Uma estratégia suicida


É mais que tempo de o PSD despertar do torpor em que se deixou cair e começar a apresentar as suas candidaturas às autárquicas


As eleições autárquicas são um momento-chave para testar a solidez de qualquer solução governativa. Vários governos em Portugal, como o da AD em 1982 ou o do PS em 2001, caíram porque os partidos que os apoiavam tiveram um mau resultado nas autárquicas. Por isso, se o PSD tem legitimamente alguma razão de queixa por não o terem deixado governar depois de ter ficado à frente nas eleições legislativas, deveria ter-se concentrado em derrotar os partidos da geringonça nas autárquicas. E, neste âmbito, uma vitória em Lisboa e Porto era crucial pelo simbolismo que estas duas cidades têm para a política nacional.

Infelizmente, no entanto, o PSD parece viver a olhar para o passado, sempre a relembrar o seu governo, parecendo incapaz de apresentar qualquer estratégia de futuro. Precisamente em Lisboa, onde já há muito tempo deveria estar no terreno com uma candidatura ganhadora, colocou-se antes na posição humilhante de pedir insistentemente a Santana Lopes para que se candidatasse, apesar dos sucessivos sinais negativos que este ia dando. É óbvio que, tendo sido Santana Lopes candidato a Lisboa há 15 anos, a sua candidatura soaria hoje como o regresso do Conde de Monte Cristo. Por isso Santana Lopes a rejeitou e bem, mostrando que tem muito mais senso político do que aqueles que apelavam para que se voltasse a candidatar.

É mais que tempo de o PSD despertar do torpor em que se deixou cair e começar a apresentar as suas candidaturas às autárquicas. A manter-se neste ritmo, corre o risco de ter uma derrota humilhante nessas eleições, deixando o país entregue à geringonça por muitos anos. Nenhum líder partidário tem o direito de conduzir o seu partido a uma estratégia suicida. Esperemos, por isso, que o PSD abandone rapidamente este caminho.

 

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa

Escreve à terça-feira