Eles adoram-se. Não é exatamente o amor paixão que juntava Humphrey Bogart e Ingrid Bergman no filme da vida de metade do mundo, “Casablanca”. Mas une-os uma simpatia mútua nascida nos bancos da Faculdade de Direito de Lisboa, quando António Costa era estudante de Ciências Jurídico-Políticas e Marcelo Rebelo de Sousa seu professor. A relação tem, portanto, mais de 30 anos.
De resto, há uma razão forte para António Costa se ter estado mais ou menos nas tintas para as presidenciais – a gestão por parte da direção do PS da campanha de Sampaio da Nóvoa, o candidato preferido da direção, foi um desastre e a candidatura de Maria de Belém dividiu os socialistas. A razão é que António Costa estava convencidíssimo de que Marcelo Rebelo de Sousa daria um excelente Presidente da República, com quem ele poderia trabalhar em sossego. E é genericamente isso que tem acontecido.
Na realidade, como diz a canção mais famosa de Casablanca, “As Time Goes By”, tudo isto é sempre a mesma velha história: uma luta por amor e glória, por sobreviver ou morrer.
E na luta por amor e glória nos tempos que correm, Marcelo e Costa são o par perfeito. É muito provável que a luta continue a ser bem sucedida em 2017, já que o Presidente da República que, inicialmente, tinha marcado as autárquicas como o fim de um ciclo político, decidiu estender o prazo. Aguarda-se que o ano que vem traga mais imagens simbólicas de relação aparentemente quase perfeita que junta Marcelo e Costa. No ano que passou, a imagem de António Costa a segurar o guarda-chuva para proteger Marcelo Rebelo de Sousa da intempérie durante os festejos do 10 de junho em Paris ficou para a história. Como ficou, mais recentemente, a imagem de Marcelo a guiar o automóvel com Costa a seu lado. Apesar das divergências em vários assuntos – que se prolongarão por 2017 – Costa e Marcelo sofrem ambos do qualificativo que Marcelo aplicou a Costa: são ambos “otimistas irritantes” e isso refletiu-se em parte no descongestionamento da vida política portuguesa, depois de quatro anos de austeridade aplicada por um governo “castigador” até no discurso.
Mas, tal como Humphrey Bogart e Ingrid Bergman no filme “Casablanca” – ou Rick Blaine e Ilsa Lund, o nome das personagens – nada garante que o amor perfeito não acabe em separação.
Em 2017 talvez ainda não se notem os primeiros sinais de que o melhor para ambos – tal como para Ilsa e Rick – é não ficarem juntos para o resto da vida. Há várias circunstâncias em jogo: enquanto Pedro Passos Coelho for líder do PSD, funciona como seguro de vida para o estreitar da relação entre Marcelo e Costa. Afinal, Marcelo e Passos Coelho – apesar do almoço que aconteceu no dia 29 de dezembro – não se podem ver à frente. Marcelo não perdoa a Passos Coelho o ter feito tudo o que estava ao seu lacance para impedir que fosse ele o candidato apoiado pelo PSD.
Toda a gente se lembra da famosa moção de estratégia aprovada no congresso em que Passos afirmava que nunca o PSD apoiaria um candidato “catavento” – o fato era feito à medida de Marcelo, o que levou o professor de Direito nessa altua a decidir retirar a sua candidatura. Passos não perdoa a Marcelo coisas que aconteceram há quase 20 anos – quando Passos Coelho entrou no congresso que ia eleger Marcelo Rebelo de Sousa líder do PSD como um dos seus principais apoiantes e saiu zangado com o líder recém-eleito. E, claro, não perdoa todas as críticas semanais que o comentador Marcelo fez ao governo PSD/CDS.
Enquanto Passos for líder do PSD, o líder favorito de Marcelo será sempre Costa – é um caso de luta pelo amor e glória, claro. Evidentemente que Marcelo gostaria de repetir o feito de Mário Soares, que conseguiu na sua reeleição o apoio do PS e do PSD de Cavaco Silva, tendo obtido 70% dos votos dos portugueses em 1991. E se Marcelo mantiver uma relação de com o governo PS, vai ser difícil aos socialistas dizerem que não.
Portanto, “no matter what the future brings/as time goes by”, sabemos que é sempre a mesma velha história, uma luta por amor e glória. Um dia haverá uma separação: Rick e Ilsa também não podiam ficar juntos para sempre.ra sempr