Uma das boas recordações que guardo de uma viagem a Florença que fiz no início deste século é a de andar de bicicleta em plena Piazza della Signoria. Descrever voltas e mais voltas naquela praça emblemática enquanto apreciava o Palazzo Vecchio, a fonte de Neptuno, o Perseu e a cópia do David proporcionou-me uma sensação de liberdade e de alegria que poucos turistas devem experimentar.
Faz sentido a aposta que está a ser feita nas ciclovias e o encorajamento do uso da bicicleta como meio de transporte em Lisboa. As bicicletas não poluem, podem ajudar a reduzir o trânsito e até fazem bem à saúde de quem anda nelas. Lisboa tem algumas colinas, é verdade, mas também tem zonas planas que convidam a pedalar, tendo-se criado já corredores de longos quilómetros junto ao rio, por exemplo. Não admira que andar de bicicleta se tenha tornado moda e que as lojas de desporto estejam cheias delas, mas também de equipamento e acessórios.
Só há um problema: é que quantos mais corredores ou ciclovias se fazem, mais bicicletas aparecem nas estradas. E aí, apesar da sua aparência inofensiva, representam um perigo enorme. Quer para os próprios ciclistas, que já assisti a comportarem-se como verdadeiros kamikazes, quer para os automóveis, que têm de se desviar dos pequenos veículos e assim aumentam o risco de acidentes.
A verdade é que muitos ciclistas querem andar na estrada, mas acham que as regras do trânsito não são para eles. Além disso, uma bicicleta vê-se mal e anda devagar. Muito devagar. O que para ela já é uma velocidade assinalável, 20 ou 25 km/h, para um automóvel é estar praticamente parado. Basta pensar no seguinte: se um carro de uma escola de condução já provoca o transtorno que provoca – e vai a 40 ou 50 km/h –, agora imaginem uma bicicleta a metade dessa velocidade…
Bicicletas e automóveis são como água e azeite. Não existe uma forma harmoniosa de os misturar. Por isso, ao mesmo tempo que se fazem ciclovias e se criam melhores condições para os ciclistas andarem na cidade, devia desencorajar–se de forma muito séria o uso de bicicletas na estrada. Ou muito me engano – e espero sinceramente que sim – ou suspeito que, de outra forma, o número de acidentes vai disparar.