O filme ‘I Am Legend’ retrata um cenário pós apocalíptico, onde os humanos, afetados por um vírus, se tornaram monstros que só surgem durante a noite. Ainda não nos tornámos todos virulentos, por isso esqueçamos as causas do enredo e passemos ao cenário. Neste filme, pomos Fernando Medina como protagonista, chutando Will Smith para canto.
E trocamos uma Manhattan destruída por uma Lisboa… bem, já lá vamos.
O novo protagonista é um portuense que pode virar lenda na história de Lisboa. Ora vejamos: durante 2016, Fernando Medina esburacou, partiu e fechou estradas, algumas por tanto tempo que nem nos lembramos mais do caminho.
No ano passado, Medina arrancou árvores. Só não foram mais porque, no Campo Grande, os moradores organizaram um cordão humano, conseguindo salvar 20 das 28 árvores que iriam ser abatidas em prol de um parque de estacionamento. O protesto foi tão eficaz que, além da vitória na preservação das árvores, os manifestantes até ganharam uma alcunha: ‘os irredutíveis do Campo Grande’.
Medina fez do trânsito um quebra cabeças entrecortado de fumo com cheiro a escape. O que contribuiu, provavelmente, para a umas quantas discussões conjugais – e demais – devido aos atrasos. Em casos mais extremos, poderá ter afetado os sistemas nervosos centrais dos mais suscetíveis e o stresse não faz bem a ninguém.
Obrigou os mais – e os menos! – distraídos a ter atenção onde punham os pés, sob o risco de entorses e escorregadelas que poderiam, eventualmente, terminar em quedas.
Encheu carros de poeira, de tal forma que mais pareciam vindos do festival Sudoeste quando, afinal, só tinham passado pelo Cais do Sodré.
Contribuiu para o aumento do lucro dos vendedores de pneus, mecânicos ou apenas jeitosos. E, provavelmente, das seguradoras. Partiu a cabeça a comerciantes que viram as suas lojas às moscas, já que era impossível chegar às mesmas.
Pelo meio, foi gerindo a coisa com voz de veludo, sorriso nos lábios e muita mestria. Tiremos-lhe o chapéu: este autarca não tem medo de, mesmo com um cenário apocalíptico em redor dos Paços do Concelho, responder a perguntas dos munícipes feitas no Facebook, em direto, durante quarenta minutos.
Façamos-lhe outra vénia: este presidente não hesitou em dizer à rádio TSF, durante a hora de maior trânsito, que “as obras são essenciais para a cidade e muitas ganham em ser feitas todas ao mesmo tempo”. E disse mais: “Há aqui um incómodo que é temporário, mas, uma vez concluídas as obras, não tenho dúvidas de que todos teremos uma cidade melhor”. E ainda rematou com um “valerá a pena”.
Elogiemos só mais um pouco: depois de as obras terminarem, poderemos descer do Chiado ao Cais e ver o rio, aquela entidade que durante tantos anos parecia não emoldurar a cidade.
Teremos mais lugares de estacionamento – para sermos concretos, serão sete mil. Só no primeiro trimestre de 2017, vão ser inaugurados onze parques no Areeiro, Penha de França e Santa Catarina. Outros onze parques têm abertura prevista para o segundo e terceiro trimestre do próximo ano.
E, mesmo que os nossos carros tenham ficado incapacitados depois de um ano de rally, a gestão da Carris pertence agora à câmara, que promete passes mais baratos e um aumento do número de carreiras.
Caso não seja fã do metro ou do autocarro, o presidente até já anunciou que o elétrico 24 – parado desde os os 90 – vai ser reativado.
Se não usar carro, não quiser o metro, detestar o autocarro e abominar o elétrico, saiba que pode ir de bicicleta: em 2017 a cidade vai ter o dobro das ciclovias.
Mesmo que prefira andar a pé, a câmara também já repavimentou 216 arruamentos, num total de 80 km viários.
Se Medina ganhar as autárquicas no próximo ano, bem pode puxar para si o epíteto de lenda: a lenda do homem que estropiou Lisboa, mas que a transformou numa cidade suficientemente boa para, pela primeira vez, ser o autarca eleito pelos lisboetas.