra em lugares como Cabo Delgado ou Nampula – províncias de Moçambique em que a desnutrição crónica ainda apresenta índices de prevalência de mais de 50% da população -, a ONG ainda distribui alimentos e bens de primeira necessidade a milhares de crianças. Boa parte dos projectos só são conseguidos através das campanhas de apadrinhamento à distância: em Portugal existem quase 4 mil padrinhos, responsáveis pelo projecto de educação de cerca de 11 mil crianças africanas. Em Dezembro do ano passado eram 3991, espalhados por todo o país. E já foram muitos mais: em 2012, devido à crise económica, a Helpo registou uma quebra de 659 padrinhos. “Pessoas que deixaram de poder apoiar crianças que já apadrinhavam, em alguns casos há muito tempo”, conta Margarida Assunção, a responsável pelo Departamento de Apadrinhamento de Crianças à Distância. Mesmo assim, as crianças têm continuado a receber apoios regulares. Até porque, e apesar da quebra no número de padrinhos, o valor dos donativos livres que chegaram no ano passado à organização subiu 18%. Em 2012, a Helpo angariou um total de 746 mil euros – totalmente canalizados para projectos de assistência, educação, ajuda e desenvolvimento comunitário.

apadrinhar Para apadrinhar uma criança bastam 13 euros por mês – montante que serve para suportar as despesas escolares do afilhado. Outra modalidade prevê a entrega de 21 euros mensais, suficientes para garantir a assistência alimentar e educativa de uma criança. Também é possível apadrinhar uma turma inteira, em conjunto com outros padrinhos, por 26 euros trimestrais. O padrinho recebe em casa a ficha pessoal e uma foto do afilhado. Depois a Helpo fica responsável por promover a troca de correspondência entre os dois.

Foi através do apadrinhamento à distância que crianças como Fátima Ibraimo, de Moçambique, conseguiram ter uma vida melhor. “A Fátima vive com uma família numerosa que tem enormes dificuldades e tem problemas de visão gravíssimos”, conta Margarida Assunção. Para poder ter uns óculos graduados, Fátima e a mãe tiveram de percorrer 200 quilómetros até Nampula, para que a menina fosse vista na clínica de Optometria da Universidade de Lúrio. O principal problema, recorda Margarida Assunção, nem foi o pagamento dos óculos – que foram gratuitos -, mas a deslocação da aldeia à cidade. As duas viagens só foram possíveis com a ajuda da madrinha da menina, que se disponibilizou a contribuir.

No terreno, a Helpo selecciona as situações mais urgentes. A maioria das crianças chega às enfermarias e aos centros sociais em estado de malnutrição. Outras aparecem em situações dramáticas, como a Rosa, que nasceu com uma síndrome fetal alcoólica, ou o Jeremias, abandonado pela mãe e que agora vive com uma tia – que já vivia com escassos recursos e dois filhos a cargo. Ou o Mauro, que é órfão de mãe.

A Helpo promove campanhas regulares de angariação de bens – que depois são enviados em contentores para Moçambique ou São Tomé. Material escolar, vestuário, leite em pó, berços, cadeiras e mesas são bens procurados em todas as recolhas. Para apadrinhar uma criança ou contribuir com um donativo basta entrar em contacto com a associação. Através do site www.helpo.pt, pelo telefone 211 537 687 ou escrevendo para a Rua Catarina Eufémia, Fontainhas, 2750-318 Cascais.