A polémica estalou durante o fim de semana, quando um artigo sobre ideologia de género publicado na edição deste mês da revista Família Cristã começou a circular nas redes sociais.
No texto, a psicóloga Maria José Vilaça, dirigente da Associação dos Psicólogos Católicos (APSIC) – uma associação de âmbito diocesano – usou como comparação a homossexualidade e a toxicodependência para fazer valer o seu ponto de vista: o de que os pais não têm que aceitar a homossexualidade para aceitar um filho gay.
“Eu aceito o meu filho, amo-o se calhar até mais, porque sei que ele vive de uma forma que eu sei que não é natural e que o faz sofrer. É como ter um filho toxicodependente, não vou dizer que é bom”, disse a psicóloga.
Maria José Vilaça explicou-se no sábado na sua página de Facebook. “Leram o texto original? O que disse é que perante um filho que tem um comportamento com o qual os pais não concordam, devem na mesma acolhê-lo e amá-lo. A toxicodependência é apenas um exemplo de comportamento que por vezes leva os pais a rejeitar o filho. Não é uma comparação sobre a homossexualidade mas sobre a atitude diante dela”. Aliás a pergunta da jornalista que me entrevistou foi mesmo ‘O que diria a uns pais com um filho homossexual?””.
Ontem ao fim da tarde, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, disse crer que a explicação que Maria José Vilaça deu já é suficiente. “Diante das situações que podem causar perturbações nas famílias, temos que agir com calma, responsabilidade e respeito pelos outros. Não creio que seja preciso acrescentar mais nada à explicação que ela deu”, considerou. As declarações foram proferidas na Universidade Católica Portuguesa, à margem do lançamento do seu novo livro, “Joga-se Aqui o Essencial”.
Ordem abre inquérito Ainda assim, após receberem dezenas de denúncias, a Ordem dos Psicólogos (OPP) anunciou no domingo a abertura de um inquérito à psicóloga, “mesmo tendo em consideração o esclarecimento ulterior dado pela própria”. “Tendo por base estas normas [deontológicas] e princípios, as dezenas de queixas que nos chegaram nas últimas horas e o facto da dra. Maria José Vilaça ter falado a título profissional, a OPP sublinha que não se revê nas afirmações proferidas e adianta que estas não representam a opinião da OPP”, considerou a direção da entidade.
ILGA Poucas horas depois, a associação Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (ILGA) Portugal anunciou que ia apresentar “uma queixa junto do Conselho Jurisdicional da Ordem dos Psicólogos Portugueses, por infração do respetivo código deontológico” contra Maria José Vilaça. No entanto, a ILGA congratulou a OPP pela posição emitida no comunicado.
Ontem, os católicos homossexuais também reagiram à controvérsia. No blogue “Rumos Novos”, Pedro Leote, coordenador do projeto homónimo, escreveu que “o exemplo encontrado, ainda que muito infeliz, mais não pretendeu do que sublinhar aquela necessidade de amor e acolhimento, mesmo na discordância com o facto: a homossexualidade, por um lado, e a toxicodependência, por outro”.
Realçando que a comparação usada pela psicóloga é infeliz, Pedro Leote diz que a Rumos Novos nota nas declarações “o apelo ao acolhimento e amor dos pais por qualquer filho ou filha que seja homossexual, ainda que não concordando estes com essa mesma orientação sexual. Parece-nos ser este o caminho a seguir: amar e acolher genuinamente”.