Estávamos em 2008 quando, pela primeira vez, era eleito um presidente dos EUA chamado Barack Hussein Obama, o primeiro presidente negro, o candidato da esperança e da mudança, com uma história de vida única que materializava uma rutura com a norma: casado com uma descendente de escravos, de origem modesta, com trabalho, esforço e dedicação estuda nas melhores universidades até conquistar a Sala Oval. O maior mérito de Obama talvez tenha sido a inspiração que essa história representou para os eleitores e a sua rejeição absoluta de qualquer tipo de pessimismo ou de negativismo. Tranquilo, seguro, carismático, Obama arrebatou o mundo, que exaltou a sua vitória em termos messiânicos, acreditando na “mudança”. Porém, o que significa hoje, política e moralmente, essa “mudança”? A resposta é difícil, mas creio que em parte tem sido dada por esta indecorosa campanha presidencial, que institui um momento de forte desesperança nacional, de desilusão democrática e insatisfação popular, marcando da pior forma o fim da promissora presidência de Obama.
Dir-me-ão que não é justo culpar Obama por ter como hipotéticos sucessores os piores candidatos de sempre, com taxas de popularidade bastante reduzidas (Hillary está em segundo lugar e Trump é o pior de sempre). Ou que eram demasiados os desafios colocados pela polarização e divisão da sociedade americana. Certo, porém, é que a um candidato capaz de criar expetativas tão altas exigia-se que não falhasse: as grandes expetativas podem causar trágicas desilusões. Porém, Obama defraudou os anseios de muitos dos seus apoiantes, algo que o próprio reconheceu em várias intervenções. Depois deste falhanço messiânico, qualquer candidato seria válido.
Ainda assim, atribuir a descrença geral e o cinismo crescente dos americanos exclusivamente a uma frustração provocada por Obama é excessivo. Esta campanha, além de contribuir para a degradação crescente, sobretudo nas “redes”, do debate público, expôs aos americanos o lado obscuro da política e o comportamento vergonhoso de algumas instituições democráticas: a falta de seriedade e transparência do comité nacional democrático a gerir a candidatura de Bernie Sanders; a confirmação de que magnatas como Trump vigarizam os impostos; as fraudes e a falta de transparência da suposta filantropia da fundação dos Clinton; a discrepância das suas posturas em público e privado, nomeadamente com grupos financeiros como o Goldman Sachs; a promiscuidade das interações entre as máquinas de campanha e os media revelada, entre outros casos, pelo envio antecipado, por Donna Brazile, de questões que seriam colocadas a H. Clinton apenas em debate; e, por último, a postura ambígua do FBI em relação à candidata democrata, com a aproximação da data das eleições.
Blogger, Escreve à terça-feira