O jornalismo e os anónimos do PS


Proença de Carvalho, amigo pessoal de Sócrates, é administrador de um grupo que faz editoriais de jornal idênticos a textos de João Galamba. Que coincidência.


Proponho um exercício.

Dia 1 de novembro, na terça-feira desta semana, João Galamba escreveu: “A questão aqui nem é essa; apenas que o Paulo Ferreira (e outros) compara alhos com bugalhos”.

Dia 2 de novembro, um dia depois do porta-voz do Partido Socialista escrever a acusação, o editorial do Diário de Notícias dizia: “Gente por quem tenho consideração, como o jornalista Paulo Ferreira, a alinhar na velha discussão sobre alhos que comparam com bugalhos”.

Uma coincidência e pêras, não é? A mesma expressão popular, o mesma tema e o mesmo jornalista visado, com meras horas de diferença entre a opinião de João Galamba e o editorial de um jornal.

O diretor de uma publicação centenária como o DN colocar-se na posição de escrever uma opinião em que praticamente cita Galamba é algo bizarro; em especial devido à conhecida relação de proximidade do grupo que detém o jornal e José Sócrates, tendo João Galamba sido recrutado pelo próprio Sócrates para as tropas do PS.

Outra bela coincidência.

Aqui, vale a pena recordar um texto do José Manuel Fernandes: “Sabemos que Proença de Carvalho é hoje o homem forte da administração do grupo e que os órgãos de informação da Global Media têm sido utilizados, com pouco ou nenhum escrutínio, por José Sócrates para difundir as suas mensagens”.

Proença de Carvalho, amigo pessoal de Sócrates, é administrador de um grupo que faz editoriais de jornal idênticos a textos de João Galamba. Ainda é só coincidência?

Diga-se o que se disser sobre a questão, há um pormenor a realçar. O editorial é assinado. Dá a cara e o nome. Assume a responsabilidade, independentemente de o podermos considerar mais ou menos imparcial. Sujeita-se a contraditório como qualquer pessoa séria que assine os seus artigos com o seu nome e não, por exemplo, como “Miguel Abrantes”.

É uma estratégia que contrasta com outra presença do PS na imprensa portuguesa.

Deputados socialistas com o currículo académico do referido João Galamba e com a assumida veia democrática de Isabel Moreira apoiam páginas anónimas de fiscalização à imprensa. Estas páginas são anti-democráticas por razões muito simples.

 A liberdade de imprensa e a liberdade de expressão são e estão irmanadas. A primeira só tem valor acompanhada pela segunda, isto é, a liberdade de escrever notícias só tem valor se quem as lê tiver a liberdade de questionar essas notícias. Quanto mais escrutinada for a notícia, maior o seu valor de verdade.

Essa liberdade no espaço de participação cívica e opinião pública é fundamental para manter os cidadãos devidamente informados. Os jornais devem escrutinar-se mutuamente e os leitores devem questionar o que lêem. Esse escrutínio não pode ser conspurcado por páginas anónimas sem responsabilização, de juízo arbitrário e de uma suposta superioridade moral.

A democracia representativa e a liberdade que a constitui não permitem jogos de sombras. Isso, escreveu um valoroso deputado socialista, faz dessas páginas “pides de esquerda”.

A partir do momento em que figuras de proa como Galamba e Moreira endorsam estas páginas, a identidade histórica do PS como fundador da nossa democracia fica manchada.

 Depois das alegadas transmissões de informações entre o governo de Sócrates e blogues anónimos, é lamentável que o Partido Socialista não se proteja de semelhantes cobardias e que os seus membros não se coíbam de as legitimar. Lamentável, mas não surpreendente. 

Escreve à sexta-feira


O jornalismo e os anónimos do PS


Proença de Carvalho, amigo pessoal de Sócrates, é administrador de um grupo que faz editoriais de jornal idênticos a textos de João Galamba. Que coincidência.


Proponho um exercício.

Dia 1 de novembro, na terça-feira desta semana, João Galamba escreveu: “A questão aqui nem é essa; apenas que o Paulo Ferreira (e outros) compara alhos com bugalhos”.

Dia 2 de novembro, um dia depois do porta-voz do Partido Socialista escrever a acusação, o editorial do Diário de Notícias dizia: “Gente por quem tenho consideração, como o jornalista Paulo Ferreira, a alinhar na velha discussão sobre alhos que comparam com bugalhos”.

Uma coincidência e pêras, não é? A mesma expressão popular, o mesma tema e o mesmo jornalista visado, com meras horas de diferença entre a opinião de João Galamba e o editorial de um jornal.

O diretor de uma publicação centenária como o DN colocar-se na posição de escrever uma opinião em que praticamente cita Galamba é algo bizarro; em especial devido à conhecida relação de proximidade do grupo que detém o jornal e José Sócrates, tendo João Galamba sido recrutado pelo próprio Sócrates para as tropas do PS.

Outra bela coincidência.

Aqui, vale a pena recordar um texto do José Manuel Fernandes: “Sabemos que Proença de Carvalho é hoje o homem forte da administração do grupo e que os órgãos de informação da Global Media têm sido utilizados, com pouco ou nenhum escrutínio, por José Sócrates para difundir as suas mensagens”.

Proença de Carvalho, amigo pessoal de Sócrates, é administrador de um grupo que faz editoriais de jornal idênticos a textos de João Galamba. Ainda é só coincidência?

Diga-se o que se disser sobre a questão, há um pormenor a realçar. O editorial é assinado. Dá a cara e o nome. Assume a responsabilidade, independentemente de o podermos considerar mais ou menos imparcial. Sujeita-se a contraditório como qualquer pessoa séria que assine os seus artigos com o seu nome e não, por exemplo, como “Miguel Abrantes”.

É uma estratégia que contrasta com outra presença do PS na imprensa portuguesa.

Deputados socialistas com o currículo académico do referido João Galamba e com a assumida veia democrática de Isabel Moreira apoiam páginas anónimas de fiscalização à imprensa. Estas páginas são anti-democráticas por razões muito simples.

 A liberdade de imprensa e a liberdade de expressão são e estão irmanadas. A primeira só tem valor acompanhada pela segunda, isto é, a liberdade de escrever notícias só tem valor se quem as lê tiver a liberdade de questionar essas notícias. Quanto mais escrutinada for a notícia, maior o seu valor de verdade.

Essa liberdade no espaço de participação cívica e opinião pública é fundamental para manter os cidadãos devidamente informados. Os jornais devem escrutinar-se mutuamente e os leitores devem questionar o que lêem. Esse escrutínio não pode ser conspurcado por páginas anónimas sem responsabilização, de juízo arbitrário e de uma suposta superioridade moral.

A democracia representativa e a liberdade que a constitui não permitem jogos de sombras. Isso, escreveu um valoroso deputado socialista, faz dessas páginas “pides de esquerda”.

A partir do momento em que figuras de proa como Galamba e Moreira endorsam estas páginas, a identidade histórica do PS como fundador da nossa democracia fica manchada.

 Depois das alegadas transmissões de informações entre o governo de Sócrates e blogues anónimos, é lamentável que o Partido Socialista não se proteja de semelhantes cobardias e que os seus membros não se coíbam de as legitimar. Lamentável, mas não surpreendente. 

Escreve à sexta-feira