António Costa teve uma enorme vitória: conseguiu um défice de 2,3%. Mas é preciso ter lata, que não falta a nenhum giraço da turma, para sustentar que não houve plano B. É evidente que existiu um plano B, que foi disfarçado perante a opinião pública e sempre negado pelo governo: Mário Centeno cativou tudo o que pôde e tudo o que mexia para não deixar o Estado gastar mais do que estava acordado com os parceiros de esquerda, e o investimento público foi zero.
Mas os giraços da turma conseguem dizer uma coisa e fazer o seu contrário e continuam a ter as miúdas aos seus pés. Uma coisa que os giraços do liceu também sempre conseguiram foi ter duas namoradas ao mesmo tempo e convencer ambas do seu profundo e delicado amor exclusivo. António Costa é hoje primeiro-ministro porque acordou uma solução parlamentar com o PCP e o Bloco de Esquerda.
Uma solução reduzida para os ardores mais à esquerda – tendo em conta que cumpria escrupulosamente os compromissos europeus –, mas que tinha algumas balizas. Como qualquer giraço da turma, esqueceu-se disso quando assinou o acordo de concertação social. Ou contou, como qualquer giraço, que as miúdas do PSD nunca o deixariam cair. Se até o Presidente da República, os patrões e meio mundo “do centro” o apoiam, como é que Passos Coelho, que já tinha apoiado a baixa da TSU no passado, o iria fazer? O divertido deste debate é que é agora Passos Coelho que passa por incoerente – que é, de resto –, parecendo obnubilado do debate público todo o discurso socialista contra a redução da TSU e o acordo de esquerda.
Mesmo quem defende a solução do governo fica banzada com o argumentário surrealista contra o PSD. Passos, que até aqui fez de miúda feia, não quis sair com o giraço da turma. Por uma vez, fez bem. Costa que trate do assunto com a esquerda, a quem prometeu um namoro estável.