BCP a 13 cêntimos aumenta receio de intervenção do Estado


O Millennium valia ontem menos de mil milhões de euros e as acções do banco estiveram a cotar 13 cêntimos, o mínimo histórico. Embora, no limite, as acções da instituição possam continuar a cair até aos 0,00000001€, a verdade é que nestas situações a autoridade reguladora costuma suspender os títulos durante dois ou três dias…


O Millennium valia ontem menos de mil milhões de euros e as acções do banco estiveram a cotar 13 cêntimos, o mínimo histórico. Embora, no limite, as acções da instituição possam continuar a cair até aos 0,00000001€, a verdade é que nestas situações a autoridade reguladora costuma suspender os títulos durante dois ou três dias até se reestabelecer um equilíbrio. No foi o caso.
Apesar de todo o sector financeiro, nacional e internacional, ter sido penalizado na sequência do anúncio do primeiro-ministro grego, George Papandreou, de levar a referendo o programa de ajuda financeira da União Europeia, os bancos mais expostos à Grécia sofreram perdas de quase o dobro dos restantes. Foi o que aconteceu com o Millennium, que afundou quase 14%.
O BCP tem, através do Millennium Bank, uma exposição à Grécia de 6,330 mil milhões de euros, dos quais 4,287 mil milhões são crédito (1,98 mil milhões concedido a empresas e 2,302 mil milhões a particulares), de acordo com os resultados publicados a 30 de Julho último, no âmbito de um stress test.
O presidente do Millennium, Carlos Santos Ferreira, já admitiu recorrer à linha de recapitalização de 12 mil milhões de euros no âmbito do programa de ajuda externa a Portugal assinado com a troika (BCE, EU e FMI). Num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o responsável máximo da instituição revela que para o banco cumprir, até 30 de Junho de 2012, um rácio de capital de Core Tier 1 de 9%, terá de aumentar os fundos próprios 1,750 mil milhões de euros. Mas o montante global das suas necessidades é de 2,361 mil milhões, visto que 1,299 mil milhões de euros correspondem à exposição à dívida soberana grega, que a UE perdoou em 50%.
Analistas temem que o BCP se torne em mais um BPN. Os accionistas de referência do banco,  entre os quais se contam a Teixeira Duarte, Berardo, CGD, Sabadell, não querem, ou não podem, continuar a perder dinheiro.
A liderança de Carlos Santos Ferreira tem vindo a ser posta em causa. Desde que assumiu a presidência do banco, no início de 2008, o Millennium passou de um valor de mercado de 10 mil milhões de euros para 965,760 milhões de euros. Em termos de quota de mercado, e fazendo uma comparação entre Dezembro de 2005 e Junho deste ano, os recursos do Millennium passaram de 22% para 19%, o crédito de 24,8% para 20,3% e os fundos de investimento de 20,9% para 10%.
Uma das decisões mais controversas da actual administração foi a de não ter avançado com a venda do banco na Grécia, aprovada direcção anterior. A operação esteve adjudicada ao Citigroup Investment Banking e, a ter-se concretizado, teria impacto positivo de cerca de 1,8% em capital. A alienação podia ter resultado num encaixe de entre 700 e 850 milhões de euros – entre os interessados estavam o Eurobank e o Alpha Bank.
O Millennium apresentou resultados consolidados de 88,4 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, mas contabilizou um imposto diferido activo, no valor de 221,5 milhões de euros, decorrente do impacto fiscal no âmbito da reestruturação, anterior a 2007, de participações financeiras, sendo 132 milhões de euros relativos a perdas na Bital Part, que deteve a participação superior a 22% na Eureko. Sem este efeito, o resultado líquido do BCP teria sido negativo mais de 43 milhões de euros.
As operações internacionais revelaram-se a componente mais positiva para os resultados do banco, se analisarmos os mesmos por segmento: retalho em Portugal (-6,8 milhões de euros), rede de empresas (-47,4 milhões de euros), corporate e banca de investimento (-19,4 milhões de euros), private banking e gestão de activos (-15,8 milhões de euros) e negócios no exterior (95 milhões de euros)