Conceder crédito é um negócio de escala e financiar pequenas e médias empresas (PME) é uma actividade arriscada. As palavras são do presidente da SOFID, Diogo Gomes de Araújo, que acredita que o papel da empresa é cada vez mais relevante.
“O tecido empresarial português é constituído sobretudo por PME, que estão travadas em termos de liquidez e precisam de capital e apoio para se internacionalizarem para países com maior potencial de crescimento”, afirma o responsável.
A SOFID acredita que Moçambique, a par de Angola e do Brasil, são países do maior interesse para o investidor português. Há um ano, a sociedade de crédito passou a gerir o Fundo Português de Apoio ao Investimento em Moçambique (Investimoz), dotado de 94 milhões de euros para financiar projectos nacionais naquele país africano. Hoje, a SOFID já apoia cinco operações, algumas das quais consideradas projectos de êxito (ver caixas).
Actualmente, o Investimoz é apenas um fundo de capital de risco, mas a ideia é transformá-lo num fundo misto, para permitir, além da participação no capital, o endividamento e garantias, oferecendo um leque mais abrangente de alternativas aos investidores. A autorização já foi pedida ao governo e falta apenas o “sim” da secretária de Estado do Tesouro e Finanças, Maria Luís Albuquerque.
A SOFID realiza cerca de duas reuniões por dia com potenciais investidores – deverá realizar 500 reuniões até final do ano – e a selecção passa por um crivo apertado.
O objectivo da sociedade é apoiar projectos viáveis do ponto de vista económico-financeiro e com impacto positivo no país beneficiário. Ou seja, tem de existir uma componente social, na criação de emprego, na formação, na transferência de competências para o país alvo do investimento.
A segunda condição é a repartição equitativa do risco: tem de haver níveis de capital próprio adequados, isto é, entre 30% e 40% do capital investido deve ser do promotor.
Por fim, o promotor tem de ter experiência no negócio, “para que estejamos confortáveis a investir o dinheiro disponibilizado pelos contribuinte portugueses”, conclui Diogo Gomes de Araújo.
Os projectos apoiados pela sociedade têm uma dimensão média de 1 milhão de euros, podendo variar entre o meio milhão e os 2,5 milhões de euros. Em condições normais, o financiamento é feito a dez anos.
Criada em Dezembro de 2007, a SOFID é uma instituição financeira de crédito detida maioritariamente pelo Estado português (60% do capital), pelos quatro principais bancos nacionais, BCP, BES, CGD, BPI ( que detém 10% cada um), e pela ELO – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Económico e a Cooperação (0,01%).
O banco de desenvolvimento português é responsável por financiar e apoiar investimento de empresas portuguesas em países com elevado potencial de crescimento, em articulação com os objectivos e a estratégia do Estado em matéria de internacionalização. Os mercados-alvo sãos os países lusófonos ou as grandes economias, como a China e a Índia. Mas também há operações aprovadas em Marrocos, no México, no Peru e no Chile.
Por isso se torna tão importante para os responsáveis da SOFID a operação de aumento do capital, que ascende actualmente a 10 milhões de euros. A manter-se a situação actual, o escopo de acção ficará muito limitado e os novos projectos comprometidos, dizem os administrador José Moreno e João Real Pereira. “Não podemos correr o risco de a sociedade ficar parada”. “Se aumentarmos o capital para 20 milhões de euros, podemos aumentar a dimensão dos projectos em que participamos e fazer crescer e tornar mais apetecível este investimento do Estado e dos principais bancos portugueses”, rematam os responsáveis.
Higest moçambique, lda
lll A Higest Moçambique está entre as 50 maiores empresas do país, com mais de 220 trabalhadores e um volume de negócios de perto de 20 milhões de euros em 2011.
A empresa, em Moçambique há 15 anos, está entre as primeiras autorizadas a utilizar o selo “Made in Mozambique” e já criou diversas marcas: Nacional, Mercado Rural, Bobi e Higest.
Trata-se de uma sociedade agro-industrial que opera no sector avícola – produção de rações e criação e abate de frangos –, cuja produção em Moçambique arrancou em 1995. Foi a primeira entidade a receber o apoio da SOFID, em colaboração com o Millennium BIM.
O objectivo da companhia é, segundo Manuel de Almeida, presidente da Higest, “direccionar os esforços para o aumento da capacidade de produção e diversificar o seu leque de oferta privilegiando parceiros nacionais”.
Com um investimento ainda em curso, há factores-chave que fazem desta empresa um caso de sucesso. Por exemplo, a Higest compra mais de 65% das suas matérias-primas em Moçambique, contribuindo para a melhoria das condições de vida dos pequenos agricultores e das suas famílias. Além disso, fomenta o desenvolvimento económico local através do estabelecimento de parcerias com organismos oficiais e privados para estimular a agricultura e formar agricultores.
O investimento – que inclui extracção de óleos, fabrico de rações, um centro de incubação de pintos do dia, matadouro de aves e criação de marcas – contribuiu para a criação de emprego local, com cerca de 100 empregos directos e mais outros tantos de forma indirecta.
Os frangos para processamento são fornecidos por produtores locais, a quem a empresa vende pintos e a quem depois compra os frangos já crescidos. Desta forma, os agricultores locais têm uma fonte de rendimento contratualizada e segura, com direito a apoio técnico regular e gratuito.
Além disso, a empresa recuperou contentores do porto de Maputo, equipou-os com arcas congeladoras e com ar condicionado e colocou-os em exploração por antigos vendedores de rua nos principais mercados populares da capital.
Manuel de Almeida explica o truque: “Adaptarmo-nos à rapidez da mudança de Moçambique, sem nunca nos desviarmos dos nossos princípios de gestão.” Quanto ao resto, a SOFID serviu de garante a uma operação de financiamento para o investimento em capital do matadouro de aves, realizado entre 2009 e 2010. A internacionalização da Higest para Moçambique foi aprovada pelo Centro de Promoção de Investimento de Moçambique em 1992 e representou o primeiro passo na estratégia de investimento externo da companhia.
Moviflor Moçambique
lll O grupo Moviflor, que abriu uma loja em Luanda, Angola, há quatro anos, anunciou em Maio deste ano que vai replicar essa experiência bem sucedida e expandir o negócio para Moçambique. O objectivo é aumentar a sua presença no mercado internacional.
O embaixador de Moçambique em Lisboa, Jacob Nyambir, já disse que “o governo moçambicano está empenhado em criar um cada vez melhor ambiente de negócios para o investimento português e internacional”, acrescentando que “são bem-vindos todos os investimentos que criem postos de trabalho locais, contribuindo dessa forma para melhorar as condições de vida da população”.
Neste sentido, o grupo português delineou um projecto de investimento no valor de cerca de 12 milhões de euros (14,7 milhões de dólares).
A estratégia começa pela compra de um imóvel numa das principais artérias da capital, Maputo, e pela aquisição de um stock inicial de mercadorias, bem como do material necessário à instalação de escritórios, estrutura tecnológica de apoio e showroom. No edifício ficará centralizada toda a actividade relacionada com a administração da empresa e com a gestão da loja e de todo o processo logístico.
O apoio da SOFID traduziu-se na emissão de uma garantia bancária correspondente a 33,3% do valor do financiamento obtido pelo grupo Moviflor em Moçambique, junto do Millennium BIM.
A abertura da nova loja da Moviflor permitirá a criação de cerca de 60 postos de trabalho directos, existindo a expectativa de que a operação seja um pólo dinamizador do mercado local de venda de móveis e de produtos de decoração. O grupo português quer ainda contribuir para o desenvolvimento do tecido empresarial local, nomeadamente através do estabelecimento de parcerias com agentes económicos dos sectores da construção, decoração, design, transporte, artesanato, marketing e publicidade.
O processo de internacionalização da Moviflor arrancou em finais de 2007, quando a empresa de móveis virou as suas atenções para Angola e comprou a Decolar. A primeira loja em Luanda, com 65 trabalhadores, facturou 10 milhões de euros nos primeiros seis meses de actividade – um valor superior à média alcançada nas unidades portuguesas.
A directora-geral da Moviflor, Teresa Albuquerque, já anunciou planos para aumentar o número de unidades em Angola e a expansão da rede deverá arrancar no início do próximo ano.
Em Portugal, a marca criada por Catarina Remígio tem 28 lojas, tendo a abertura mais recente ocorrido em Évora.
Nutre Moçambique
lll A Prio Agricultura, agora Nutre, é uma empresa de direito moçambicano que iniciou a sua actividade em 2008, nas províncias de Sofala e Manica, produzindo matérias-primas (soja, girassol e milho) para a indústria agro–alimentar. Uma parte expressiva da produção entra no mercado interno alimentar.
A empresa dá emprego directo a perto de 80 trabalhadores e prevê criar cerca de mil postos de trabalho indirecto na região. Além da sede em Portugal e da presença em Moçambique, a empresa está na Roménia e no Brasil.
Em Moçambique o projecto tinha como objectivo aumentar a produção e diversificar o leque de culturas do feijão ao sorgo, através de um investimento para adquirir equipamento agrícola diverso (tractores, reboques, pivots de irrigação e outros) e factores de produção (sementes, fertilizantes e agro-fármacos).
O apoio da SOFID foi aprovado e contratualizado em 2010 e consistiu na prestação de uma garantia de 75% ao financiamento de cerca de 1,8 milhões de euros (2,3 milhões de dólares), concedido por um banco local parceiro da sociedade de crédito.
Com a concessão da garantia, a SOFID viabilizou o investimento, tendo desempenhado um importante efeito catalisador num projecto que pretende contribuir para a redução da dependência externa de Moçambique em cereais e noutros produtos alimentares.
Na base do desenvolvimento da Nutre está a agricultura, uma actividade primária que, com o avanço das tecnologias de ponta e o crescente interesse nas energias alternativas, tornou-se crucial no abastecimento de matérias-primas como os óleos vegetais e os cereais.
A entrada da Nutre no negócio agrícola levou à sua expansão para países como a Roménia, Portugal, Brasil e Moçambique, com o objectivo de desenvolver projectos de exploração agrícola e de contratualização com agricultores.
Como complemento desta estratégia, o grupo empresarial começou a integrar-se gradualmente na cadeia de valor do negócio agro-alimentar e apostou numa unidade de extracção de óleos e farelos para fins industriais e animais.
Seguindo as orientações políticas que determinam o encorajamento de alternativas capazes de reduzir a dependência face ao petróleo, o grupo investiu na produção de biodiesel, com uma fábrica de biocombustíveis na Roménia. Na mesma linha, desenvolveu uma cadeia de produtos alimentares à base de cereais, através da marca Prio Foods, e da produção para marcas próprias de grandes players da distribuição alimentar.